Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, só convive com as moscas de padaria. Não é candidato a nada e não quer ser. Até porque já decidiu: quando sair do governo irá para a iniciativa privada.
GUEDES E MARITZA IZAGUIRRE
Outro dia, o ministro Paulo Guedes disparou uma urucubaca: “Para virar a Argentina, seis meses; para virar Venezuela, um ano e meio”.
Em 1999, quando o coronel Chávez assumiu, o tal de “mercado” torceu para que a manutenção de Maritza Izaguirre no Ministério da Fazenda garantisse alguma racionalidade. Um ano depois, Izaguirre foi substituída e voltou para o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Chávez chegou prometendo “mercado até onde for possível e Estado apenas onde for necessário”. Era lorota.
“Senhor João Doria, não brinque com a esperança de milhares de brasileiros, não venda sonhos que não possa cumprir, prometendo uma imunização com um produto que sequer possui registro nem autorização para uso emergencial”.
Familiares registraram imunização de parentes com idades entre 85 e 89 anos, que começaram a ser vacinados da capital paulista, no sistema drive-thru, nesta quinta-feira (11)Rivaldo Gomes/Folhapress
Na quinta-feira (4), a repórter Paula Ferreira mostrou que Franco encaminhou ao Senado uma planilha informando que neste mês o ministério distribuirá 38 milhões de vacinas.
No dia 17 de fevereiro, o general Eduardo Pazuello anunciou que entregaria 46 milhões de imunizantes. Onze dias depois, a previsão baixou para 39,1 milhões. Em duas semanas, evaporaram-se 7,9 milhões de vacinas.
O doutor deveria entrar na sala do general Pazuello admitindo: “Chefe, estamos brincando com a esperança de milhares de brasileiros, vendendo sonhos que não podemos cumprir”. (O Ministério da Saúde levou em conta 8 milhões de doses de um laboratório que ainda não deu entrada ao pedido de autorização da Anvisa, mas deixa pra lá.)
JERUSALÉM - Com mais de 50% de sua população imunizada com pelo menos a primeira dose da vacina contra acovid-19,Israelcomeçou a reabrir bares e restaurantes. Desta forma, o país dá o passo mais importante na fase pós-vacinação, com a reabertura desses estabelecimentos, o relaxamento de restrições e retorno às salas de aula das universidades, entre outras medidas que priorizam os imunizados contra o novo coronavírus.
Os restaurantes de Israel, por exemplo, poderão receber clientes que apresentam o chamado "passe verde", concedido a quem se recuperou da doença ou já recebeu a segunda dose, pelo menos uma semana atrás.
A ocupação não pode ultrapassar 75%, e aqueles que não apresentarem o certificado necessário para entrar podem sentar-se nas mesas ao ar livre.
A partir deste domingo, também podem ser abertos os salões de eventos culturais, limitados a 50% de sua capacidade e só acessados por quem tem o passe verde e um percentual limitado de pessoas que apresentam exames negativos para o novo coronavírus.
Volta às aulas
Além dos estudantes universitários, os alunos de 11 a 14 anos que frequentam escolas nas cidades do país classificadas como verdes ou amarelas também poderão retornar às aulas com base em suas baixas taxas de infecção e vacinação, enquanto os alunos de instituições religiosas somente poderão voltar às aulas presenciais se tiverem o passe verde.
Cultos religiosos
Os locais de culto também podem receber fiéis que apresentem este certificado, embora em quantidades limitadas. Aqueles que aceitarem receber pessoas que não possuem o passe verde terão limites mais rígidos e não poderão acomodar mais de 20 pessoas em ambientes internos e 50 externos.
Outros locais
Estádios e auditórios estão liberados para receber mais gente, com limites entre 500 e 1.500 pessoas dependendo da sua capacidade e se estão abertos ou fechados.
Finalmente, os novos regulamentos também se estendem à entrada e saída de passageiros pelo Aeroporto Internacional Ben Gurion, que tem operado de forma muito limitada desde o fim de janeiro e poderá receber até 1 mil cidadãos israelenses por dia a partir deste domingo, um número que nos próximos dias deve aumentar para 3 mil.
Dessa forma, Israel elimina quase completamente as restrições implementadas durante o terceiro bloqueio, que durou seis semanas desde o fim de dezembro e vem diminuindo lentamente desde meados de fevereiro.
A campanha de vacinação rápida do país, com quase 5 milhões de pessoas inoculadas com a primeira dose da vacina da Pfizer e quase quatro milhões também com a segunda dose, foi essencial para o avanço da desaceleração.
Nas últimas semanas, Israel, com pouco mais de 9 milhões de habitantes, registrou uma queda acentuada no número de infecções e pacientes em estado grave, e atualmente tem pouco mais de 40 mil casos ainda ativos, de um total de 800 mil identificados desde o início de a pandemia. / EFE
A imprensa europeia fez eco à notícia procedente do Peru de que a procuradoria peruana apresentou esses dias uma denúncia penal contra o ex-presidente Alberto Fujimori e três ministros da Saúde de seu regime autoritário pelas esterilizações forçadas que levaram a cabo durante o segundo período da ditadura (1995-2000), consequentemente matando pelo menos cinco camponesas que sangraram até a morte.
Os responsáveis por esse grande crime, impregnado de racismo e fraude, conseguiram até agora, durante 20 anos, escapar de suas responsabilidades, de maneira que o ceticismo é obrigatório, ainda que a esperança de que eles paguem por seu delito estará sempre presente, incendiando a consciência do povo peruano.
Foi um dos piores crimes que a ditadura cometeu, mas, ainda que pareça inacreditável, o ditador que cumpre uma pena de 25 anos por violar os direitos humanos se livrou até agora, assim como seus ministros da Saúde, graças à cumplicidade do Judiciário, de ser condenado por esse horror: a esterilização em massa de mulheres camponesas, que em sua maioria não falavam espanhol e muitas das quais eram analfabetas, a quem o Estado fingia somente vacinar.
À esterilização forçada eram acrescentados, neste caso, o racismo e a mentira. As camponesas não sabiam que seriam castradas. As brigadas enviadas às comunidades camponesas pelo Ministério da Saúde, o grande cúmplice desse delito coletivo, perguntavam a elas se queriam ser vacinadas ou examinadas para saber se tinham enfermidades ocultas. O Procurador-Geral acrescentou à sua denúncia pelo menos uma página com uma autorização supostamente assinada por uma camponesa quíchua analfabeta que não sabia nenhuma palavra de espanhol.
Quantas mulheres camponesas foram vítimas dessa política praticada outrora pelos nazistas contra os judeus, os negros e outras “raças inferiores”? Na realidade, não se sabe nem nunca se saberá. Foi um delito perpetrado por muitos anos – três ministros da Saúde de Fujimori foram implicados pelo procurador em sua acusação – mediante uma mentira da qual foram cúmplices múltiplos funcionários públicos assim como muitas supostas autoridades do Judiciário que deveriam intervir no momento certo e impedir que a ditadura continuasse enchendo a Cordilheira dos Andes de tanto sangue.
A cumplicidade chegou às mais elevadas alturas e os peruanos ainda se recordam de uma autoridade eclesiástica de Lima confessando que sim, protestou contra o que ocorria, mas o fez de maneira privada, admoestando o ditador sem ser escutado, pois lhe sussurrava as reprimendas ao ouvido.
A organização feminista Demus, há alguns anos, investigou esse delito coletivo e chegou à conclusão de que cerca de 270 mil mulheres camponesas foram esterilizadas de acordo com esse plano, mediante ligadura de trompas ou castração simples. Os homens tampouco se livraram da medida oculta. Nesse mesmo levantamento foram registrados 24 mil homens de origem camponesa esterilizados sem saber.
As leis peruanas são muito claras a esse respeito. Nenhuma pessoa pode ser objeto de esterilização sem dar seu consentimento, sendo informada nos menores detalhes ao que está exposta com essa delicada intervenção que somente médicos podem recomendar, porque nela se inclui a saúde da mãe. Para burlar essas determinações, a ditadura de Fujimori recorreu a uma mentira da qual foram cúmplices seus ministros dessa área e múltiplos funcionários públicos, sobretudo os que em campo se ocupavam de levar a cabo as esterilizações.
As camponesas não eram consultadas quanto a isso. Perguntavam para elas, em vez disso, se queriam ser vacinadas ou examinadas em razão de alguma outra enfermidade. Naturalmente, a imensa maioria respondia que sim. À falsidade era adicionado o preconceito racial. Tratava-se de humildes mulheres índias das comunidades serranas, muitíssimas das quais nem sequer compreendiam os sanitaristas ou enfermeiros das brigadas encarregadas das esterilizações. Quantas dessas mulheres sangraram até morrer? O procurador assinalou que cinco delas morreram como consequência dessas intervenções e 1.307 padeceram de lesões graves.
Mas é óbvio que o número real está muito acima dessas quantidades, que somente refletem as que se atreveram a denunciar a lorota sanguinária de que foram vítimas. Muitíssimas outras nem sequer se deram conta dos efeitos que teriam em sua saúde “a lenda da vacina”.
Chegará desta vez a ocorrer o julgamento e os mais altos responsáveis por esse crime serão castigados? O procurador apontou três ex-ministros da Saúde, Eduardo Yong, Marino Costa e Alejandro Aguinaga, além do ex-diretor de Saúde, Ulises Aguilar, como os principais perpetradores dessa operação. Um deles, Aguinaga, é candidato nas próximas eleições pelo partido fujimorista Força Popular, que postula à presidência a filha do ditador, que, diga-se de passagem, vai muito mal nas pesquisas.
Entre os muitos crimes e roubos cometidos naqueles anos da ditadura fujimorista, esse é um dos piores, porque reflete, melhor do que qualquer outra extorsão que cometiam Montesinos e o próprio Fujimori, as malícias e os preconceitos do sistema. As esterilizações forçadas vinham acompanhadas de mentiras e racismo, posto que suas vítimas eram sobretudo índias de língua quíchua, a quem era fácil enganar pois uma boa porcentagem delas nem sequer conseguia entender o que estava acontecendo, pois não falava espanhol. O objetivo não era que não nascessem mais bebês no Peru, mas que não nascessem mais índios do que já havia no país. Além de tudo, havia estímulos às brigadas que cumpriam suas cotas.
Uma operação com essa índole não poderia ser levada a cabo sem a cumplicidade de centenas, talvez milhares, de pessoas. Os membros das brigadas que percorriam a serra, perguntando às camponesas se queriam se vacinar, sabiam muito bem que burlavam a lei difundindo tamanha mentira e, por exercer essa ignóbil função, se tornaram cúmplices.
Dessa maneira não somente violavam algumas leis mas colocavam em prática esse racismo anti-índio que um grande número de peruanos de alta e média classes sociais ainda conserva no fundo de sua personalidade, ainda que isso não costume se fazer patente de maneira tão flagrante como nessa operação em grande escala que o governo de Fujimori pôs em prática.
Por isso, é preciso continuar apoiando a quem, como o procurador Pablo Espinoza neste caso, se empenha para que esse crime não fique impune e seja objeto de um julgamento em que os grandes responsáveis, começando pelo ex-ditador, recebam o castigo que merecem.
Ainda que o Peru atravesse momentos muito difíceis – a pandemia golpeou o país de maneira gravíssima, sobretudo os setores sociais mais humildes, onde o número de infectados e de mortos foi muito elevado –, esta foi uma boa notícia para os peruanos. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL