sábado, 5 de outubro de 2019

HÁ 50 ANOS 1969: Contra crise hídrica, Comasp planeja usar águas poluídas do rio Pinheiros, FSP

As obras da ensecadeira em que serão tratadas, com cloro e sulfato de alumínio, as águas poluídas do rio Pinheiros
As obras da ensecadeira em que serão tratadas, com cloro e sulfato de alumínio, as águas poluídas do rio Pinheiros. - Folhapress/1969
SÃO PAULO
Como solução de emergência, autoridades estaduais pretendem utilizar, após tratamento, as águas poluídas do rio Pinheiros. Mantidas em sigilo pela Comasp (Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo), as obras na região já estão quase finalizadas.

 O projeto inclui dois pequenos diques, uma lagoa para o tratamento químico (ensecadeira) e três possantes bombas de sucção, capazes de retirar do rio Pinheiros um volume total de três metros cúbicos por segundo, de acordo com os técnicos da Comasp.

Alguns engenheiros dizem que, mesmo com tratamento, a água no rio Pinheiros não teria condições ideais para uso.

Ruy Castro - Recatada e do lar, FSP

De tempos em tempos, alguém vem com uma novidade sobre Marilyn ou Sinatra

Há dias, as agências falaram da última de Charles Casillo, uma espécie de biógrafo profissional de Marilyn Monroe. Num podcast disponível na Apple, ele afirma que Frank Sinatra queria se casar com Marilyn em 1961 e foi convencido por seus advogados a não fazer isto. Marilyn iria inevitavelmente se matar, disseram, e, quando acontecesse, o público poria a culpa nele. Segundo Casillo, Sinatra concordou e, claro, Marilyn "se matou", em 1962.
De tempos em tempos, alguém vem com uma novidade sobre Marilyn ou Sinatra. Outros descobrem a identidade de Jack, o Estripador, dão uma nova versão sobre o assassinato de John Kennedy ou descrevem em detalhes o monstro do lago Ness. E ainda outros deslindam o complô no Vaticano que matou o papa João Paulo 1º ou narram a história secreta de como Adolf Hitler e Eva Braun escaparam do bunker por um túnel e passaram incógnitos os 30 anos seguintes, dedicando-se à criação de marrecos na Argentina. Não faltam também os segredos sobre discos voadores que a Nasa tenta esconder. Sempre haverá quem leve essas cascatas a sério.
Mas esta de Sinatra e Marilyn não cola. Os dois geraram, nos últimos 60 anos, cerca de mil livros cada. Milhares de pessoas já foram ouvidas a respeito deles, permitindo um escarafuncho da vida e da obra de ambos, de modo a não restar mais a menor dúvida. 
Em 1961, Marilyn tinha um caso com John Kennedy, intermediado por Frank, e se iludia com a ideia de ser a primeira-dama dos EUA. Sinatra, por sua vez, estava de olho em Pat Kennedy, irmã do presidente e casada, mas em crise, com seu amigo Peter Lawford. Quando o affair com Kennedy acabou, Marilyn, que adorava Frank, achou que tinha uma chance de se casar com ele.
Mas não tinha. A não ser que largasse tudo, virasse uma mulher recatada e do lar e se dedicasse a lhe cozinhar macarrão —como Frank exigia de suas esposas.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O paradoxo da bondade, FSP Hélio Schwartsman

O homem é bom, mas a sociedade o corrompe, ou é uma peste, e a civilização o mantém na linha?

SÃO PAULO
Podemos dividir os seres humanos em rousseauistas e hobbesianos. Os primeiros acreditam que o homem é bom, mas a sociedade o corrompe; os segundos acham que somos umas pestes e é a civilização que nos mantém na linha. Em “The Goodness Paradox” (o paradoxo da bondade), o primatologista Richard Wrangham (Harvard) aposenta essa dicotomia, dando razão a todos.
Para Wrangham, existem dois tipos de violência muito distintos: a reativa e a planejada. Elas diferem não só moral e juridicamente mas também no plano neurobiológico. No que diz respeito à violência reativa, os rousseauistas estão certos. O homem é o mamífero mais tolerante e pró-social de que se tem notícia. É verdade que às vezes nos irritamos com o próximo e podemos até matá-lo numa explosão de fúria, mas o fazemos numa escala incomensuravelmente menor do que a de nossos parentes mais próximos, não só que os belicosos chimpanzés como também os mais pacíficos bonobos.
O livro 'The Goodness Paradox', do primatologista Richard Wrangham
O livro 'The Goodness Paradox', do primatologista Richard Wrangham - Divulgação
Quando mudamos o registro da violência a quente para a premeditada, aí é Hobbes quem triunfa. Nossa capacidade de cooperar com aliados para matar aqueles que percebemos como inimigos é quase infinita.
Wrangham, numa prosa muito gostosa de ler, destrincha os mecanismos por trás de cada um dos dois tipos de violência e ainda apresenta uma hipótese bastante plausível para o homem ser ao mesmo tempo o mais pacífico e o mais violento dos primatas: a autodomesticação.
 
Retomando ideias de Christopher Boehm que já tive a oportunidade de expor aqui, Wrangham monta um bom caso em favor da tese de que a maior capacidade de cooperação entre humanos levou a uma sociedade que abominava machos alfa, banindo ou mesmo eliminando aqueles que se mostravam excessivamente dominantes. Não apenas seus genes foram excluídos do pool como os próprios indivíduos passaram a pensar duas vezes antes de agir de forma que parecesse muito egoísta. Nascia assim a moral.
helio@uol.com.br
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".