terça-feira, 18 de junho de 2024

Paz dos quartéis é a melhor conquista do Lula 3.0, Elio Gaspari, FSP

 Para quem viveu quatro anos de sobressaltos com o ex-capitão falando no "meu Exército", uma das melhores coisas que aconteceu foi a costura do ministro da Defesa, José Múcio, com os três comandantes da Força, sobretudo com o general Tomás Paiva, do Exército.

Os dois tocam de ouvido e falam pouco. Quando falam não põem bravatas na mesa.

Pode parecer exagero, mas essa paz dos quartéis é a melhor conquista do Lula 3.0.

Tomás Paiva e José Múcio Monteiro, um em traje militar e outro em traje civil, compartilham um abraço, transmitindo uma sensação de respeito mútuo e camaradagem.
O comandante do Exército, Tomás Paiva, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa na Câmara dos Deputados, em Brasília - Gabriela Biló - 17.abr.24/Folhapress

A ELEIÇÃO DE SÃO PAULO

As eleições municipais não são prévias das disputas presidenciais, mas o pleito de 2020 na cidade de São Paulo indicou que o bolsonarismo havia perdido o vigor de 2018. Em 2022, Lula e Fernando Haddad, seu candidato ao governo, ganharam no município de São Paulo, com alguma folga.

Sabe-se lá o que virá das urnas em outubro, mas é possível colocar um palpite na mesa.

Se Guilherme Boulos (PSOL-PT) levar a prefeitura, a reeleição de Lula será provável. Se Ricardo Nunes (MDB) for reeleito, ela se tornará improvável.

Se a deputada Tabata Amaral chegar ao segundo turno, ela poderá se tornar a favorita. Nesse caso, a reeleição de Lula dependerá muito de quem será o seu adversário.

BANCADAS DO CRIME

Em silêncio, a Polícia Federal está mapeando os candidatos a vereador e até a prefeito apoiados direta ou indiretamente pelo crime organizado.

Contam-se às centenas.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

O repórter José Marques revelou que cinco ministros do Supremo Tribunal não comparecerão ao próximo evento a ser celebrado em Lisboa, sob a batuta do ministro Gilmar Mendes e de seu Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa.

São eles: Cármen LúciaLuiz FuxEdson FachinKassio Nunes Marques e André Mendonça.

Rui Costa se tornou principal suspeito em quase tudo que dá errado, Elio Gaspari FSP

 Lula e a torcida do Flamengo sempre souberam que a eleição de 2022 produziu um Congresso conservador. Com quase dois anos de governo, entrou no inferno astral das derrotas parlamentares, e cada hierarca aponta para um responsável.

A raiz dos erros vem de Lula e tem data. Em março de 2023, ele reuniu o ministério e disse o seguinte: "É importante que toda e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e possa anunciar publicamente como se fosse uma coisa do governo".

Lula e Rui Costa envolvidos em uma conversa séria. O homem à esquerda, com cabelos brancos e barba, parece estar fazendo um ponto enfático, enquanto o homem à direita, com cabelos grisalhos e bigode, ouve atentamente com uma expressão de seriedade.
O presidente Lula (PT) e o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Gabriela Biló - 15.abr.24/Folhapress

Lula achava que esse modelo de administração poderia funcionar, e Rui Costa, seu chefe da Casa Civil, acreditou. Pensou até mesmo que poderia filtrar o acesso de ministros ao presidente.

Essa Super Casa Civil só funcionou no governo do general Emílio Médici (1969-1974). Ele não queria ser presidente e não gostava de política. Assim, a administração da quitanda ficou com o professor João Leitão de Abreu, a economia com Antonio Delfim Netto e a área militar com o general Orlando Geisel. Feita essa partilha, não queria que lhe levassem problemas.

Muitos outros presidentes sonharam com essa Casa Civil poderosa. Nunca deu certo pois um cidadão que chega ao ministério não está disposto a passar pelo crivo de um de seus pares, elevado à condição de bedel. Pena que Rui Costa tenha acreditado nessa fantasia, tornando-se o principal suspeito em quase tudo que dá errado.

Lula subiu a rampa achando que foi eleito por uma frente ampla de partidos quando ele foi eleito (com uma diferença de 1,8 ponto percentual) por um arco democrático. A diferença entre o arco e a frente pode ser fulanizada na pessoa do ex-ministro Pedro Malan. Ele fez parte do arco, mas nada tem a ver com a frente. Malan vem alertando para os riscos dos gastos, mas só é ouvido por seus leitores.

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A Super Casa Civil daria a Lula liberdade de ação para exercer um protagonismo internacional. Ele tentou, sem sucesso nem mesmo na América Latina.

O problema e sua solução estão onde foram deixados por Carlos Lyra:

"Vou pedir ao meu Babalorixá
Pra fazer uma oração pra Xangô
Pra pôr pra trabalhar gente que nunca trabalhou".

Em tempo: Lula com agenda sideral e paralela é novidade. Nas suas versões 1.0 e 2.0 ele corria atrás da bola.