sexta-feira, 14 de maio de 2021

Maia chama ACM Neto de ‘malandro baiano’ e pede desfiliação do DEM, OESP

 O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) decidiu nesta sexta-feira, 14, formalizar o pedido de saída do DEM. No mesmo dia, Maia usou as redes sociais para fazer fortes críticas ao presidente do DEM, ACM Neto. “Malandro baiano”, “Esse baixinho não tem caráter” e “Bolsonaro presidente e ACM Neto vice-presidente. Não sobrou nada além disso” foram alguns dos ataques postados pelo deputado.

Os comentários de Maia foram enviados ao perfil no Instagram do DEM, no qual ACM Neto havia feito diversas críticas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por tirar o vice-governador Rodrigo Garcia do DEM e filiá-lo ao PSDB.

No pedido de desfiliação do DEM, encaminhado ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, Maia alegou “grave discriminação política pessoal” e disse ter sido “traído” pelo partido na eleição do seu sucessor à presidência da Câmara. Maia sustenta, ainda, ter sofrido “execrações públicas” por parte de ACM Neto, ex-prefeito de Salvador.

“A saída de Rodrigo Maia tem a ver com aquele processo de eleição na Câmara, que foi já por demais discutido”, disse ACM Neto ao Estadão.

Maia está há 23 anos no DEM – desde o tempo do antigo PFL – e está agora em negociações para se filiar ao PSD de Gilberto Kassab. Ao TSE, o ex-presidente da Câmara sustentou que houve “substancial mudança do programa partidário do DEM”, à sua revelia, na medida em que o partido saiu de uma postura de independência em relação ao governo federal para “alinhar-se e a apoiar o presidente Jair Messias Bolsonaro e o seu candidato à Presidência da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL)”.

Na campanha para sua sucessão, Maia teve aval do partido para apoiar o candidato Baleia Rossi (MDB-SP) em uma costura política capitaneada por ele que envolveu partidos de centro de direita e a oposição. Às vésperas das eleições de fevereiro, no entanto, parte da bancada do DEM declarou apoio a Lira e ACM Neto acabou liberando os correligionários.

No documento, a defesa de Maia destaca a carreira política do parlamentar, no sexto mandato como deputado, todos pelo atual partido e no antigo nome da agremiação (PFL). Entre as citações estão, em 2017 e em 2019, as eleições para presidente da Câmara, “sempre pelo Democratas”. A defesa também menciona o período de 2019 a 2020, marcado “por uma postura (pessoal e partidária) de independência e de diálogo crítico em relação ao governo do presidente Jair Bolsonaro”.

A defesa de Maia aponta, ainda, as pautas, “sobretudo as de costume”, defendidas por Bolsonaro criticadas pelo ex-presidente da Câmara ao longo do primeiro biênio de mandato presidencial. “Por outro lado, é inegável que Rodrigo Maia (e o DEM) sempre se mostrou favorável à agenda de reformas econômicas defendida por Jair Bolsonaro e pelo Ministro da Economia Paulo Guedes”, pondera.

Maia cita também sempre ter refutado a hipótese de instaurar “por mero revanchismo” processo de impeachment contra Bolsonaro “apesar da enorme pressão da opinião pública – e de vários parlamentares – para isso”. Argumentou, ainda, que as linhas política e ideológica do DEM estão muito longe de estar alinhadas às do governo Bolsonaro, “com as (várias) pautas de extrema-direita defendidas por ele, por seus Ministros e apoiadores”, além da condução do governo na pandemia.

Após apontar uma série de fatos determinantes para o seu afastamento do partido, o ex-presidente da Câmara informou Barroso, por meio de sua defesa, que “conforme bem expôs o Exmo. Min. Sérgio Banhos (do TSE) recentemente, a fidelidade partidária é construída de forma bilateral, mediante o respeito recíproco entre o filiado e a agremiação”. “Esse respeito recíproco deixou de existir por parte de DEM para com o requerente”, conclui a defesa de Maia.

Todos os Bolsonaros da CPI, Ruy Castro, FSP

 Há quase um ano (20/5/2020), publiquei neste espaço uma coluna que começava assim: “No dia ainda incerto, mas infalível, em que Jair Bolsonaro se sentar no banco dos réus, veremos se usará a tática a que se habituou no poder para se impor numa discussão —silenciar seus interlocutores cortando-lhes a palavra e repetindo aos gritos seus bordões, como ‘Chance zero!’, ‘Ponto final!’, ‘Caso encerrado!’, ‘Próxima pergunta!’, ‘O recado está dado!’, ‘Cala a boca!’ e ‘E daí?’”. De lá para cá, Bolsonaro acrescentou várias ejaculações ao seu vomitório, como “Página virada!”, “Acabou, porra!” e o imortal “Enfia no cu!”.

Na coluna, eu dizia que a Justiça não se contentaria com uma argumentação tão lacônica. “Bolsonaro”, escrevi, “terá de responder extensivamente sobre os episódios em que violou a Constituição, estuprou as instituições, acusou sem provas, jogou o povo contra o Congresso e o STF, botou órgãos de Estado a seu serviço, encobriu sujeiras dos filhos e dos asseclas, mentiu compulsivamente, agrediu minorias e promoveu o desmoronamento da nação com seu ministério de celerados. O crime de mandar os humildes para a morte, exortando-os a sair de casa em plena pandemia, talvez tenha de ser julgado por um tribunal com sede na Holanda”.

No dia 1º daquele mês de maio, o Brasil tinha 6.354 mortos. No dia 30, atingiu 28.834 —um crescimento de 353%. Alguém acreditaria que chegaríamos a números como os 430 mil de hoje? Sim: os médicos e cientistas que —e está tudo gravado— alertaram para isso o tempo todo.

Bolsonaro não está em pessoa no banco dos réus. Mas, simbolicamente, sim. É representado por cada um de seus cúmplices que se senta à mesa da CPI e que, querendo ou não, fornece informações.

Marcelo Queiroga foi Bolsonaro. Fábio Wajngarten foi Bolsonaro. E, daqui a dias, Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello serão, espetacularmente, Bolsonaro.

Hélio Schwartsman Alucinação coletiva, fsp

 

Reação da opinião pública vista na pesquisa Datafolha é tardia e insuficiente

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Organismos vivos desenvolveram sentidos como visão, audição, propriocepção, ecolocação para captar instâncias daquilo que chamamos de realidade e se posicionar de forma mais adequada para sobreviver e deixar descendência. Mas é claro que nada é tão simples.

As informações que chegam pelos sentidos nem sempre permitem interpretações unívocas; por vezes, estão em contradição umas com as outras. O cérebro, que não pode se dar ao luxo de esperar até que só existam certezas, se vale de uma miríade de elementos extrassensoriais, como expectativas, preferências e até manias, para dar sentido à profusão de dados que lhe chegam a cada instante. É nesse contexto que alguns neurocientistas descrevem a percepção como uma alucinação controlada.

Alucinação é um bom jeito de explicar os resultados da última pesquisa Datafolha que avaliou a percepção dos brasileiros sobre o governo de Jair Bolsonaro.

A aprovação à administração até que caiu —e não pouco. O percentual de entrevistados que classifica o governo como ótimo ou bom passou de 30% em março, quando foi feita a sondagem anterior, para 24% agora. As avaliações negativas, porém, seguem mais ou menos inalteradas. Eram 44% e são agora 45%.

O que me incomoda aqui —e me faz pensar em alucinação coletiva— é que a reação da opinião pública é tardia e insuficiente. Não estamos, afinal, falando de um governo normal atuando em tempos normais, mas de uma administração que vem cometendo equívocos em série durante a pior emergência sanitária dos últimos cem anos. Já contamos quase meio milhão de mortes, dezenas de milhares das quais teriam sido evitadas se a gestão tivesse respondido à crise de forma apenas medíocre.

Se a opinião pública brasileira fosse um bicho, já teria sido extinto por não ter conseguido interpretar corretamente os dados fornecidos pela realidade e reagido de forma a preservar a própria existência.