quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Reforma trabalhista pode custar caro à Previdência, FSP

Substituição de vagas formais por informais vai na contramão do que previam defensores

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados na terça-feira (31) reforçaram a tendência de aumento da informalidade no mercado de trabalho brasileiro.
No confronto com o mesmo trimestre de 2017, o número de empregados sem carteira assinada subiu 3,5%, ante queda de 1,5% nos postos com carteira assinada no setor privado.
Embora o número de empregos formais venha caindo desde o início da crise, o número de trabalhadores sem carteira e por conta própria só começou a crescer no segundo trimestre de 2016.
A substituição dos postos de trabalho formais por informais vai na contramão do que previam muitos defensores da reforma trabalhista. A hipótese básica desse tipo de reforma é que, ao flexibilizar as regras dos contratos de trabalho e reduzir os custos com a mão de obra, a formalização seria estimulada.
Talvez por isso, o aumento da informalidade tenha sido interpretado inicialmente como uma primeira etapa no processo de recuperação da economia, que logo daria lugar à geração de empregos formais.
Estudo do banco Credit Suisse divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo na segunda-feira (30), após examinar as seis crises da economia brasileira desde 1992, concluiu que a recuperação dos empregos informais só antecedeu a dos empregos formais em duas ocasiões (nos anos de 1999 e 2003).
A reforma trabalhista não parece ter mudado essa história. Ao contrário, ao prejudicar o poder de negociação dos trabalhadores, pode estar reforçando a estagnação dos salários e contribuindo para frear a recuperação do consumo das famílias e do nível de atividade econômica.
Segundo o IBGE, o rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos se manteve estável tanto em relação ao trimestre anterior quanto em relação ao mesmo trimestre de 2017. O rendimento médio real foi estimado em R$ 2.198 entre abril e junho deste ano —o mesmo valor, descontada a inflação, que vigorava no segundo trimestre de 2015. A massa de rendimentos, que soma as remunerações de todos os trabalhadores, tampouco se mexeu.
Além de não estar contribuindo para a recuperação da economia, que precisa de algum tipo de injeção de demanda —externa ou pública— para sair do marasmo em que se encontra, a reforma trabalhista pode estar prejudicando a arrecadação da Previdência.
Um estudo do Cesit/Unicamp (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas) publicado em outubro de 2017 construiu diversos cenários para prever o impacto da reforma sobre a arrecadação previdenciária.
Em todos eles, o pressuposto é que as mudanças levariam, de um lado, à formalização de trabalhadores sem carteira e por conta própria, aumentando assim a base de arrecadação do sistema, e, de outro, à pejotização de relações de trabalho, que, por levar à migração de empregados celetistas para contribuições via Simples ou MEI (Microempreendedor Individual), reduz essa base de arrecadação.
No cenário com pejotização tímida (5%) e formalização intensa (20% dos conta própria e 20% dos sem carteira), a perda de arrecadação da Previdência gerada pela reforma seria de R$ 4 bilhões no ano. Já no cenário com pejotização intensa (20%) e formalização tímida (5% dos conta própria e 5% dos sem carteira), a perda seria de R$ 30 bilhões.
Infelizmente, os últimos anos têm sempre dado razão a quem trabalha com os piores cenários. Para grande sofrimento dos mais pobres e socialmente mais vulneráveis.
Laura Carvalho
Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico".
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Parceria entre Embrapa e Marfrig faz 'carne de baixo carbono', FSP

Sistemas de produção neutralizam ou reduzem a emissão de metano emitido pelos animais

Mauro Zafalon
SÃO PAULO
A qualidade sempre foi prioridade para os consumidores. As exigências, porém, vêm aumentando.
Origem dos produtos e processos de produção passaram a fazer parte da demanda. O resultado é que o consumidor quer, cada vez mais, produto de qualidade, mas sustentável.
Como medir isso? A Embrapa desenvolve desde 2015 meios de aferição de produtos e de modelos de produção para indicar sustentabilidade.
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Começou com a carne bovina, ao montar o que a empresa chama de marcas-conceito. São sistemas de produção sustentáveis certificados, como o da "carne carbono neutro" e o da "carne de baixo carbono".
Linha de produção e corte de carne do frigorífico Marfrig, em Promissão, São Paulo - Alf Ribeiro - 09.abr.2018/Folhapress
Esses sistemas de produção neutralizam ou reduzem a emissão de metano emitido pelos animais, via integração de lavouras e florestas e com manejo adequado do solo.
A parceria com uma grande empresa do mercado para implementar a proposta agora dá força ao modelo.
É o que Embrapa, uma empresa de pesquisa, e a Marfrig, a segunda maior processadora de carne vermelha do mundo e uma grande compradora de animais, estão fazendo.
Cleber Soares, diretor de inovação e de tecnologia da Embrapa, diz que "essa parceira coloca a carne bovina brasileira em um novo patamar e atende, cada vez mais, um mercado exigente em práticas sustentáveis de produção".
Para Maurício Manduca, gerente corporativo de compra de gado da Marfrig, "a parceira vem reforçar toda a estratégia no desenvolvimento de pesquisas e de programas relacionados à questão ambiental e de bem-estar dos animais da empresa".
Além disso, segundo Manduca, permite oferecer ao consumidor um produto que tenha, além de qualidade, outros atributos.
Para Leonel Almeida, gerente de sustentabilidade da Marfrig Beef, "esse sistema valida e mensura a produção, dando mais transparência de como a carne brasileira é produzida".
Manduca diz que, com essa parceira, é possível a busca de mercados com demandas e nichos específicos para esse produtos. Quanto à valorização da carne, "é um ponto a ser tratado com o tempo".
Soares, da Embrapa, diz acreditar, no entanto, que levar ao mercado um produto com qualidade e sustentabilidade agrega valor e abre portas para outros produtos brasileiros, além das carnes.
Segundo a empresa de pesquisa, a carne carbono neutro é produzida em sistemas integrados com árvores plantadas. Elas são responsáveis pelo sequestro de carbono e possibilitam a neutralização da emissão de metano dos animais.
Já a carne de baixo carbono pode ser produzida em sistemas integrados com lavouras e pastagens. Um manejo adequado do solo permite a estocagem de carbono na terra.
A Marfrig deve implementar o projeto de carne carbono neutro já, mas o de carne de baixo carbono precisa de alguns ajustes. A previsão é para janeiro do próximo ano.
As áreas destinadas à produção de carnes com maior sustentabilidade aumentam no país. Em 2011, a Embrapa apontou 11,7 milhões de hectares com integração de lavoura, pecuária e florestas. Em 2017, eram 14 milhões.
O censo agropecuário brasileiro do IBGE, divulgado na semana passada, confirma esses números.
Segundo o instituto, as áreas cultivadas com espécies florestas, lavouras e pastagens somavam 13,9 milhões de hectares no ano passado.