Bolsonaro anunciou que sentará praça no PL de Valdemar Costa Neto, a quem já chamou de "corrupto" e "condenado". Para um presidente que tem como chefe da Casa Civil um senador que já o chamou de "fascista" essas são salvas trocadas entre figurantes daquilo que o general Augusto Heleno chamou de "o show político".
Bolsonaro quer o apoio desse tronco do centrão e, acima de tudo, quis evitar que Costa Neto flerte com uma coligação petista. Já o cacique do PL quer o apoio do governo para lubrificar seus candidatos ao Congresso. Nessa disputa, o resultado da eleição presidencial é secundário.
Quem acreditou nas virtudes econômicas do grafeno e da cloroquina, bem como nas "bancadas temáticas" que dariam sustentação ao governo, foi rebaixado na qualidade da empulhação que consome.
Valdemar Costa Neto é um prodígio político. Move-se no escurinho de Brasília. Quase sempre acerta, mas em 2012 tomou uma condenação de sete anos, cumpriu parte em regime semiaberto, trabalhando numa padaria cujos brioches apreciava. Vestiu o galardão da tornozeleira eletrônica e acabou beneficiado num indulto coletivo. Suas raízes eleitorais estão em Mogi das Cruzes (SP), onde ganhou o apelido de Boy. É um mestre nas armações de bastidores, capaz de passar despercebido no mundo dos holofotes federais.
(Perde, de longe, para o chinês Zhang Daqian, que chegou à sua cidade no final dos anos 1940 e lá viveu por algum tempo sem deixar rastros. Zhang acumulava dois títulos, era ao mesmo tempo um célebre pintor e o maior falsário de pinturas antigas chinesas.)
As alianças de Costa Neto têm a autenticidade das pinturas de Zhang e é bom lembrar que ainda há quem pague bastante por elas. Pelo lado do capitão, esse acerto tem um presente promissor, mas seu futuro é incerto. Não lhe faltam candidatos a ministros, mas coisas estranhas acontecem na sua máquina.
Bolsonaro elegeu-se por um partido, o quinto de sua carreira política, anunciou que criaria outro, não conseguiu, ciscou aqui e ali e finalmente chegará ao PL. Três ministros (Santos Cruz, Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro) tornaram-se adversários. O "Posto Ipiranga" de Paulo Guedes perdeu 21 integrantes. Nem todos foram embora porque estavam desconfortáveis, mas todos sentiram-se melhor.
Num só dia, 35 servidores do Inep pediram o boné. Noutro, 21 cientistas devolveram os crachás da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Baixas em governos são coisa da vida, mas o mandarinato do capitão tem um aspecto inédito: ninguém ficou menor saindo. (Noves fora Ricardo Salles e Ernesto Araújo.)
O raciocínio inverso é dramático, Paulo Guedes ficou menor. Essa perda de escala é mais significativa quando se sabe que ele acumulou ministérios e instituições com voracidade e inexperiência jamais vistas.
O general da reserva Augusto Heleno classificou a metamorfose bolsonarista como parte do "show da política", desclassificando muito mais o tipo de espetáculo em que se meteu. A política tem sempre algo de show, mas o do capitão tem o travo das velharias de má qualidade.






![Sim, chamou [de fascista]. As coisas mudam. Eu tinha posições no passado que não assumo mais hoje. Mudei, agora nenhuma de forma radical. E quem está no Nordeste, quem não fosse Lula no passado, não tinha sucesso na política. Então isso aí para mim é coisa passada, disse Bolsonaro sobre Ciro Nogueira, convidado para o governo, em julho de 2021](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/07/23/162708720460fb6164b0987_1627087204_3x2_md.jpg)
!["Nós temos 513 parlamentares. [...]. São pouco mais de 200 pessoas. Se você afastar esse partido de centro, sobram 300 votos para mim. Se afasta cento e poucos parlamentares de esquerda, PT, PC do B e PSDB, eu vou governar com um quinto da Câmara. Não tem como governar com um quinto da Câmara", disse Bolsonaro em julho de 2021](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/07/23/162708720560fb6165c759d_1627087205_3x2_md.jpg)
!["São alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do [Geraldo] Alckmin [do PSDB] e ficou então rotulado centrão como algo pejorativo, como algo danoso à nação. Não tem nada a ver. Eu nasci de lá", disse Bolsonaro, em julho de 2021](https://f.i.uol.com.br/fotografia/2021/07/23/162708637060fb5e220c988_1627086370_3x2_md.jpg)

















