quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O show do capitão é velho e ruim, Elio Gaspari, FSP

 Bolsonaro anunciou que sentará praça no PL de Valdemar Costa Neto, a quem já chamou de "corrupto" e "condenado". Para um presidente que tem como chefe da Casa Civil um senador que já o chamou de "fascista" essas são salvas trocadas entre figurantes daquilo que o general Augusto Heleno chamou de "o show político".


Bolsonaro quer o apoio desse tronco do centrão e, acima de tudo, quis evitar que Costa Neto flerte com uma coligação petista. Já o cacique do PL quer o apoio do governo para lubrificar seus candidatos ao Congresso. Nessa disputa, o resultado da eleição presidencial é secundário.

Valdemar Costa Neto observa Bolsonaro durante solenidade - Marcos Corrêa - 04.jun.21/PR

Quem acreditou nas virtudes econômicas do grafeno e da cloroquina, bem como nas "bancadas temáticas" que dariam sustentação ao governo, foi rebaixado na qualidade da empulhação que consome.

Valdemar Costa Neto é um prodígio político. Move-se no escurinho de Brasília. Quase sempre acerta, mas em 2012 tomou uma condenação de sete anos, cumpriu parte em regime semiaberto, trabalhando numa padaria cujos brioches apreciava. Vestiu o galardão da tornozeleira eletrônica e acabou beneficiado num indulto coletivo. Suas raízes eleitorais estão em Mogi das Cruzes (SP), onde ganhou o apelido de Boy. É um mestre nas armações de bastidores, capaz de passar despercebido no mundo dos holofotes federais.

(Perde, de longe, para o chinês Zhang Daqian, que chegou à sua cidade no final dos anos 1940 e lá viveu por algum tempo sem deixar rastros. Zhang acumulava dois títulos, era ao mesmo tempo um célebre pintor e o maior falsário de pinturas antigas chinesas.)

As alianças de Costa Neto têm a autenticidade das pinturas de Zhang e é bom lembrar que ainda há quem pague bastante por elas. Pelo lado do capitão, esse acerto tem um presente promissor, mas seu futuro é incerto. Não lhe faltam candidatos a ministros, mas coisas estranhas acontecem na sua máquina.

Bolsonaro elegeu-se por um partido, o quinto de sua carreira política, anunciou que criaria outro, não conseguiu, ciscou aqui e ali e finalmente chegará ao PL. Três ministros (Santos Cruz, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro) tornaram-se adversários. O "Posto Ipiranga" de Paulo Guedes perdeu 21 integrantes. Nem todos foram embora porque estavam desconfortáveis, mas todos sentiram-se melhor.

Num só dia, 35 servidores do Inep pediram o boné. Noutro, 21 cientistas devolveram os crachás da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Baixas em governos são coisa da vida, mas o mandarinato do capitão tem um aspecto inédito: ninguém ficou menor saindo. (Noves fora Ricardo Salles e Ernesto Araújo.)

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O raciocínio inverso é dramático, Paulo Guedes ficou menor. Essa perda de escala é mais significativa quando se sabe que ele acumulou ministérios e instituições com voracidade e inexperiência jamais vistas.

O general da reserva Augusto Heleno classificou a metamorfose bolsonarista como parte do "show da política", desclassificando muito mais o tipo de espetáculo em que se meteu. A política tem sempre algo de show, mas o do capitão tem o travo das velharias de má qualidade.


Nunes escolhe nome do Republicanos para vaga de secretário exonerado após apoiar Leite, FSP

 O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), escolheu João Farias como seu novo secretário de Habitação. Ele assume a vaga de Orlando Faria, que deixou a administração municipal nesta segunda-feira (8).

A saída de Faria foi selada horas após ele anunciar apoio a Eduardo Leite nas prévias presidenciais do PSDB. O governador do Rio Grande do Sul é o principal adversário de João Doria (PSDB), cujos aliados se revoltaram e entraram em contato com Nunes e com secretários da prefeitura para se queixar da postura de Faria.

O secretário municipal da Habitação, João Farias
O secretário municipal da Habitação, João Farias - Divulgação

A exoneração de Faria constará como "a pedido" no Diário Oficial do município. Tucanos próximos a Faria relatam que essa formulação da saída, a pedido, tem como objetivo preservar o prefeito. Como as críticas do secretário são a Doria, ele não teria visto problema.

Os aliados de Nunes, por sua vez, dizem que ele se incomodou com a reunião de Faria com Leite nesta segunda-feira por ter sido em dia de trabalho, mas que ele não pretendia exonerá-lo. A decisão, segundo eles, foi toda de Faria.

Orlando Faria é influente no PSDB do interior de São Paulo e organizou um encontro para receber o governador do Rio Grande do Sul no sábado (6), em São João da Boa Vista.

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Leite vem buscando o apoio dos brunocovistas para ter um trunfo simbólico sobre seu principal adversário nas prévias.

Bruno Covas foi vice de Doria durante na Prefeitura de São Paulo e tornou-se o titular quando o então prefeito decidiu deixar o cargo e concorrer ao governo do estado.

Nas contas do governador gaúcho, o sucesso nessa articulação teria duplo impacto: por um lado, ele receberia o apoio do grupo de um dos principais aliados que o governador de SP fez na política. Por outro, ficaria associado a um sobrenome potente na história tucana.

João Farias é figura influente no Republicanos em São Paulo e foi secretário municipal de Habitação entre maio de 2019 e agosto de 2020, quando deixou o cargo em meio à disputa entre Celso Russomanno, de seu partido, e Bruno Covas (PSDB) pela prefeitura de São Paulo.

Atualmente, ele ocupava o posto de secretário-executivo de Abastecimento e Agricultura na prefeitura.​

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