segunda-feira, 14 de março de 2022

Indústria deve fomentar novas ideias, FSP

 Josué Gomes da Silva

Empresário, é presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)

Cesar Asfor Rocha

Advogado e ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (1992-2012), é presidente do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos da Fiesp

É tão banal quanto verdadeira a afirmação de que vivemos em um mundo de transformações permanentes. A diferença é que as novidades de hoje envelhecem de modo mais rápido que nas décadas passadas. São superadas pelas sucessivas descobertas, que surgem com grande impacto, perdendo o encanto e a relevância em curto prazo.

Antes mesmo de nos acostumarmos a uma tecnologia revolucionária, ela já se torna obsoleta, não sem antes afetar o sistema jurídico e as relações econômicas, para citar apenas duas de suas consequências. Pessoas físicas, empresas, organizações públicas e privadas, governos, ONGs e entidades de classe devem procurar não perder o bonde da história.

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O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),Josué Gomes da Silva - Jardiel Carvalho - 9.dez.21/Folhapress

É por isso que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apressou-se em criar comissões temáticas no âmbito do seu Conselho Superior de Assuntos Jurídicos (Conjur). Seu propósito é proporcionar o necessário "aggiornamento" ("atualização") jurídico. Os assuntos giram em torno das áreas mais suscetíveis a transformações radicais, para as quais a indústria deve estar preparada.

As inovações tecnológicas responsáveis pela Quarta Revolução Industrial constituem preocupação central da iniciativa da Fiesp. De um lado, temos blockchain e criptomoedas; de outro, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o advento das redes 5G. São fenômenos com efeitos transversais nos espaços privado e público, cuja relevância não pode ser subestimada.

Questões ambientais também ocupam posição cada vez mais destacada na pauta nacional. Já há algum tempo é ultrapassada a ideia de que políticas públicas de sustentabilidade representem embaraços à atividade econômica. Na realidade, qualquer negligência nesse campo pode travar a expansão do agronegócio devido às justas exigências dos mercados externo e interno. Portanto, é mandatário realizar estudos jurídicos para subsidiar as decisões da indústria.

Também precisamos estar atentos às defasagens na legislação, que são fontes de litígios evitáveis. O Código Civil tem duas décadas. O de Defesa do Consumidor é ainda mais antigo, com 32 anos. Nesse tempo, surgiram desafios regulatórios que a jurisprudência, sozinha, não dá conta de enfrentar. Assim, não surpreende o número crescente de ações revisionais de contratos.

As relações trabalhistas, da mesma forma, devem estar sempre sujeitas à legislação atualizada. A reforma trabalhista de 2017 proporcionou significativos avanços, percepção comprovada pela expressiva redução de litígios. É necessário, no entanto, estimular o diálogo institucional entre a indústria, os sistemas de Justiça e os sindicatos, o que o Conjur fará em conjunto com o nosso Conselho Superior de Relações do Trabalho (Cort).

Outra frente é a inserção do setor no mercado internacional. A eficiência da iniciativa é só parte da equação. A conquista de clientes no exterior também passa pela prática aduaneira, a legislação cambial e os marcos legais em matéria de infraestrutura de transportes.

Há, ainda, que se preocupar com a arbitragem comercial. Apesar de a prática ter se consolidado nos últimos 20 anos, ainda enfrentamos uma grave, mas contornável, crise de confiabilidade no sistema.

Esses são tópicos de algumas das comissões temáticas recém-criadas pela Fiesp, na crença de que a indústria deve fomentar novas ideias, deixando as velhas e superadas sucumbirem.

Ruy Castro Não vale dizer, FSP

 

Vale dizer. Vale lembrar. Vale ressaltar. Vale destacar. Vale acrescentar. E outros vales isso ou aquilo, só mudando o verbo. Você pode não ter se tocado, mas, de há algum tempo, essas palavras estão lhe entrando pelos olhos com alarmante frequência e ocupando espaço à toa. A frase começa com "Vale dizer que ..." e segue-se o que a pessoa acha que vale dizer. Não ocorre a ela que, se dispensar o "vale dizer" e disser logo o que tem a dizer, sua informação não sofrerá nenhum prejuízo. Ao contrário, ganhará em concisão e objetividade.

É um vício de linguagem, como um tique nervoso ou uma pálpebra que dispara. E, como todo vício ou tique, brota de algum lugar no espaço e chega direto aos dedos de quem escreve, sem um estágio intermediário no nicho do cérebro onde se escolhem as palavras. A pessoa, quando se dá conta, já escreveu e, na verdade, nem se dá conta. Aliás, "na verdade" também é um desses tiques. Na verdade, por que "na verdade"? E quem garante que seja verdade? Em tempo: experimente escrever sem usar "na verdade" e veja como não lhe fará a menor falta.

"Em tempo"? Eis outra relíquia arrancada do passado e posta a circular na mídia como se já não pudéssemos passar sem. Equivale ao "vale dizer". Dá-se assim: na sequência de uma informação, sapeca-se um ponto-parágrafo e, sem qualquer motivo, começa-se o parágrafo seguinte com "Em tempo ..." --e lá vem a preciosa informação. É como se o autor temesse esquecer-se dela ou que seu espaço fosse acabar e ele não a usasse a tempo. Donde volto a sugerir: se escrever "Em tempo ...", experimente apagá-la e veja se seu conteúdo perde alguma coisa.

Alguém dirá que são implicâncias de um escriba ranzinza e que ninguém está ligando para isso. Pois devia estar. Manter a língua eficiente, como queria Ezra Pound, é obrigação de todos os que fazem uso dela.

"Fazer uso"? Epa! De todos que a usam, digo.