sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Um gigante da biodiversidade e a ética intergeraciona, Claudia Costin, FSP

 

Na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, a COP26, há cerca de um mês, David Attenborough, um naturalista britânico e ativista pela biodiversidade de 95 anos, fez a palestra de abertura.

Em sua fala, retomou um apelo à ação que fez em seu último livro, publicado em 2020, "Life on Our Planet, My Witness Statement", em que alerta para os tristes efeitos que a mudança climática e a perda de biodiversidade terão sobre nosso futuro próximo e a vida das gerações seguintes.

No início de cada um dos capítulos, que acompanham marcos de sua profícua vida, para dar um sentido de urgência, registra a data, a população mundial, as moléculas de dióxido de carbono na atmosfera e as perdas de biodiversidade.

O ambientalista, já avançado em anos, "quebrou" o Instagram ao postar pela primeira vez na rede social, foi festejado como celebridade pelos jovens num festival de rock e mais de 20 espécies foram batizadas com o seu nome, até um dinossauro —o Attenborosaurus conybeari.

Ao ler o seu livro, que denuncia, entre outros danos ao ambiente, a aceleração do desmatamento no Brasil, pensei muito na importância da construção de uma ética intergeracional, em que possamos ser corretos não só com nossos contemporâneos como com aqueles que povoarão o planeta depois de nós. Sim, precisamos usar os recursos que recebemos da natureza para termos uma vida de qualidade, mas sem esquecer dos que vivem em condições desafiadoras e dos que ainda são muito jovens ou nem sequer nasceram. Afinal, os danos ambientais acumulados poderão resultar num planeta inabitável para as gerações futuras.

Mas pensar na construção de sustentabilidade não envolve apenas mudar hábitos de consumo e renunciar a prazeres. Inclui uma solução econômica para o provável agravamento das condições de vida das populações afetadas pela interrupção de atividades potencialmente nocivas aos ecossistemas naturais, de que dependiam para viver.

Além disso, há que se tirar proveito dos recursos que os países já têm para fazer avançar um crescimento verde. Nesse sentido, o novo livro de Jorge Caldeira, com Julia Sekula e Luana Schabib, "Paraíso Restaurável", mostra o quanto o Brasil está bem posicionado para a necessária transição para uma matriz energética mais limpa, dada nossa maior disponibilidade, a despeito da recente crise hídrica, de água, vento e sol.

Se tivermos, além disso, pulso firme no enfrentamento do desmatamento e no controle de boiadas metafóricas ou literais, teremos deixado um legado ético e um futuro bem melhor para nossos netos e bisnetos. Que assim seja!


Ruy Castro - Ideias por um fio, FSP

 André Mendonça, ex-advogado-geral da União, ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública e ex-careca, teve seu nome aprovado nesta quarta-feira (1º) pelo Senado para uma vaga no STF. Os 47 votos a favor homologaram tanto o seu novo forro de cabelo quanto o de convicções. Os 32 contrários —um recorde na história desses julgamentos para o Supremo— não pareceram convencidos da firmeza nem dos pelos nem das palavras. Desconfiam de que, às primeiras escovadas e questões judiciais, as felpas lhe caiam pelas lapelas juntamente com suas novas opiniões.

Ainda não se conhece a identidade do cirurgião dermatologista responsável pelo pelame nem o processo usado —implante ou transplante. O primeiro se dá pelo plantio de fios artificiais, que têm risco de rejeição equivalente ao de ideias adotadas apenas para fins eleitorais.

André Mendonça durante a sessão na CCJ do Senado - Edilson Rodrigues/AFP

A segunda opção, talvez preferida, é o transplante de unidades foliculares da própria pessoa, extraídas da nuca, inseridas nas regiões zeradas e adubadas com células-tronco. Cada folículo compõe-se de quatro fios, glândulas sebáceas e músculos —epa!— eretores. Como se exigem milhares deles, o procedimento levou quase 12 horas, tempo que André Mendonça certamente aproveitou para decorar as espertas respostas que apresentou na arguição.

Como vimos, o homem que se ofereceu ao STF não é mais aquele que, valendo-se de uma lei caduca, tentou assustar opositores do governo de Jair Bolsonaro, entre os quais este colunista. É agora um defensor da liberdade de opinião, e por isso tolerará a suspeita, partilhada por muitos, de que seu súbito apego à democracia é tão postiço quanto sua novel crina.

Essa suspeita se funda nos menos de 30 minutos entre sua profissão de fé na laicidade do STF e a eufórica pregação religiosa ao ser praticamente carregado com uma maçã na boca por seus pares de seita. Alguns dos quais já agraciados com a queda dos primeiros fios.

Deputado do PL investigado por desvio de emenda é flagrado com maços de dinheiro, OESP

 Breno Pires/BRASÍLIA

03 de dezembro de 2021 | 13h29

Deputado Josimar Maranhãozinho é flagrado pela PF com maços de dinheiro em escritório. Foto: Polícia Federal

O deputado Josimar Maranhãozinho (PL-MA) foi flagrado manuseando uma grande quantidade de maços de dinheiro que, segundo a Polícia Federal, é resultado de um esquema de desvios de recursos de emendas parlamentares. As imagens, gravadas por uma câmera escondida pelos agentes no escritório do político em São Luís, capital do Maranhão, mostram o deputado retirando as notas de uma caixa.

A gravação foi feita em outubro do ano passado, com autorização do Supremo Tribunal Federal, e incluída no inquérito da Operação Descalabro, que apura uma complexa engrenagem de desvio de dinheiro público direcionado pelo próprio deputado a municípios maranhenses via emendas parlamentares. Relatório da PF obtido pelo Estadão aponta que o fluxo de dinheiro em espécie no escritório do político tem como origem repasses que empresas ligadas a Maranhãozinho receberam de prefeituras sob influência política do parlamentar. A imagem do flagrante foi revelada pela Crusoé e também obtida pelo Estadão.

Com ascensão meteórica na política maranhense, Josimar Maranhãozinho tem parentes e pessoas de sua confiança no comando de prefeituras locais. A suspeita da PF é de que após receber os recursos federais, esses municípios contratavam empresas ligadas ao parlamentar. De acordo com investigações da PF, a relação de parentesco e ligações pessoais de Maranhãozinho com prefeitos e secretários municipais fazem parte do modus operandi para desvio de dinheiro em áreas como saúde e infraestrutura.

Nesta semana, endereços do deputado foram alvo de uma operação de busca e apreensão. A PF investiga o desvio de R$ 15 milhões em emendas parlamentares destinados aos municípios de Araguanã, Centro do Guilherme, Zé Doca e Maranhãozinho – cidade da qual Josimar já foi prefeito. O dinheiro foi repassado às empresas Águia Farma, Medhosp e Atos Engenharia. As três firmas, diz a PF, têm entre seus sócios pessoas que possuem vínculo com o parlamentar. Também são ligadas ao deputado a Construtora Madry Ltda., a Joas Consultoria e Marketing Ltda. e a MG Empreendimentos, que atuam na área de infraestrutura.

Além das imagens, a PF também captou áudios de conversas analisou documentos no escritório que, segundo a investigação, apontam possível ingerência do deputado sobre as prefeituras que recebem suas emendas. Entre os indícios de que ele tinha o controle do que entrava e saía dos cofres municipais estão extratos bancários de prefeituras.

Em relatório do dia 4 de novembro de 2020, a PF afirma que “é possível observar no presente relatório indicativo de cometimento de ilícitos por parte do deputado federal Josimar Cunha Rodrigues (Maranhãozinho) seus funcionários e pessoas sócias de empresas que frequentam o seu escritório”. “A constatação em vídeo do parlamentar Josimar carregando maços de dinheiro no escritório, somada as conversas degravadas, indica a movimentação de valores à margem do sistema financeiro nacional. Tal constatação causa preocupação e estranheza, especialmente quando o país está às vésperas de uma eleição municipal onde o citado parlamentar aparenta ter grande influência no estado”, ressalta o relatório da polícia.

Além do desvio de dinheiro, uma das hipóteses é que os recursos estariam sendo utilizados para interferir economicamente na disputa das eleições municipais em São Luís, capital do Estado.

Diante das suspeitas de corrupção, a PF chegou a pedir a prisão cautelar e o afastamento de Josimar Maranhãozinho da Câmara dos Deputados. Mas o relator no STF, ministro Ricardo Lewandowski, não autorizou. Em decisão de 26 de novembro de 2020, Lewandowski anotou que “segundo os elementos informativos apresentados pela autoridade policial, verifica-se a presença de indícios suficientes da constituição de organização voltada, em tese, para promover desvios de recursos públicos federais, especificamente de emendas parlamentares, por meio de interpostas pessoas jurídicas, em favor do Deputado Federal Josimar Cunha Rodrigues, instrumentalizados por contratos fictícios entabulados, sem licitação, com diversos municípios do Estado de Maranhão”.

Há pelo menos dois inquéritos sigilosos abertos no Supremo para apurar o esquema, batizado de “feirão das emendas” por deputados e assessores. A suspeita é de que parlamentares cobram comissão para indicar recursos do Orçamento a uma determinada prefeitura. O dinheiro seria pago por empresas interessadas nas obras e serviços ou pelo próprio agente público.

A reportagem procurou o parlamentar e seu advogado, mas eles não se manifestaram.