sexta-feira, 24 de maio de 2024

Bruno Boghossian - Prefeito de Porto Alegre encontrou um culpado pelas enchentes, FSP

 BRASÍLIA

O prefeito de Porto Alegre deve ter achado que estava recebendo pouca atenção na tragédia gaúcha. Com novos alagamentos na cidadeSebastião Melo (MDB) deu uma entrevista coletiva desastrosa. Disse que a chuva desta quinta-feira (23) foi intensa demais e se queixou de moradores que jogam lixo nas ruas.

Melo apontou o dedo para outro lado, mas direcionou os holofotes para o próprio gabinete. Todo município tem problemas com lixo acumulado. Em vez de culpar a população, ele poderia explicar por que sua administração não providenciou um reforço significativo na limpeza. "Talvez tenha que aumentar?", indagou.

Na entrevista, um auxiliar indicou que uma concessionária desligou a energia de casas de bomba que fariam o escoamento da água. A prefeitura, segundo ele, não foi avisada. Melo não quis lembrar que votou a favor da privatização da empresa quando era deputado estadual.

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), durante entrevista sobre as enchentes no município - Nelson Almeida/AFP

Em seu quarto ano de mandato, com baixos investimentos em prevenção, o prefeito lançou uma proposta pouco inovadora ao dizer que o sistema de drenagem do município "precisa ser revisitado na sua totalidade". Depois, inspirado no governador Eduardo Leite, justificou a prioridade que faltou ao tema. "As agendas de uma cidade são múltiplas. A drenagem é uma delas", afirmou.

Certas reações a eventos críticos dessa natureza são um talento de uma categoria especial de políticos. Quando administrava a capital paulista, Celso Pitta afirmou que a responsabilidade por alagamentos era de "maus cidadãos" que jogavam lixo nas ruas. Quando cansou de reclamar do povo, passou a culpar o "descaso do governo estadual"

Outros preferem o deboche para escapar da responsabilidade. Em 2018, Marcelo Crivella deu de ombros para alagamentos no Rio. "Lá em São Paulo também tem enchente. Vão até lançar um programa novo: o Balsa Família", disse ao jornal O Globo. Em 2020, afirmou que a culpa era da população que atirava lixo nos rios. Naquele dia, um cidadão lançou uma bola de lama no prefeito.

A triste situação da Escola Estadual de São Paulo, FSP

 Douglas Nascimento

SÃO PAULO (SP)

Mato alto, muito lixo, cheiro forte de urina, moradores de rua e consumo de entorpecentes. Essa poderia ser a rotina de uma caminhada pelas ruas da Cracolândia, no entanto é a rotina de todos os dias de parte dos alunos que frequentam a Escola Estadual de São Paulo, no bairro do Brás, região central de São Paulo.

Fundada em 1894 com o nome de Gymnasio do Estado de São Paulo essa longeva instituição de ensino sempre foi considerada uma espécie de elite das escolas públicas paulistas, com pais e mães em franca disputa para colocarem seus filhos para estudarem lá. Ali passaram nomes como Cásper Líbero, Paulo Setúbal, Orígenes Lessa e o ator Francisco Cuoco, entre tantos outros. Todos eles hoje se retornassem a escola ficariam aborrecidos. O motivo? Parte da escola está em ruínas.

escola pública
Ala da Escola Estadual de São Paulo que está em completo estado de abandono, servindo de abrigo para usuários de drogas e moradores de rua. - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

A edificação atual não é a primeira da escola que trocou de endereço e nome várias vezes até chegar na atual denominação de Escola Estadual de São Paulo.

O projeto arquitetônico da instituição de ensino é de vanguarda e foi objeto de estudo de alunos de arquitetura nas universidades brasileiras. Projetada na metade da década de 1950 pelos arquitetos Rubens Cardieri e Rubens F. Azevedo, a escola foi construída pela construtora Alberto Badra, Miguel Badra Jr & Cia Ltda e foi entregue em 1958.

escola pública
Na época de sua inauguração, em 1958, escola era a mais moderna do Estado de São Paulo - José Moscardi/Revista Acrópole

Com entrada pela rua da Figueira, sua inauguração fez parte dos diversos projetos de modernização e melhoramentos do parque D.Pedro II que analisados hoje em dia, décadas mais tarde, visivelmente não deram certo. O parque é subutilizado ao extremo, quase ausente de público e com viadutos agitados e muita poluição sonora e do ar ao seu redor, fruto da política rodoviarista de uma época que se privilegiava automóveis ao invés de pessoas.

Sua arquitetura arrojada, escondida pelas árvores frondosas e os viadutos no seu entorno, passa despercebida das pessoas. No entanto se vencer estes obstáculos e conseguir ver a escola vai notar muita semelhança com as edificações do parque Ibirapuera, com os prédios das salas de aulas, teatro e ginásio respectivamente lembrando os pavilhões, a oca e o auditório do Ibirapuera, quase uma espécie de réplica.

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A Escola Estadual de São Paulo (à esquerda) em fotografia aérea de 1971. Estrutura arquitetônica é similar ao que se encontra no parque Ibirapuera. - Divulgação

Contudo o encanto ficou no passado. Reformada pelo governo estadual em 2019, chega a ser difícil de crer, pelo estado de conservação de parte das instalações, que esta manutenção realmente aconteceu. Depois das obras parte das salas de aulas foram desativadas, em um projeto que na época dizia que entregaria esse espaço para funcionar algo relacionado a segurança pública, o que nunca aconteceu.

Fotografia feita por drone da Escola Estadual de São Paulo, no parque D.Pedro II, que está 50% ocupada e 50% abandonada. A escola fica escondida com a grande quantidade de árvores do local. - Gabriel Cabral/Folhapress

O cenário que se encontra ao observar a escola pela avenida do Estado, onde não há árvores para esconder a situação, é de horror. Pessoas consomem drogas livremente onde a poucos metros ocorrem aulas. Pilhas de lixo acumulam-se por dias sem qualquer remoção, o mato quase nunca é cortado e as grades que cercam o acesso à escola estão torcidas e derrubadas, sendo fácil o acesso de pessoas que poderiam causar tragédias similares ao ocorrido nas escolas estaduais de Vila Sônia Jardim Sapopemba, aqui mesmo na capital paulista. Se eu consegui entrar na escola por um portão aberto vencido após passar pelas grades caídas, o que impede de alguém armado entrar e fazer um massacre?

escola estadual de são paulo
Maquete da Escola Estadual de São Paulo, cujos traços arquitetônicos lembram as edificações existentes no parque Ibirapuera - Revista Acrópole

O número de alunos da escola também é aquém da capacidade do prédio. Projetada para comportar até 3.000 alunos em três turnos, hoje recebe pouco mais de 200 em turno único, número que poderia aumentar se a parte abandonada da escola voltasse a funcionar.

Em um estado em que o governador apressa a Assembleia Legislativa a aprovar um projeto de escolas cívico-militares que prevê até 100 unidades, causa estranheza e revolta ver que são incapazes de manter uma única escola, esta parte da história paulista, em pleno funcionamento.

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Lixo acumulado do lado de fora da escola, local tem consumo de entorpecentes e serve de esconderijo para ladrões que atacam veículos na avenida do Estado - São Paulo Antiga

Consultada sobre o caso, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo enviou a seguinte nota:

A Secretaria da Educação iniciou no fim do primeiro trimestre a revitalização estrutural da E.E. São Paulo. Atualmente, as áreas de alimentação e refeitório, os sanitários e a cobertura da unidade estão sendo totalmente recuperadas e modernizadas, em um investimento superior a R$ 520 mil. A previsão é que essas obras sejam concluídas no início do segundo semestre letivo. Outros R$ 100 mil já foram repassados à direção da unidade para a manutenção do prédio. O prédio escolar, ainda, conta com vigilância 24h, sistema de câmeras e iluminação adequada nas áreas de circulação, além do apoio da Ronda Escolar.

Uma equipe da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) fará uma visita na unidade para apurar as denúncias apresentadas pela reportagem. A Seduc reforça seu compromisso na revitalização e na execução de novos projetos em benefício a comunidade escolar.

Veja mais fotos da Escola Estadual de São Paulo:

Dora Kramer - Sangria compartilhada, FSP

 Enquanto se empenha no desmonte da Operação Lava Jato, enquanto se ocupa do desígnio vocalizado pelo então senador Romero Jucá em 2016 de que a "sangria" precisava ser estancada, o Supremo Tribunal Federal faz sangrar sua credibilidade junto aos brasileiros.

Não individualizo condutas, como seria esperado, pois elas são diferentes e caberia à instituição fazê-lo. Seja no exame colegiado de decisões monocráticas ou no reparo ao comportamento de magistrados alheios aos autos e/ou aos ditames da ética. Calam-se; os corretos consentem. É assim a vida.

Plenário do Supremo Tribunal Federal, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress - Folhapress

Que o STF perde a majestade só parecem ter dúvidas seus integrantes, que, ao serem de modo condenável atacados nas ruas e nas redes, cobram respeito sem se mostrarem respeitáveis. Se a contestação ao papel supremo do tribunal é danosa para a democracia, ruinosas são atitudes que dão margem à confrontação. Passa da hora de se pôr um fim a tal embate, mas a iniciativa cabe a quem detém a prerrogativa constitucional de falar por último sobre o que é legal ou ilegal no país.

Tal função requer comedimento, não se podendo exigir o mesmo dos grosseiros por natureza. Não se criam em ambiente de deferência à lógica, ao bom senso e ao porte moralmente elevado.

Ministros não fazem um favor a si mesmos quando dão margem à interpretação de que estejam prestando favores a outrem ou obtendo vantagens de cunho pessoal. Oferecem, antes, um desserviço à coletividade, aliam-se ao espírito do tempo da má educação cívica quando o ideal seria darem o exemplo oposto, visto que estão no topo.

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Olham o panorama de cima, sem dar mostras de perceberem o tamanho da erosão sofrida na sociedade e do quanto esse desgaste por ser nocivo para a imprescindível confiança nas instituições.
Na disseminação da descrença viceja o entusiasmo pela anormalidade barulhenta que confere ao autoritarismo a chance de sugerir aos incautos a pior das soluções.