segunda-feira, 4 de maio de 2020

Por que um abraço faz tanta falta durante a quarentena?, OESP

Giovana Girardi, O Estado de S. Paulo
04 de maio de 2020 | 12h00


Desde que iniciamos o isolamento – meus pais e minha irmã no interior de São Paulo, eu na capital –, temos conversado com uma frequência muito maior do que na época em que a vida era normal, quase sempre por vídeo. Almoçamos juntos, minha mãe me mostra suas orquídeas, eu mostro meus gatos, compartilhamos imagens do que estamos comendo. Estamos próximos, estamos bem, mas minha mãe outro dia me confidenciou: “O que eu sinto falta mesmo é de te dar um abraço, filha”.
Uma amiga do jornal tem um plano bem claro para quando sairmos desta crise sanitária imposta pelo coronavírus: “Vou abraçar todo mundo em um daqueles abraços de sair rolando pelo chão”.
Trago relatos pessoais aqui, mas todo mundo tem os seus. A saudade daquele abraço forte talvez seja a que mais dói nesses tempos tão incertos. Somos um povo acostumado ao toque, aos beijos, ao carinho fácil, é verdade, mas a falta que isso faz em meio à pandemia é tão universal quanto ela. 
É do ser humano. É evolutivo. Nós aprendemos de bebê, com nossas mães, na amamentação, a importância do carinho. Mas até nossos parentes primatas sabem disso muito bem, tanto que criam laços no grupo ao catarem piolhos uns nos outros. A ciência – novamente ela – explica por que isso é tão importante.
Abraço
Por que um abraço faz falta? Foto: Marcos Muller/Estadão
A primeira evidência veio de série de experimentos, alguns deles cruéis, conduzida por um controverso, mas brilhante, psicólogo americano entre os anos 1950 e 60. Harry Harlow provou para um sociedade pós-guerra que não valorizava demonstrações de afeto – nem mesmo com crianças – que o amor não só é desejado como vital para o desenvolvimento da espécie.
O pesquisador usou macacos rhesus bebês para mostrar que o acolhimento, o aconchego físico, o amor transmitido via toque, são tão importantes quanto a própria alimentação. 
Em seu laboratório na Universidade de Wisconsin, ele separou os filhotes de suas mães e os colocou na presença de duas estruturas bizarras de arame. Uma delas era apenas a armação. A outra foi coberta com um pano felpudo e ganhou uma carinha de macaco. 
Harlow observou que os macaquinhos claramente preferiam ficar junto com a estrutura macia, mesmo quando a outra era equipada com uma espécie de mamadeira que lhes oferecia leite. Uma foto deste experimento mostra um macaquinho “no colo” da estrutura peludinha, se esticando para pegar o leite na “mãe” só de arame. 
Os bebês também se esforçavam para abrir uma janela em que pudessem olhar a “mãe” coberta com pano e corriam em direção a ela quando se sentiam assustados com alguma coisa e precisavam de conforto. Por outro lado, quando só a estrutura de arame estava por perto, eles se sentiam inseguros, paralisados e não conseguiam explorar o ambiente.
O trabalho, apesar de controverso, acabou reafirmando a importância do amor e do carinho – em uma época em que se considerava que abraçar ou beijar crianças poderia deixá-las carentes e exigentes.
Outros estudos que se seguiram a esse revelaram que o contato físico é importante para desenvolver confiança e empatia e que isso teve implicações na evolução da espécie humana. Descobriu-se que beijos e abraços na infância podem até mesmo alterar o DNA.
“Um carinho modifica a expressão de nossos genes, a produção de oxitocina, o julgamento, o impacto sobre o desenvolvimento humano e sua falta pode ter consequências duradouras”, explica o neurocientista Stevens Rehen, professor da UFRJ e pesquisador do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).
A oxitocina é um hormônio liberado num abraço afetuoso, no momento da amamentação, no sexo. Diversas pesquisas apontam que ela age como um neurotransmissor no cérebro, influenciando as interações sociais e até a reprodução. Tem um papel importante para formar laços entre as pessoas, propiciando comportamentos de empatia, generosidade, confiança. No nível individual, é importante inclusive como antídoto para sentimentos mais depressivos e ansiosos.
É algo que começa com a amamentação, como explica a psiquiatra Helena Brentani, cientista responsável pelo programa do espectro autista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
“Em um primeiro momento, a comunicação do bebê com a mãe é muito dependente do contato físico. Assim, no começo da vida o contato físico é a base para o aprendizado do cérebro sobre a definição do eu, do outro, reforçar e sinalizar laços e hierarquias sociais assim como programar sistemas relacionados ao estresse”, explica a pesquisadora. 
Ela lembra um estudo de 2007 feito pelos pesquisadores americanos Arie Kaffman e Michael Meaney que mostrou que o comportamento de lamber filhotes ao nascer em ratos é fundamental para programar a reatividade a situações de estresse ao longo da vida, mediado por alterações epigenéticas (no funcionamento dos genes) no cérebro.

Contato muda o cérebro

Também para os humanos, a oxitocina impacta mecanismos interativos, relacionados a contato físico para o resto da vida. Helena cita outra pesquisa, de 2016, do alemão Jens Brauer, que mostrou que o contato físico muda o cérebro. “Os pesquisadores mostraram que a frequência do toque materno durante uma sessão de brincadeira entre mães e seus filhos de cinco anos estava associada à conectividade do cérebro”, afirma.
“Podemos dizer que precisamos de contato físico sempre. Isso propicia sensações e experiências que vão aumentando o repertório de conhecimentos do cérebro sobre o eu e o mundo. Isso ajuda a construção do nosso modelo mental do mundo, fundamental para que o cérebro possa fazer boas previsões, explicando sinais de entradas sensoriais. Isso nos garante reforço afetivo, social e motivação”, diz Helena.
E o que isso pode significar em tempos de pandemia? “Teoricamente a falta desse contato pode trazer alterações das respostas emotivas e da regulação do eixo hipotálamo-hipófise e portanto da percepção do estresse. Estudos mostram que animais e crianças com falta de contato podem ter mais ansiedade e depressão ao longo da vida”, opina a pesquisadora.
“Somos seres sociais e o isolamento necessário diante da pandemia nos faz perceber mais fortemente a falta que faz o carinho em nossas vidas. Um abraço apertado é capaz de alterar o padrão de metilação (expressão) de nossos genes. A epigenética das relações sociais não acontece via zoom. Vai ter implicações para a nossa sociedade”, complementa Rehen.

O que o mercado imobiliário prevê para os condomínios após a pandemia de coronavírus, O Povo

chamado "novo normal" que está por vir após a pandemia também deve chegar a construção civil. O setor projeta que condomínios com muitos moradores não deverão ser mais demandados pelo consumidor — que será mais cauteloso com a saúde e terá novos hábitos. Neste contexto, haverá necessidade de espaços adaptados para receber compras de supermercados e demais entregas, além do coworking integrado.
As plantas dos apartamentos, por sua vez, deverão incluir um sistema que privilegie a ventilação natural para entrada dos raios de sol. Já patrimônio paisagístico será crucial para a decisão de compra. As transformações vão ao encontro de uma população mais distante socialmente, mas que usufrui dos espaços de uma forma mais consciente e intensa.
O que virá depois já é visto atualmente, mas voltado para um público mais privilegiado. Quando o senso comum pressionar essas adequações, o custo destes imóveis também precisará ser reduzido. O arquiteto e sócio-fundador da EXP, Gustavo Amorim, acredita que a mudança virá rapidamente.
"O mais importante vai ser focar em habitações com boa ventilação, iluminação da casa. Existe hoje uma aversão ao poente, mas o sol é uma dos principais recursos naturais de higienização", destaca. "Os espaços serão construídos para aliar a natureza a conter esses invasores", complementa.
Ele acrescenta que os novos conjuntos habitacionais precisarão ser reduzidos, evitando os adensamentos observados na atualidade. "Talvez, a gente não tenha mais grandes condomínios e eles tenham limite de população. Também penso que pode se fortalecer o senso de comunidade, no qual as pessoas irão proteger umas as outras, estabelecendo rotinas para uso dos espaços coletivos", aponta. As comunidades fechadas também terão mais suporte de negócios, como mercadinhos e outros serviços.
O diretor comercial da J.Simões Construtora, Daniel Simões, acrescenta que o mercado já se adequava aos novos arranjos familiares, mas haverá uma antecipação das mudanças comportamentais.
"Nada vai voltar a ser 100% como era antes. O que a gente acredita é numa releitura dos projetos, com conceitos de valor agregado", explica. "As pessoas vão repensar a moradia, a planta da casa exigirá mudanças. Elas também vão trabalhar mais em casa, precisando não necessariamente de um espaço para escritório no apartamento, mas um coworking no condomínio", exemplifica. Daniel diz que já há soluções no mercado, como os apartamentos inteligentes J.Smart.
A Venture Capital Investimentos (VCI) também já trabalhava com empreendimentos que atendem às demandas que virão. O presidente da VCI, Samuel Sicchierolli, explica que já utilizavam, por exemplo, sistema de refrigeração mais seguro, itens como energias alternativas, estações próprias de tratamento de água e esgoto e a mão de obra local para incentivar a economia regional.
"Como já seguiam os padrões internacionais, muitos recursos já eram adotados. Como o espaçamento entre as mesas, que era maior que o comum, ao sistema de ar, que faz exaustão sob pressão", diz. Assim, o ar do ambiente é filtrado e renovado constantemente. Segundo ele, as vendas online subiram de uma média de R$ 2 milhões para 18,7 milhões.


Comportamento do consumidor
No Brasil, a taxa de Fecundidade diminuiu 39% nos últimos
30 anos.
A taxa de nupcialidade diminuiu 46%. Uma redução de 49% para 26% as pessoas casadas.
As famílias também diminuíram 36%. São menos de 3 pessoas por família.
Fonte: pesquisa encomendada pela J. Simões, elaborada pela Brain, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
 
Conheça as empresas
A VCI trabalha com multipropriedade, é incorporadora da marca Hard Rock em Fortaleza e está construindo o Residence Club at The Hard Rock Hotel Fortaleza, na praia de Lagoinha; Ilha do Sol (Paraná), São Paulo, Recife e Natal.
Site: vcisa.com
A J.Simões Engenharia, uma das maiores construtoras de Fortaleza, lançou o J.Smart José Vilar, segundo empreendimento de apartamentos inteligentes da linha J.Smart.
A EXPBR Arquitetos Associados é formada por uma equipe de arquitetos e urbanistas com diferentes especialidades atentos aos desafios contemporâneos que oferecem serviços e produtos arquitetônicos que abrangem todo o ciclo de vida do espaço construído

domingo, 3 de maio de 2020

Um vírus sob medida, fSP


Na guerra contra doenças emergentes, a teoria da evolução é, quase invariavelmente, uma das armas mais poderosas do nosso arsenal. Afinal de contas, no caso do novo coronavírus, assim como já ocorreu com o HIV e com muitos outros patógenos, estamos tendo o desprazer de presenciar o que acontece quando um parasita realiza uma pirueta darwinista, saltando entre espécies diferentes de hospedeiros e arrasando terrenos biológicos antes virgens —os corpos de (por enquanto) mais de 3 milhões de pessoas.
Apesar da enxurrada de estudos sobre o Sars-CoV-2, causador da moléstia Covid-19, ainda sabemos pouco sobre como esse processo se desenrolou. Uma peça importante desse quebra-cabeças acaba de ser colocada em seu devido lugar por pesquisadores brasileiros. Eles compararam as características moleculares da “porta” usada pelo vírus para adentrar as células em dezenas de espécies diferentes de mamíferos e em várias populações humanas, mostrando que o invasor microscópico provavelmente se adaptou com precisão para invadir o Homo sapiens.
A pesquisa, que deve ser publicada em breve no periódico especializado Genetics and Molecular Biology, é assinada por Maria Cátira Bortolini, Bibiana Sampaio de Oliveira e Vinicius Sortica, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), junto com colegas da USP. O grupo decidiu analisar em detalhes a trajetória evolutiva da ECA2, molécula da superfície das células à qual o coronavírus se acopla durante o processo de invasão.
Em condições normais, a ECA2 desempenha um importante papel na produção de substâncias que regulam a pressão sanguínea, mas o Sars-CoV-2 “aprendeu” a utilizá-la como uma fechadura (ou, para usar o termo técnico, um receptor) no qual enganchar a proteína S, presente em sua superfície.
Para que a “chave” do vírus se encaixe na fechadura da célula, é preciso que os formato tridimensionais de ambas sejam compatíveis entre si, tal como ocorre em uma porta do mundo macroscópico. E esse formato depende, por sua vez, do material genético do vírus e do hospedeiro, já que o genoma é que contém a receita para a produção de ambas as moléculas. Mudanças na receita alteram a composição química das moléculas e, portanto, sua forma 3D.
Bortolini e seus colegas compararam as “letras” de DNA da receita da ECA2 presentes no genoma de 70 espécies de mamíferos, de morcegos (possível origem do coronavírus) a porquinhos-da-índia, levando em conta 30 trechos da proteína diretamente associados à conexão com o vírus.
A conclusão, por um lado, é um alívio para quem teme que outros animais, inclusive os domésticos, funcionem como reservatórios da doença. As diferenças entre a ECA2 humana e a dos demais mamíferos em geral é muito alta, o que diminui a probabilidade de que o vírus afete os bichos.
Por outro lado, comparando o genoma de pessoas de todos os continentes, ficou claro que quase não há variação na ECA2 humana. Ou seja, ao que parece todos os membros da nossa espécie estão igualmente vulneráveis à invasão do coronavírus (até porque ele acabou de ter contato com os seres humanos; não daria tempo de a seleção natural favorecer a resistência a ele).
A única exceção, no que diz respeito a outros mamíferos, são os primatas do Velho Mundo, em especial os grandes símios (chimpanzés, gorilas etc.). A ECA2 desses primos do homem, na região à qual o vírus se conecta, é idêntica à nossa. Assim como outros vírus respiratórios humanos, o Sars-CoV-2 talvez tenha potencial para colocá-los em risco também.
Reinaldo José Lopes
Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".