terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Emissoras se agitam na disputa digital, por Orlando Barrozo

O colega Mauricio Stycer publica na Folha de São Paulo deste domingo um resumo da verdadeira novela em que se transformou a transição brasileira para a TV Digital. Este é o link para o artigo. Há nos bastidores uma disputa interessante entre emissoras abertas e operadoras de TV paga, que vai além daquela outra que comentamos aqui alguns dias atrás. Basicamente, é um duelo 4×4: de um lado, Record, Band, Rede TV e SBT; de outro, Claro/Net, Sky, Oi e Vivo.
As redes querem fazer valer seu direito de cobrar para ceder o sinal transmitido pelas operadoras – algo que nem a Globo pleiteia (porque não precisa). O assunto está no Cade, mas agora, com a proximidade do switch-off em São Paulo, ganha novas proporções. Toda operadora é obrigada, por lei, a oferecer os canais abertos a seus assinantes, sem cobrança adicional, mas até isso hoje está sendo questionado.
O faturamento das emissoras vem caindo ano a ano, e não há sinal de que vá se recuperar tão cedo. A audiência da TV aberta, como se sabe, nunca mais voltará a ser aquela de dez anos atrás. A própria Globo sofre com essa mudança de comportamento do telespectador. Mas, ao contrário das demais, investe em novas tecnologias, compra de direitos, exportação de seus conteúdos e no fortalecimento da Globosat, seu braço para o segmento de TV paga e multimídia.
O problema das redes abertas é que a maior parte de suas grades hoje está tomada pelo aluguel irregular de espaço, principalmente às igrejas e aos canais de televendas. Acabaram desenvolvendo uma interessante versão do velho dilema do ovo e da galinha: com programação sofrível, afastam os telespectadores; sem audiência, não têm publicidade e não podem melhorar sua produção. Investem quase nada em conteúdos próprios e contam com a conivência da Anatel e do Ministério das Comunicações (há limites para alugar horários a terceiros).
Nenhuma emissora admite que se, por exemplo, a Net tirar de seu guia de programação a Rede TV, poucos assinantes irão perceber! Mas essa é a realidade.


Globo vs Netflix: começo da batalha

Em entrevista à Folha de São Paulo, na semana passada, o diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, deixa claro que a Netflix é o inimigo a ser batido. Enquanto a maioria das operadoras trata o assunto apenas em off (algumas sequer admitem mencionar o nome do site americano), a Globosat – que fornece os conteúdos às operadoras – não esconde a natureza da batalha. Segundo Pecegueiro, está para sair uma versão VoD do Telecine Play, que irá oferecer justamente o tipo de programa em que a Netflix fraqueja: filmes recentes. Seria um acordo com as produtoras de Hollywood, que assim ganhariam muito em exposição, reduzindo sua dependência em relação à Netflix (mais detalhes aqui).
Até hoje, a Globosat mantinha o discurso de que jamais iria bater de frente com as operadoras. Net/Claro, Vivo/GVT e Oi respondem pelo grosso do faturamento da programadora, que detém alguns dos canais de maior audiência e/ou apelo comercial (SporTV, Multishow, Telecine…). Quase todos esses canais já podem ser acessados online, gratuitamente, mas apenas pelos assinantes de uma operadora. Agora, a ideia é deixar que qualquer um acesse, pagando à própria Globosat uma assinatura mensal baixa, como acontece na Netflix. Ao jornal, Pecegueiro diz que a Globosat não vai “atropelar” a aliança que mantém com as operadoras.
Será curioso ver o modelo proposto pela Globo, que já lançou o Globo Play (para conteúdos da rede aberta – leiam aqui) e que prevê serviços de VoD similares em esportes (Premiere), shows (Multishow) e até séries nacionais, conteúdos que a Globo domina como poucas redes no mundo. Curiosamente, a entrevista saiu às vésperas da estreia de 3%, primeira série produzida pela Netflix no Brasil. Semanas atrás, o fundador da empresa americana, Reed Hastings, deu entrevista à própria Folha de SP citando suas negociações para exibir conteúdo da Globo. “Eles não licenciam conteúdo para a Netflix, nos vêem como concorrentes, o que é justo”, disse ele. “É como dois times competindo”.
Esse campeonato está apenas começando.

EDITORIAL ESTADÃO A Cracolândia, de novo


O confronto entre usuários de drogas e policiais militares (PMs), na quinta-feira passada na Cracolândia – que deixou oito feridos, dos quais seis policiais –, deixou claro mais uma vez aquilo que qualquer observador atento já sabia, até porque tudo acontece ali à vista de todos, isto é, que muito pouca coisa mudou naquela região, apesar dos esforços feitos nos últimos anos pela Prefeitura e pelo governo do Estado. Tanto na recuperação dos dependentes como no combate ao tráfico quase não se avançou.
A situação é sempre tão tensa na Cracolândia que basta um incidente mínimo – ou mesmo uma simples suspeita a respeito – para desencadear um conflito. Desta vez, tudo começou quando PMs abordaram dois suspeitos na Rua Helvétia e foram atacados por um grupo de dependentes inconformados com essa ação corriqueira. Eles partiram para cima dos PMs com paus e pedras. No auge do conflito, estima-se que chegou a cerca de 300 o número de usuários de drogas enfrentando os PMs, que haviam recebido reforço da Força Tática. Ergueram barricadas e atearam fogo a sacos de lixo.
A PM reagiu, como não poderia deixar de fazer, com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. O fato de seis dos oito feridos serem PMs não deixa dúvida sobre em quem deve cair a responsabilidade pelo conflito. Os outros dois eram jornalistas. Um PM e um jornalista foram atingidos por tiros disparados, pelo que se apurou, por integrantes do chamado “fluxo”, que é a aglomeração dos dependentes.
A secretária municipal de Desenvolvimento Social, Soninha Francine, criticou a ação da PM em rede social, segundo o jornal Folha de S.Paulo: “Inadmissível a polícia tacar bombas dentro da Tenda Helvétia. Seja qual for o fato que motivou a entrada da PM, a ação em si foi absurda”. Que a secretária reveja ou não sua posição depois de se informar melhor sobre o que ocorreu – o que seria desejável –, a verdade é que sua primeira reação corresponde inteiramente ao politicamente correto, que consiste em achar que a polícia deve ser sempre condenada por excessos, quer ela os tenha cometido ou não.
Quem pensa assim esquece – embora isso seja elementar – que a polícia é paga e armada pela sociedade para manter a ordem pública. E que quando atacada, como foi o caso, tem de se defender, sob pena de se desmoralizar e, claro, deixar de cumprir seu dever. Não há dúvida de que seus eventuais excessos têm de ser punidos com rigor, mas daí a achar que ela deve ser sempre considerada suspeita de fazer isso vai uma enorme distância.
Sobre isso não deveria pairar dúvida, porque a polícia tem um papel fundamental a cumprir na Cracolândia. Esse incidente mostrou que o que se deve reprovar no governo do Estado, que comanda a PM, é justamente sua ação tímida no combate ao tráfico de drogas naquela região, juntamente com a Polícia Civil. É público e notório que se vende droga ali a qualquer hora do dia e da noite. Sem repressão competente e continuada ao tráfico não será possível avançar na solução do problema.
Outra coisa que ficou igualmente evidente no confronto de quinta-feira é que na outra ponta do problema – a assistência médica e social aos dependentes, voltada para seu tratamento e recuperação – a situação também não melhorou grande coisa. O “fluxo” não só continua onde sempre esteve, como seus integrantes se mostram dispostos a enfrentar a polícia para manter seus hábitos e a ação de seus fornecedores.
O prefeito João Doria, que ensaia seus primeiros passos e já anunciou que pretende atacar o problema, deve estar atento a essas realidades. Qualquer solução passa necessariamente por uma combinação de assistência aos dependentes e combate ao tráfico. Não há muito o que inventar. Nos dois casos, o avanço depende de estreita colaboração entre os governos municipal e estadual. Como Doria e o governador Geraldo Alckmin não se cansam de proclamar sua perfeita sintonia, essa é uma boa oportunidade a ser aproveitada.

MAIS CONTEÚDO SOBRE:

26.02.17 | Setor de turismo de cruzeiro investe para reduzir impacto ambiental







São Paulo – Eficiência energética, gestão de resíduos e combustíveis limpos estão entre as iniciativas para aumentar a pegada ecológica da atividade

Divulgação
Tiago Reis, para o Procel Info
São Paulo - A temporada de cruzeiros marítimos está a todo vapor no Brasil. Somente no período do Carnaval, entre 24 de fevereiro e primeiro de março, são esperados o atracamento de 14 transatlânticos no Porto do Rio de Janeiro, com mais de 50 mil pessoas desembarcando na cidade durante os dias de folia. Já no Porto de Santos e de Salvador, são esperadas outras dez mil pessoas, o que faz deste um dos períodos mais movimentados para o turismo de cruzeiro no país.

A temporada oficial 2016/2017, que vai de novembro a abril, deve transportar mais de 380 mil turistas em 108 roteiros que vão passar pelas cidades de Rio de Janeiro, Búzios, Ilha Grande, Angra dos Reis e Cabo Frio (RJ), Santos e Ilha Bela (SP), Ilhéus e Salvador (BA), Recife (PE), Maceió (AL), Porto Belo (SC) e Fortaleza (CE). Ao todo, sete navios, de quatro armadoras (empresas donas dos navios de cruzeiro) navegarão pela costa brasileira oferecendo aos seus hóspedes todo tipo de conforto que esses 'hotéis flutuantes' podem proporcionar.

Mas com o crescimento desse tipo de atividade, aumenta também as preocupações com o impacto ambiental. Com uma mega estrutura, que em alguns casos pode ser comparada a de uma cidade, essas embarcações transportam em média três mil pessoas, mas em alguns casos, sua capacidade pode passar dos oito mil ocupantes, entre passageiros e tripulação. Grandes obras de engenharia e com vários recursos tecnológicos, esses navios tem altura superior a de um prédio de 15 andares, pesando mais de 100 mil toneladas, com mais de 300 metros de comprimento. Com embarcações e temporadas cada vez maiores, questões como gestão de resíduos, água e esgoto, energia, poluição dos oceanos e emissão de gases de efeito estufa ganham cada vez mais evidência.

Segundo a CLIA Abremar Brasil (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos) as principais companhias armadoras estão intensificando a prática de eco-friendly (produto amigo do meio ambiente) em suas operações. A entidade informa que é tendência em todo o mundo a adoção de estratégias que minimize o impacto ambiental da atividade. Soluções como reciclagem, reutilização, uso consciente de água, energia e combustível já é uma prática comum nas embarcações mais modernas e essas atitudes também estão presentes nas embarcações que trafegam pela costa brasileira.

“O compromisso ambiental das companhias de cruzeiros marítimos é honrado com as estratégias mais inovadoras. Não só porque é a coisa certa a ser feita, mas também porque essa saúde dos mares, praias, rios e dos destinos em geral é fundamental para o sucesso da nossa atividade. E a CLIA (Cruise Lines International Association) tem avançado com o aconselhamento e o consentimento de seus integrantes, todos interessados em políticas destinadas a melhorar a proteção do ambiente, o que, em muitos casos, até superando as exigências das melhores práticas legais existentes”, explica Marco Ferraz, presidente da CLIAAbremar Brasil.

Os números dessas 'cidades flutuantes' impressionam. Em média, cada navio de grande porte consome três toneladas de combustível por hora, quase cinco toneladas de carne (bovina, suína, peixe e frango) por dia além da produção de mais 40 mil refeições diárias. Para o seu funcionamento, os navios necessitam de 40 mil kW de potência para a propulsão dos motores e outros 10 MW de energia para o acionamento dos serviços de bordo, como iluminação, climatização e refrigeração. Também, numa viagem de sete dias, são produzidos cerca de 950 mil litros de esgoto humano e águas cinzas.

A CLIA Abremar informa que as armadoras, quando estão no Brasil, cumprem todas as legislações e convenções internacionais, além de atender os requisitos sanitários da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A entidade revela que todos os navios que trafegam pelo litoral brasileiro estão equipados com sistemas avançados de tratamento de água, descarte e reciclagem de lixo, tratamento de efluentes, segurança ambiental, para que nenhum tipo de lixo seja despejado nos oceanos.
Aumentar a eficiência energética e o uso de combustíveis mais limpos estão entre as prioridades das companhias de cruzeiros

“Graças a esses esforços, alguns navios já conseguem reaproveitar 100% de seus resíduos gerados, seja por doação, reciclagem ou convertendo-os em energia. Nos navios, a reciclagem por passageiro é 60% maior do que a reciclagem feita por uma pessoa em terra”, completa Ferraz.

Outro ponto que está recebendo a atenção das armadoras de navios é a questão da gestão de energia. Quanto maior o tamanho da embarcação, maior o consumo de energia. Para evitar um aumento da demanda, e consequentemente reduzir os níveis de poluição, já que a energia a bordo é produzida por meio de combustível fóssil, a eficiência energética tornou-se prioridade. A adoção de motores eficientes, iluminação de LED, equipamentos eficientes estão entre as principais soluções adotadas pelo segmento.

A MSC Cruzeiros e a Royal Caribbean, duas das principais companhias que atuam no setor, tem adotado uma série de medidas para reduzir o consumo de energia em suas operações. A MSC passou a utilizar dispositivos para economizar energia, desde a otimização dos aparelhos de ar condicionado até os sistemas de monitoramento das cabines. A postura em busca da sustentabilidade rendeu a empresa as certificação ISO 50.001, para a gestão de energia de três embarcações, e a ISO 14.001, pela gestão ambiental de suas operações, ambas auditadas pela Bureau Veritas.

Já a Royal Caribbean tem investido nos últimos anos em melhorar e eficiência energética em alto mar de seus navios. Para isso, em 2016 a companhia anunciou que vai passar a utilizar gás natural liquefeito (GNL) e unidades de células de combustível nas novas embarcações da empresa. Essas medidas reduzirão drasticamente a emissão de gases de efeito estufa. Os novos navios devem entrar em operação a partir de 2022. Segundo Michael Bayley, presidente e CEO da Royal Caribbean International, a nova classe de cruzeiros vai trazer uma série de inovações para a indústria náutica tornando essa atividade mais segura, confiável e eficiente em termos energéticos.

Além da modernização das embarcações, a Royal Caribbean também investiu em soluções para reduzir a demanda de energia. Entre elas, está a adoção de equipamentos de bordo como TVs, cafeteiras, fornos e máquinas de lavar louça com alto nível de eficiência, iluminação econômica em toda a frota, instalação de películas nos vidros para reduzir a transmissão de calor do sol e a utilização do ar-condicionado e a otimização do sistema de climatização, que reduziu em aproximadamente 10% o consumo de energia dos equipamentos de aquecimento, ventilação e ar-condicionado. O design do casco e dos propulsores e o consumo consciente da água potável produzida em alto mar, também ajudaram a reduzir o consumo de energia.

“As linhas de cruzeiro colocam alta prioridade na eficiência energética como parte de seu programa de proteção ambiental. Os investimentos incluem inovações, como motores eficientes em termos energéticos, revestimentos do casco para reduzir a fricção e o consumo de combustível, economia de energia com luzes LED, aparelhos modernos e com maior eficiência, e reutilização de água quente ou fria, que circulam pelas cabines para aquecê-las ou esfriá-las, reduzindo o uso de ar condicionado”, destaca Ferraz.

As armadoras, segundo o dirigente, também estão atuando junto com cientistas e pesquisadores para que novas soluções sejam implementadas para reduzir os impactos ambientais do turismo de cruzeiro. Entre as novas tecnologias em estudo, está a de melhorar a utilização do vento a favor e de elevar o nível das fontes de energia mais limpas como forma de reduzir a emissão de CO2. Para Ferraz, com essas iniciativas e uma maior transparência das companhias, com a divulgação e cumprimento das normas ambientais, a navegação de cruzeiro vai conseguir mostrar para a sociedade que essa atividade econômica utiliza de forma equilibrada e sustentável os rios e oceanos que navegam contribuindo para a preservação do meio ambiente marinho e das comunidades de destino. “Oceanos bonitos e destinos atrativos e saudáveis são pontos chave para o turismo e deles depende nossa sobrevivência”, conclui.