quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Haddad ao governo, Lula ao poder, Breno Altman, FSP

Fortaleza do candidato é representar ex-presidente

O jornalista Breno Altman, em debate na Folha em 2016 - Fabio Braga - 28.nov.16/Folhapress
crescimento de Fernando Haddad na disputa presidencial revela a eficácia da política conduzida pelo PT.

Inimigos, adversários e até aliados vaticinavam a derrocada da legenda. As forças mais conservadoras sonhavam com um sistema político expurgado de alternativa viável à esquerda.

O fracasso do governo Temer, ao qual estão fundidos os partidos de centro e direita, especialmente o PSDB de Geraldo Alckmin, despertou o bloco golpista. O aprofundamento da crise econômica e social, associado a escândalos de corrupção, criava base material para possível recuperação do petismo.

As frações do sistema judicial comprometidas com o consórcio do impeachment logo se movimentaram para impedir esse eventual renascimento. Seu alvo passou a ser o ex-presidente Lula, soterrado por processos que o levassem à cadeia e o impedissem de ser candidato em 2018.

Não foram poucas as vozes que passaram a pregar que o campo progressista só teria futuro caso sua direção se deslocasse mais ao centro, com uma candidatura externa ao petismo, como a de Ciro Gomes.

A condenação de seu líder histórico, no entanto, levou o PT a uma tática audaciosa: sustentar a postulação de Lula, operá-la como instrumento de desobediência civil, lançando imediatamente a campanha, na forma de caravanas pelo país.

Essa opção permitiu ao petismo se transformar em coluna vertebral da oposição ao governo Temer, com o ex-presidente atuando como polo agregador da insatisfação popular, ocupando a condição de franco favorito da corrida presidencial.

Embora não tenha havido mobilização popular suficiente para desinterditar a candidatura Lula, sob sua liderança criou-se forte coesão político-social —especialmente entre os mais pobres—, decisiva para um novo nome poder ser impulsionado.

Fernando Haddad não é propriamente um sucessor ou um candidato comum, aos olhos da base eleitoral do PT e de Lula, mas representante do ex-presidente. Essa é a fortaleza de sua candidatura, que poderia ser expressa pelo lema "Haddad ao governo, Lula ao poder".

Setores das elites mal disfarçam sua natureza antidemocrática, dispostos a agir fora da lei para impedir o retorno do PT ao comando do Estado, mas também manobram. Diante da provável falência das candidaturas de centro-direita, especialmente a de Alckmin, tratam de embaralhar o passo da candidatura petista.

Recorrem à ameaça de Jair Bolsonaro para pressionar por uma guinada ao centro, capaz de "unir as forças democráticas", exigindo tanto moderação programática quanto afastamento em relação a Lula e à sua luta por liberdade.

Imaginam possivelmente criar fissuras que confundam o campo petista, enfraquecendo a marcha batida de Haddad para o segundo turno e abrindo flanco para o renascimento de alguma candidatura ao centro.

Ou, ainda, que ele vá para a iminente confrontação contra Bolsonaro desprovido do compromisso antissistema, que é a essência da política que permitiu ao PT retomar o fio da história e reencarnar a esperança de libertação do povo brasileiro.
Breno Altman
Jornalista e fundador do site Opera Mundi

Expedição encontra últimas árvores gigantes da mata atlântica; veja fotos, FSP

Em 21 de setembro comemora-se o Dia da Árvore; mais de 2.000 espécies no Brasil estão ameaçadas

Trecho da mata atlântica no Parque Nacional Pau Brasil, na Bahia
Trecho da mata atlântica no Parque Nacional Pau Brasil, na Bahia Folhapress
    SÃO PAULO
    A exuberância das árvores gigantes chama a atenção do botânico Ricardo Cardim desde que ele era criança. “Sempre as achei fascinantes e pensava como é que podiam crescer tanto”, conta. “Mas elas foram sumindo. São uma sombra da floresta original. Hoje temos árvores jovens que não tiveram tempo de crescer.”
    Nos últimos três meses, Cardim e o fotógrafo Cássio Vasconcellos viajaram para Santa Catarina, Paraná, São Paulo (litoral e interior do estado), Espírito Santo, Bahia e Alagoas em busca das árvores gigantes remanescentes da mata atlântica
    Para achá-las, a dupla contou com a ajuda de acervos históricos, botânicos com grande experiência de campo, funcionários de parques e reservas e dicas via redes sociais. O botânico Luciano Zandoná esteve em todas as expedições.
    O trabalho colaborativo deu frutos: 90 indivíduos foram fotografados.
    A menina dos olhos do botânico é uma figueira, a maior de que se tem conhecimento na mata atlântica, com mais de 40 m de altura e 21,40 m de circunferência, localizada na reserva Legado das Águas, da Votorantim, no estado de São Paulo. Cardim descreve como surreal encontrá-la a apenas cerca de 90 km da capital paulista, após percorrer 11 km de caminhada dentro da reserva.
    Outro grande achado —literalmente— foi a segunda maior árvore do estado de São Paulo, um jequitibá-rosa com mais de 40 m de altura batizado de Matriarca, por ficar próximo do jequitibá-rosa conhecido como Patriarca. Esse último, em Santa Rita do Passa Quatro (SP), é considerado a árvore mais antiga do Brasil, com idade estimada de 3.000 anos.
    A  descoberta do Matriarca foi feita em conjunto com Waldonésio Nascimento, agente do parque estadual do Vassununga, e Fabrício Cunha, gestor do parque da Fundação Florestal.
    Completa o top 3 a maior árvore conhecida de pau-brasil do país, com cerca de 25 metros de altura. A árvore que deu nome ao país começou a ser explorada com a chegada dos portugueses e chegou a ser considerada extinta. 
    Para Cardim, as árvores remanescentes contam uma história da mata atlântica. “Muita gente hoje acha que a mata é só um fragmento perto da casa de praia”, diz ele.
    No ano passado, Cardim foi o curador da exposição “Remanescentes da Mata Atlântica & Acervo MCB” no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A ideia era conectar os móveis antigos com as árvores que deram origem a eles. Fotos antigas da mata contam a história dela e de seu desmatamento.
    A própria localização do museu, às margens da antiga várzea do rio Pinheiros, abrigava formações florestais de matas ciliares em diques úmidos e secos que foram suprimidas e aterradas.
    “Na exposição, muita gente me perguntava se ainda existiam muitas das árvores centenárias retratadas nas imagens. E não se sabia. Faltava preencher essa lacuna.”
    A expedição foi possível graças a quatro patrocinadores: Fibria Celulose, Reservas Votorantim, Viveiros Fábricas de Árvores e Café Orfeu. O retrato das árvores centenárias remanescentes virará um livro, a ser lançado em novembro pela editora Olhares.