segunda-feira, 17 de junho de 2024

Muniz Sodré - Degeneração política, FSP

 Evento: seminário sobre a redemocratização brasileira em Washington, organizado no final dos anos 1980 pela Universidade de Maryland. Numa mesa, Darcy Ribeiro prometia entre jocosa e seriamente que, se o elegessem imperador, resolveria em três meses o problema econômico do Brasil. Maria da Conceição Tavares interrompe: "Não seja leviano, Darcy!" Ele então pergunta que êxito os economistas haviam obtido nos últimos 20 anos. Sempre autoafirmada como séria e honesta, ela responde: "Nenhum!" E contemporiza baixinho que Darcy levantava com verve o problema da decisão política.

Maria da Conceição Tavares participa de lançamento de livro no BNDES - Rafael Andrade - 13.set.2010 / Folhapress/Rafael Andrade/Folhapress

Esse pequeno episódio, ambientado num debate entre pares cordiais de uma esquerda pensante, precedia o Plano Real, contra o qual, aliás, Maria da Conceição viria a assestar equivocadamente as suas baterias, já tendo antes apoiado o malfadado Plano Cruzado. Bom, economia não é nenhuma ciência exata. Mas do episódio ressoa até hoje a lição em uma frase, "a crise brasileira é política", agora repetida nos vídeos em homenagem póstuma a Maria da Conceição Tavares, extraordinária economista (luso) brasileira, mestra de gerações, uma das maiores intelectuais que já pontuaram a nossa vida pública. Sobre a modernização tecnológica excludente dos pobres, tinha sentença definitiva: "Cada onda de modernidade é uma paulada no lombo do povo!"

Maria perfilou a falange de Celso Furtado e de gente que não dissociava economia de desenvolvimento social, pressuposto vigente no pensamento progressista antes da financeirização, que trouxe consigo o neoliberalismo paulista. Esse pensamento arrefeceu, mas se manteve nos anos 1990, ainda que sob a hegemonia dos setores arcaicos das forças armadas e da agropecuária, assim como sob o olhar de banda da entidade que se agigantava com a alcunha de "mercado". Mantinha-se algo que sustentou a esperançosa social-democracia dos primeiros 15 anos deste século.

Mas há esperanças sem potência, por falta de âncora na realidade. O capital passa a orientar-se pelo imaterial, deixando de associar produção a desenvolvimento social, concentrando riquezas em fluxos financeiros e abandonando a ideia de humanidade como ampliação do campo de manifestação da verdade. Desamparadas, as massas abriram-se às drogas nostálgicas, químicas e religiosas, insumos da direita radical em toda parte. É a dopamina verborrágica contra o sentido da fala. Incapaz de se contrapor, a esquerda institucional ficou surda à voz interna da política, que se expressa por militância.

Maria da Conceição temia a degeneração política. Preferiu não se reeleger para o Congresso. Por quê? "Porque esse parlamento é uma merda!" Ela era sem meias palavras. Na rede, a imagem escatológica de um vereador em sessão da Câmara carioca concretiza a metáfora.

Ruy Castro - Listas assim ou assado, FSP

 A Apple Music, que não sei bem que instrumento toca, mas parece uma potência no mundo da música, acaba de divulgar sua lista dos "10 maiores álbuns de todos os tempos". Não é algo inédito. Todo ano, poderosas instituições como a Billboard, a Rolling Stone ou a Kentucky Fried Chicken elegem os seus "10 maiores álbuns de todos os tempos". Em comum entre as listas, o fato de só elegerem discos de 1966 para cá e de serem todos de rock e cantados em inglês. Deduz-se que, antes daquela data, não havia álbuns, nem outros gêneros de música nem outras línguas.

Ora bolas, o que me obriga a me submeter ao gosto da Apple? Numa democracia, por que eu não poderia, se quisesse, fazer as minhas próprias listas?

Discos originais de Sylvia Telles, Nora Ney, Lucio Alves e Dick Farney cantando sambas-canção
Discos originais de Sylvia Telles, Nora Ney, Lucio Alves e Dick Farney - Heloisa Seixas

Boa ideia. Uma delas, que eu também chamaria de "Os 10 maiores álbuns de todos os tempos", constaria de: 1. "Getz/Gilberto" (João Gilberto e Stan Getz); 2. "Wave" (Tom Jobim); 3. "Amor de Gente Moça" (Sylvia Telles); 4. "Tamba Trio"; 5. "Nara" (Nara Leão); 6. "Elis & Tom"; 7. "Rapaz de Bem" (Johnny Alf); 8. "Baden Powell à Vontade"; 9. "O Compositor e o Cantor" (Marcos Valle); 10. "A Grande Bossa dos Cariocas" (Os Cariocas). Ou algo assim.

Antes que me acusem de ter feito uma lista só de álbuns de bossa nova, vou logo sugerindo outra, também intitulada "Os 10 maiores álbuns de todos os tempos", mas com discos de samba-canção: 1. "A Noite de Meu Bem" (Lucio Alves); 2. "Atendendo a Pedidos" (Dick Farney); 3. "Ninguém me Ama" (Nora Ney); 4. "Maysa Canta Sucessos"; 5. "Antologia do Samba-Canção" (Quarteto em Cy, vols. 1 e 2); 6. "Brasil Samba-Canção" (Doris Monteiro e Tito Madi); 7; "Os Grandes Sucessos de Jamelão"; 8. "Silvia" (Sylvia Telles); 9. Agostinho Canta Sucessos" (Agostinho dos Santos); 10. "Miltinho é Samba". Ou algo assado.

Agora é a sua vez. Não concorde com a Apple e muito menos comigo. Faça a sua própria lista e seja muito mais feliz.

Ex-presidente da Petrobras defende exploração de petróleo na margem equatorial, FSP

 Em entrevista ao podcast Diálogos com a Inteligência, que será lançado neste domingo, 16, o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco criticou o populismo na gestão de estatais.

"Quando se interfere em uma empresa em que o Estado é o controlador e com direcionamentos que causarão prejuízos àquela empresa, o objetivo é redistribuir renda, não se quer gerar renda, nem crescimento econômico", afirmou, ao podcast, produzido pela Insight e pelo Canal Meio.

Ele também defendeu a exploração de petróleo na Margem Equatorial, que inclui trechos na Amazônia.

"Eu vejo que a Petrobras ainda tem algumas décadas no petróleo. A Margem Equatorial, à qual o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama se opõem tão ferozmente, é fundamental para a continuidade dos negócios da Petrobras", afirmou.

Homem com cabelos grisalhos fala ao microfone em púlpito; ao fundo há uma tela que diz "Petrobras em compliance"
O ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco - Sergio Moraes-19.fev.2021/Reuters