quinta-feira, 13 de maio de 2021

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Testes de anticorpos após vacina contra Covid não servem para saber se ela funcionou, FSP

 Everton Lopes Batista

SÃO PAULO

Neste início de imunização tímido no Brasil, com o alívio de finalmente receber a injeção vem também a dúvida: será que funcionou? Estou protegido?

O sistema imune, assim como a ação dos vírus, é complexo e depende de uma variedade de moléculas para defender o corpo. Testes sorológicos, que medem somente anticorpos, podem até dizer se essas proteínas protetoras contra o patógeno foram geradas, mas são ainda insuficientes para atestar o sucesso ou o fracasso da imunização em uma pessoa.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) não recomenda a realização de sorologia para avaliar resposta imunológica às vacinas contra a Covid-19.

"A complexidade da imunidade pós-vacinal, ou mesmo após doença natural, não corrobora a realização dos testes, pois os resultados não traduzem a situação individual de proteção", afirma a instituição em uma nota técnica publicada no fim de março deste ano.

O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), uma das autoridades de saúde mais respeitadas no mundo, também não recomenda o teste para verificar a ação da vacina.

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"Os testes podem ser feitos cerca de 30 dias depois da vacinação completa, mas por mera curiosidade. Neste momento, eles não têm efeito prático nenhum e ainda podem causar confusão —a pessoa pode achar que a vacina funcionou quando não está protegida, ou o contrário", diz o médico geneticista David Schlesinger, diretor da Mendelics, empresa especializada em diagnósticos genéticos.

Quando entramos em contato com um patógeno, como um vírus ou uma bactéria, nosso corpo dá início à resposta imunológica adaptativa com a produção de diversas moléculas, entre elas, as proteínas que chamamos de anticorpos.

Essas moléculas carregam uma caixa de ferramentas para desativar o vírus, mas nem todas bloqueiam a ação do invasor. Os anticorpos que o fazem são os chamados neutralizantes.

Os mais testes mais simples, os de tipo rápido, vendidos em farmácia, são pouco sensíveis e dizem apenas se temos ou não anticorpos contra o vírus, sem especificar se são neutralizantes. Além disso, a qualidade dos testes varia, não valendo para um diagnóstico mais preciso.

No âmbito da pesquisa clínica, existem testes capazes de dizer se a pessoa desenvolveu anticorpos neutralizantes e até apontar sua quantidade, afirma o médico patologista Carlos Eduardo dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Para a ciência, análises de anticorpos são importantes para saber como o sistema imune da população vacinada se comporta ao longo do tempo. Segundo Santos, o exame pode dar pistas sobre quando será necessária uma dose de reforço para estender a proteção.

Mas individualmente esse teste mais preciso ainda não tem indicação formal e só deve ser feito com pedido médico em casos específicos, como o de uma pessoa com um sistema imune menos eficiente.

Mesmo quando um bom exame indica a presença das proteínas neutralizantes, não é possível ter a certeza de que a imunização foi bem-sucedida. Isso porque não se sabe a quantidade necessária delas para garantir proteção.

Há outra lacuna. O teste não capta a existência de uma resposta imune celular, com os linfócitos que destroem as células infectadas pelo vírus e produzem outras substâncias de defesa.

Em algum momento no futuro será possível saber com segurança qual é a molécula ou o anticorpo que, quando presente no organismo em uma determinada quantidade, garante a imunidade completa.

Os estudos feitos antes da liberação do uso das vacinas e os dados coletados após a imunização em larga escala em países como Estados Unidos, Reino Unido e Israel são sólidos para indicar que os imunizantes em uso são seguros e eficientes contra a pandemia.

Dados publicados mostram que as chances de ser internado ou morrer com o Sars-CoV-2 caem drasticamente depois da imunização completa, que ocorre cerca de um mês depois da segunda injeção para as vacinas usadas no Brasil, aplicadas em duas doses.

Ainda assim, nenhuma substância testada contra qualquer doença (incluindo a Covid-19) oferece 100% de eficácia, e é possível verificar um número muito pequeno de pessoas que, mesmo tendo recebido o imunizante, se infectam —em casos raríssimos, podem até morrer.

As novas variantes do Sars-CoV-2, algumas mais transmissíveis, são outro fator de atenção. Ainda não se sabe com precisão se as vacinas disponíveis são capazes de combater todas as novas versões do patógeno.

Por isso, cuidados básicos como uso de máscara, distanciamento social e higiene das mãos devem ser mantidos mesmo após as duas doses do imunizante. Uma retomada mais segura deve ser feita apenas quando ao menos 70% de toda a população estiver imunizada, o que deve proporcionar grande queda na circulação do Sars-CoV-2.

Na quinta-feira (13), o CDC anunciou a suspensão quase total do uso de máscaras nos EUA, ao ar livre ou em ambiente fechado, para os completamente vacinados. A proteção ainda é necessária em locais específicos, como aviões e hospitais.

Ao todo, os EUA já aplicaram mais de 260 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19, e a decisão mostra o que os estudos clínicos apontaram e os cientistas têm reforçado: as vacinas funcionam e são nossa melhor arma para pôr fim à pandemia.


quarta-feira, 12 de maio de 2021

Esperávamos adoecimento em massa na pandemia, mas não é isso que estamos vendo,

 Daniel Martins de Barros*, O Estado de S.Paulo

03 de maio de 2021 | 05h00

Costumo brincar dizendo que ninguém gosta de admitir quando está errado, mas que comigo acontece exatamente o contrário: ninguém gosta de admitir quando estou certo. Claro que não é verdade. A segunda parte. As pessoas não têm problema em admitir quando estou certo. Desde que isso não signifique que elas estejam erradas.

Compreensível. Sustentar uma opinião equivocada e vê-la ser desmentida é como sofrer uma agressão. Se fisicamente nós somos o que comemos, já que os alimentos são absorvidos e utilizados na construção dos nossos corpos, mentalmente nós também somos resultado das ideias que consumimos e absorvemos, que, por sua vez, passam a constituir nossa identidade. Ver desabar alguma dessas ideias é perder um pedaço de si mesmo. O que será quase sempre desagradável. A não ser que a ideia da transitoriedade do conhecimento faça parte da nossa identidade, o que não é muito comum, infelizmente.

Muito do sucesso das fake news vem daí. Quando uma informação externa reforça nossos pressupostos, confirmando que nossa visão de mundo estava correta desde o início, nossa tendência é aceitá-la como verdade de forma imediata e acrítica. As lacunas naquela notícia passam despercebidas. Eventuais evidências em contrário são ignoradas. Natural: por que desconfiar de uma informação que só reforça o que já sabíamos?

O advento das bolhas da internet, nas quais nos conectamos preferencialmente a fontes de informação alinhadas às nossas crenças, aumenta o problema ao nos deixar cada vez mais convencidos de algo, acreditando cada vez mais naquilo que se encaixa no quadro que criamos. E menos no que não se encaixa.

Tristeza
Há aumento de procura por atendimento, mas nada que configure uma epidemia, uma catástrofe dos moldes da própria covid-19 Foto: Pixabay

Esse é o outro lado da moeda. Ao ameaçar abalar os alicerces do mundo mental que construímos, as notícias que contradizem nossas opiniões acionam o alarme da incredulidade. Assim como somos prontos a acreditar no que nos conforta, automaticamente desconfiamos daquilo que nos confronta. E dessa tendência a campanha para desacreditar a mídia profissional retira sua força. Para quem não tem compromisso com a verdade fica fácil potencializar esse efeito, pois além de alimentar a dúvida pode-se oferecer informações psicologicamente mais reconfortantes.

Mas o fenômeno independe de a notícia ser boa ou ruim. Quando começaram a sair dados sólidos sobre a saúde mental das pessoas na pandemia, os resultados pareciam contraintuitivos. Depois de tanto temermos pelo adoecimento em massa, o tsunami dos transtornos mentais e a avalanche de suicídios, as pesquisas começaram a mostrar que isso não estava acontecendo.

Uma das mais recentes e bem estruturadas já vinha acompanhando a saúde mental de milhares de brasileiros há mais de dez anos e ao longo de 2020 reavaliou as pessoas em três momentos diferentes. Os resultados confirmam o que já se desenhava: a proporção de pessoas afetadas com transtornos mentais não mudou na pandemia. Há um aumento de sintomas ansiosos e mesmo depressivos associados ao estresse, claro. Mas nada que configure um adoecimento na maioria das vezes.

O irônico é que divulgar essa boa notícia sempre leva a uma enxurrada de reações negativas. Surgem pessoas de todos os lados contando que em sua cidade aconteceu isso, em seu trabalho aconteceu aquilo. São evidências anedóticas, advindas da experiência pessoal, que sabemos não passar nos critérios científicos (interessante: quando é para autorizar um medicamento, essas mesmas pessoas criticam esse tipo de dado).

A saúde mental virou um trunfo, uma espécie de carta coringa, sacada quando se quer defender uma postura, seja qual for. Quem é contra políticas de restrição de mobilidade diz que os lockdowns estão levando ao suicídio. Quem acha que as escolas devem abrir afirma que as crianças estão adoecendo. Os que pensam o contrário dizem que os professores terão síndrome do pânico. E, de um polo ao outro do espectro ideológico, vemos gente se apegando à ideia de que estamos ficando todos doentes. Aí vêm as notícias de que isso não está acontecendo e ninguém quer acreditar.

Eu sei que não é comum, mas precisamos lembrar que, às vezes, as notícias boas é que são verdadeiras.

*É PROFESSOR COLABORADOR DO DEPARTAMENTO E INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (FMUSP)