No já distante 15 de maio de 2012, houve a abertura dos envelopes das propostas da licitação para a construção do polêmico projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá, que seria a principal obra de mobilidade na capital mato-grossense para a Copa do Mundo de 2014.
Então já uma obra muito questionada quanto à sua viabilidade econômica, ao valor e se seria entregue a tempo para a principal competição entre seleções de futebol do mundo, que começaria em dois anos, o governo de Mato Grosso alegou que o edital possuía uma cláusula que obrigava contratualmente a entrega da obra no primeiro trimestre de 2014.
O contrato, porém, só foi assinado em junho e exigia a entrega em 24 meses. Quase dez anos se passaram desde o prazo em que o VLT –que comprou 40 trens e 24 quilômetros de aço da Polônia– deveria ter sido entregue, mas o pouco que foi feito depois de um gasto superior a R$ 1 bilhão começou a ser desmontado no ano passado na capital mato-grossense e em Várzea Grande.
Hoje pouco resta do sistema, que chegou a ter seis quilômetros de trilhos instalados, além de cabos elétricos e catenárias (postes feitos de metal), mas ele ainda gera polêmica política.
No entorno do aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, que abrigaria a estação Aeroporto e seria ponto de chegada e partida dos usuários, comerciantes ouvidos disseram que era preciso ter uma solução, não importando qual fosse.
"Esses tapumes [que estavam fechando a estação quando a Folha esteve no local] precisam sair daí, seja com ônibus, com trem ou com nada", disse o comerciante Cláudio Alexandre Sousa.
Ele disse que o comércio local e os usuários do aeroporto já perderam muito nos últimos dez anos com a indefinição. "Ainda bem que o VLT da corrupção não vai existir", disse o lojista Felipe Silva.
O termo passou a ser utilizado por quem era contra a implantação do VLT devido aos gastos exagerados, às suspeitas de corrupção e ao fato de o sistema nunca ter funcionado.
O governador Mauro Mendes (União Brasil) dá o caso como encerrado desde 2020, quando o estado optou por abandonar o VLT e transformar o sistema em BRT –corredores de ônibus–, como era a proposta inicial antes de ser alterada no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).
Mendes afirma que o corredor expresso de ônibus tem custo mais baixo de implantação, ficará pronto mais rapidamente e terá tarifa mais barata.
Em agosto, foram apresentados em audiências públicas os estudos de impacto de vizinhança para a implantação dos sistemas em Cuiabá e Várzea Grande. A conclusão é que o tempo de viagem para sair do terminal, ir ao centro de Cuiabá e retornar será de 42 minutos, tempo que hoje é de uma hora e 27 minutos.
Em 19 de fevereiro, o governo começou a concretar as pistas do BRT na avenida do CPA, na capital do estado.
Apesar disso, a Prefeitura de Cuiabá anunciou no último dia 18 que o projeto do VLT Cuiabano cumpre critérios e se enquadra no Novo PAC. Na avaliação do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), opositor do governador Mauro Mendes, o VLT é mais moderno, econômico e seguro.
Em janeiro, a Justiça determinou que a prefeitura parasse de "criar obstáculos" para a implantação do BRT.
O governo do estado afirmou em 2023 que, em valores nominais, seriam necessários R$ 760 milhões para terminar o VLT, enquanto o BRT sairia por R$ 480 milhões (sem contar R$ 200 milhões para comprar 54 ônibus articulados).
LINHA DO TEMPO DO VLT DE CUIABÁ
Jun.12 Estado assina contrato com o Consórcio VLT Cuiabá por R$ 1,4 bilhão com prazo de 24 meses para as obras
Mar.14 Concedido aditivo de prazo de 12 meses para conclusão da obra (Abril de 2014)
Jun.14 Data em que o sistema deveria estar operando, conforme o cronograma inicial
Dez.14 Governo determina paralisação das obras, alegando atrasos no cronograma, entre outros problemas. O contrato foi paralisado com 30% das obras físicas feitas e gasto de R$ 1,066 bilhão
Abr.15 Sem entendimento para retomar as obras, ação conjunta do Estado e dos ministérios públicos Estadual e Federal resulta na suspensão judicial do contrato
Jan.16 KPMG apresenta relatório apontando R$ 602,7 milhões como o valor necessário para concluir as obras. O consórcio pedia R$ 1,2 bilhão
Mar.17 Após pedido do governo, KPMG apresenta cálculo atualizado, que indica a necessidade de R$ 889 milhões; após rodadas de negociação, acordo é fechado por R$ 922 milhões
Ago.17 Operação Descarrilho da PF, para investigar suposto pagamento de propina por parte do consórcio ao ex-governador Silval Barbosa; governo estadual decidiu rescindir o contrato unilateralmente com as empresas do VLT. Após a operação, gestão Pedro Taques rompe unilateralmente o contrato entre o estado e o Consórcio VLT, alegando corrupção.
Jun.19 Tribunal de Justiça de Mato Grosso manteve a rescisão unilateral do contrato entre o governo e o consórcio. As empresas recorreram da decisão ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que já negou por duas vezes os recursos.
Dez.20 O governador Mauro Mendes anuncia a substituição do VLT para o BRT
Dez.21 Governador Mauro Mendes paga quase R$ 600 milhões referente ao empréstimo com a Caixa para o VLT e quita a dívida do Estado.
Abr.22 Governador homologou o resultado da licitação em abril deste ano, no valor de R$ 468 milhões
Dez.22 Empresa do Consórcio Construtor BRT Cuiabá começa a retirada das estruturas que serviriam como suporte para cabos energizados do VLT no município de Várzea Grande