quarta-feira, 1 de maio de 2019

Concessão de fábrica dobrou custo de medicamentos para o Estado , OESP

01/05/2019 12h05
São Paulo - A matéria enviada anteriormente trazia uma incorreção no 1º parágrafo. A concessão dobrou o custo dos medicamentos genéricos adquiridos pelo Estado de São Paulo, e não como constava. Segue o texto corrigido.

A concessão de uma fábrica de remédios do governo paulista à iniciativa privada dobrou o custo dos medicamentos genéricos adquiridos pelo Estado, criou uma dívida milionária com o laboratório contratado e colocou em xeque o modelo de parceria público-privada (PPP) para gestão de indústrias farmacêuticas. Diante dos problemas, o governo João Doria (PSDB) não descarta rescindir o contrato, que é alvo de uma investigação do Ministério Público Estadual e de uma CPI recém-instalada na Assembleia Legislativa de São Paulo. 

A PPP foi assinada em agosto de 2013 pela Fundação para o Remédio Popular (Furp), órgão vinculado à Secretaria da Saúde, com a Concessionária Paulista de Medicamentos (CPM), controlada pelo laboratório EMS, para fazer a gestão, operação e manutenção da fábrica de Américo Brasiliense, no interior paulista. À época, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) destacou que a CPM investiria cerca de R$ 130 milhões na unidade nos cinco primeiros anos - são 15 anos de concessão - e produziria 96 tipos de medicamentos para serem distribuídos na rede pública de Saúde.



Até hoje, porém, a concessionária só fez metade dos investimentos previstos - após notificações sobre descumprimento do contrato - e produz apenas 13 dos 96 medicamentos, segundo a Secretaria da Saúde. A CPM, por sua vez, cobrava da Furp um ressarcimento de R$ 65 milhões até 2017. A dívida resulta de distorção entre o preço dos remédios previstos no contrato da PPP e o valor de mercado dos mesmos medicamentos. 

Isso porque, entre maio de 2015 e julho de 2016, a Furp pagou para a CPM o mesmo valor das atas de registro de preço das compras de remédios feitas pela secretaria com outros fabricantes do mercado. Mas, na média, o valor era 53% menor do que o previsto no contrato da fábrica privatizada para os mesmos itens. 

Após ser cobrada pela CPM, que alegava desequilíbrio no contrato, a secretaria passou a fazer, a partir de agosto de 2016, repasses fixos de R$ 7,5 milhões mensais para a Furp pagar a concessionária, independentemente do volume de entrega de remédios pela fábrica. O jornal O Estado de S. Pauloteve acesso ao inquérito aberto pelo MP estadual, com base em uma denúncia feita por um funcionário da fábrica - a investigação está sob sigilo. 

Documentos oficiais da Furp e da secretaria mostram que há casos em que os preços previstos na PPP chegam a ser sete vezes mais caros do que os de mercado. É o caso do sildenafila, remédio usado por quem sofre de disfunção erétil, e fluoxetina, indicado para depressão e transtorno alimentar. No início de 2018, cada comprimido produzido na fábrica tinha custo de R$ 3,85 e R$ 0,30, respectivamente, enquanto o preço de referência no mercado era de R$ 0,49 e R$ 0,04.

Em ofício enviado à secretaria em maio de 2017, a Furp destaca que a CPM não recolhe ICMS sobre medicamentos vendidos, não tem gastos com logística de distribuição, e o contrato não prevê ganhos de escala na produção, ou seja, redução do preço unitário para a compra de um volume maior. 

Ainda em 2017, a Furp listou todos os "pontos críticos" da PPP à secretaria, que pediu um parecer à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) para saber se poderia pagar mais caro pelos medicamentos na PPP. A PGE deu parecer favorável à manutenção do contrato, dizendo que ele incluía outros custos da concessionária, como a manutenção da fábrica. Apesar disso, a comissão do governo que acompanha as PPPs estaduais não descarta a possibilidade de extinção do contrato com a CPM. "Esse contrato de gestão da Furp será investigado porque existem indícios de algo que não deveria acontecer, que é interesse privado sobrestar o poder público", disse o deputado Edmir Chedid (DEM), presidente da CPI da Furp.

Contestação

A Secretaria Estadual da Saúde, a Furp e a CPM afirmam que não é possível comparar os preços dos remédios da fábrica concedida com os dos medicamentos comprados diretamente no mercado porque o contrato de concessão inclui outros serviços, como manutenção da indústria. Segundo a secretaria, foram realizados no ano passado "diversos investimentos na fábrica". Segundo a pasta, os preços das atas de registro "são exclusivamente para fornecimento de medicamentos" para o Estado, "mantendo assim diferença fundamental da natureza jurídica das complexas atividades realizadas pela CPM".

A CPM afirmou que os investimentos na infraestrutura da fábrica estão "100% de acordo com o cronograma acordado" com a Furp e que "todos os procedimentos adotados para a obtenção de registros de medicamentos foram feitos conjuntamente". A empresa afirmou ainda que "tem interesse na célere realização do processo de revisão contratual".

Secretário da Saúde no governo Geraldo Alckmin, David Uip afirmou que o impasse na PPP era "conceitual" e "superava a função da secretaria". Segundo ele, o aumento da concorrência reduziu o preço dos genéricos no mercado e a crise econômica do País diminuiu o poder de compra do Estado. "Não é problema simples, tanto é que até hoje não foi resolvido." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fabio Leite e Tulio Kruse

Para signatários de manifesto, a base de João Doria quer destruir a autonomia e reduzir os recursos das universidades paulistas, CC


Para signatários de manifesto, a base de João Doria quer destruir a autonomia e reduzir os recursos das universidades paulistas

Por Ana Luiza Basílio e Rodrigo Martins
Em reação à instalação da CPI das Universidades Públicas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, professores e pesquisadores da USP, Unesp e Unicamp lançaram um manifesto de repúdio à iniciativa. Cadastrado na plataforma Change e divulgado em primeira mão por CartaCapital, o texto alerta para a inconstitucionalidade e para o propósito antidemocrático da medida, e segue aberto à adesão de mais apoiadores.
De autoria do deputado Wellington Moura (PRB), vice-líder do governo de João Doria (PSDB) e eleito presidente da comissão, a CPI nasce com o alegado propósito de “investigar irregularidades na gestão das universidades públicas no Estado de São Paulo, em especial quanto à utilização das verbas públicas repassadas a elas”. Em declarações à mídia, parlamentares da bancada governista admitem que o objetivo é apurar o suposto “aparelhamento político” das instituições de ensino pela esquerda. “Vamos analisar como as questões ideológicas estão implicando no orçamento. Eu percebo um predomínio da esquerda nas universidades. Infelizmente, muitos professores levam mais o tema ideológico do que o temático para a sala de aula”, disse Moura ao jornal O Estado de S.Paulo.
Para os signatários do manifesto, a CPI tem caráter vago e sequer se deu ao trabalho de “tipificar crime ou irregularidade a ser investigada”, condição que levou a deputada petista Beth Sahão a apresentar um mandado de segurança contra a sua abertura no último dia 23. “O que está por trás dessa caça às bruxas é algo bem mais palpável que as ideologias de ocasião. O que os deputados governistas desejam é o mesmo que já anunciaram vários dos economistas do primeiro escalão do governo do estado e do País: a desvinculação das verbas destinadas à educação para fazer o quem quiserem com ela. Investimentos que agradem ao todo-podereso mercado, possivelmente!”
O texto observa que a ofensiva contra as instituições de ensino desconsidera o princípio da autonomia universitária, garantido pelo Decreto 29.598/1989, assinado pelo então governador Orestes Quércia. Além de reconhecer a liberdade de cátedra, da gestão pedagógica dos cursos, esse decreto também assegura a autonomia de gestão administrativa e financeira das universidades paulistas. O manifesto alerta para o cerceamento da liberdade de pensamento e expressão.
“A ideia de reprimir cientistas e pensadores que fossem eventualmente de ‘esquerda’, em si mesma, é repugnante e tem de ser repudiada – não pelos que se consideram de esquerda, que, diga-se, nem de longe são maioria na Universidade –, mas por todos que ainda prezam a força do ideal democrático e republicano”, diz o texto. “Não é a esquerda que é atingida com uma aberração parlamentar como essa, mas o próprio coração da democracia, pois se trata de um ato de traição inaceitável por parte de representantes eleitos e legítimos apenas enquanto vige a ideia de democracia”.
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e consultor editorial de CartaCapital, o discurso de caça às bruxas serve apenas para camuflar o interesse de reduzir os investimentos no ensino superior público. “Estamos diante da investida de dois governos, Bolsonaro e Doria, que querem fazer o Brasil regredir a um período pré-medieval. Digo isso porque, mesmo na Idade Média, vista como um período de ‘trevas’, a universidade tinha a sua autonomia respeitada, como atesta o historiador francês Jacques Le Goff”, diz Belluzzo, um dos signatários do manifesto, que atuou como secretário de Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo durante a gestão de Quércia.
Redigido pelo poeta e linguista Carlos Vogt, ex-reitor da Unicamp, e pelo crítico literário Alcir Pécora, professor-titular na mesma universidade, o manifesto contava com mais de mil assinaturas até o fechamento desta reportagem. No texto, Vogt fez questão de desmentir uma fake news difundida pelo presidente Jair Bolsonaro, a de que as universidades privadas produzem mais pesquisas que as públicas. “Em recente artigo publicado na Folha de S.Paulo, Sabine Righetti, pesquisadora da Unicamp e uma das consultoras do Ranking Universitário da Folha, revelou que as instituições públicas são responsáveis por 90% das feitas no País, e um terço da produção científica nacional está concentrada na USP, na Unesp e na Unicamp. Na verdade, elas estão entre as que mais produzem ciência na América Latina”, enfatiza, em entrevista a CartaCapital. “E qual é a especificidade das universidades paulistas, que a fizeram se sobressair no cenário nacional e internacional? Desde 1989, elas gozam de autonomia financeira por força do decreto de Quércia”.
Entre os signatários, figuram José Tadeu Jorge e Hermano Tavares, ex-reitores da Unicamp, o músico Florisvaldo Menezes Filho e o biólogo Célio Haddad, da Unesp, o sociólogo José de Souza Martins, da USP, o médico Erney Plessmann Camargo, ex-presidente do CNPq, e o cientista Luiz Bevilacqua, pesquisador da USP e ex-reitor da Universidade Federal do ABC.


terça-feira, 30 de abril de 2019

PARQUE AUGUSTA PODERIA SER UMA REFERÊNCIA PAULISTANA PARA O LAZER AMBIENTAL E O COMBATE ÀS ENCHENTES. Alvarão


Conhecipelo G1 (Globo) alguns detalhes do Projeto de Construção do Parque Augusta, esquina da Augusta com a Caio Prado na capital paulista. Assustei-me um pouco com o grande número de “atrações” que o projeto pretende instalar naquele espaço, passando por cachorródromo, academia da 3ª idade, playground, praça, trilhas, arquibancada, bosque, etc.. Penso que essa seja uma preciosa oportunidade de conversarmos sobre quais as carênciasurbanas, e são tantas, que um parque dessa natureza deveria considerar como foco prioritário de atenção do empreendimento.
Adianto minha opinião que esse foco de atenção e vocação do novo parque deva estar na disponibilização para a cidade de um grande bosque florestado, ocupando a maior extensão possível da área total disponível. Do ponto de vista ambiental é notória a nobreza das funções associadas a um bosque florestado, seja na amenização da temperatura, na atração e sustentação da fauna urbana, no oferecimento de um ambiente cultural de contemplação e paz espiritual, seja como um laboratório de educação ambiental, etc.
Mas um bosque florestado cumpre também funções hidrológicas de especial importância para uma cidade que tem nas enchentes urbanas um de seus principais dramas. Sempre bom lembrar que a principal causa das enchentes urbanas está na impermeabilização do espaço urbano, com a decorrente perda de sua capacidade de reter águas de chuva. Do que decorre que a cidade acaba lançando, em tempos sucessivamente menores, um imenso volume de águas pluviais sobre um sistema de drenagem que não mais consegue lhe dar a devida vazão. Essa a equação básica das enchentes. As áreas florestadas, diferentemente das impermeabilizadas, conseguem reter até 85% das águas de chuva que recebe, aliviando em muito os sistemas de drenagem que lhes são próximos.
Conceitualmente podemos entender o bosque florestado urbano como um espaço, uma praça, um terreno público ou privado, inteiramente tomado por árvores de pequeno, médio e grande portes. Comporta-se como se constituisse uma porção de uma verdadeira floresta natural, em nosso caso da Mata Atlântica, em todos seus componentes, com destaque à serapilheira,aquele espesso colchão de folhas caídas e restos vegetais que vai se acumulando no chão das florestas naturais. É a serapilheira que proporciona a proteção do solo contra a erosão, dá vida biológica ao solo e o enriquece agronomicamente, torna o solo mais fofo e permeável. Outra característica formidável da serapilheira é absorver ela própria de imediato uma grande quantidade de água das chuvas, reduzindo em muito o volume de água que escorre sobre a superfície do solo e que acabaria chegando aos sistemas de drenagem..
Um bom e conhecido exemplo seria a parte alta do Parque do Trianon, na badalada Av. Paulista da cidade de São Paulo. Com seu bosque florestado e com a implantação de outros dispositivos de acumulação e infiltração de águas de chuva o Parque Augusta poderia orgulhar-se de reter todas as águas de chuva que recebesse, inclusive nos episódios pluviométricos mais intensos. Que vitória em um nova cultura de combate às enchentes!!
Dito isto, aqui fica a forte sugestão para que o Parque Augusta represente esse novo símbolo de áreas verdes urbanas, quais sejam os bosque florestados, verdadeiros piscinões verdes de inestimável função ambiental e hidrológica para as cidades.
Mais longe ainda vai o sonho, que essa nova cultura paisagística seja abraçada pelas nossas administrações municipais, o que nos permitiria, no caso da metrópole paulistana, vê-la aplicada em outras tantas situações semelhantes, como a Chácara do Jockey, no bairro do Ferreira, e, deixem-me sonhar, em uma futura Grande Floresta do Butantã, a ser implantada na grande área hoje ocupada pelo pretensamente aristocrático,falido e urbanisticamente disfuncional, Jockey Club de São Paulo.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
  • Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas
  • Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
  • Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia