O colega Mauricio Stycer publica na Folha de São Paulo deste domingo um resumo da verdadeira novela em que se transformou a transição brasileira para a TV Digital. Este é o link para o artigo. Há nos bastidores uma disputa interessante entre emissoras abertas e operadoras de TV paga, que vai além daquela outra que comentamos aqui alguns dias atrás. Basicamente, é um duelo 4×4: de um lado, Record, Band, Rede TV e SBT; de outro, Claro/Net, Sky, Oi e Vivo.
As redes querem fazer valer seu direito de cobrar para ceder o sinal transmitido pelas operadoras – algo que nem a Globo pleiteia (porque não precisa). O assunto está no Cade, mas agora, com a proximidade do switch-off em São Paulo, ganha novas proporções. Toda operadora é obrigada, por lei, a oferecer os canais abertos a seus assinantes, sem cobrança adicional, mas até isso hoje está sendo questionado.
O faturamento das emissoras vem caindo ano a ano, e não há sinal de que vá se recuperar tão cedo. A audiência da TV aberta, como se sabe, nunca mais voltará a ser aquela de dez anos atrás. A própria Globo sofre com essa mudança de comportamento do telespectador. Mas, ao contrário das demais, investe em novas tecnologias, compra de direitos, exportação de seus conteúdos e no fortalecimento da Globosat, seu braço para o segmento de TV paga e multimídia.
O problema das redes abertas é que a maior parte de suas grades hoje está tomada pelo aluguel irregular de espaço, principalmente às igrejas e aos canais de televendas. Acabaram desenvolvendo uma interessante versão do velho dilema do ovo e da galinha: com programação sofrível, afastam os telespectadores; sem audiência, não têm publicidade e não podem melhorar sua produção. Investem quase nada em conteúdos próprios e contam com a conivência da Anatel e do Ministério das Comunicações (há limites para alugar horários a terceiros).
Nenhuma emissora admite que se, por exemplo, a Net tirar de seu guia de programação a Rede TV, poucos assinantes irão perceber! Mas essa é a realidade.
Globo vs Netflix: começo da batalha
Em entrevista à Folha de São Paulo, na semana passada, o diretor-geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, deixa claro que a Netflix é o inimigo a ser batido. Enquanto a maioria das operadoras trata o assunto apenas em off (algumas sequer admitem mencionar o nome do site americano), a Globosat – que fornece os conteúdos às operadoras – não esconde a natureza da batalha. Segundo Pecegueiro, está para sair uma versão VoD do Telecine Play, que irá oferecer justamente o tipo de programa em que a Netflix fraqueja: filmes recentes. Seria um acordo com as produtoras de Hollywood, que assim ganhariam muito em exposição, reduzindo sua dependência em relação à Netflix (mais detalhes aqui).
Até hoje, a Globosat mantinha o discurso de que jamais iria bater de frente com as operadoras. Net/Claro, Vivo/GVT e Oi respondem pelo grosso do faturamento da programadora, que detém alguns dos canais de maior audiência e/ou apelo comercial (SporTV, Multishow, Telecine…). Quase todos esses canais já podem ser acessados online, gratuitamente, mas apenas pelos assinantes de uma operadora. Agora, a ideia é deixar que qualquer um acesse, pagando à própria Globosat uma assinatura mensal baixa, como acontece na Netflix. Ao jornal, Pecegueiro diz que a Globosat não vai “atropelar” a aliança que mantém com as operadoras.
Será curioso ver o modelo proposto pela Globo, que já lançou o Globo Play (para conteúdos da rede aberta – leiam aqui) e que prevê serviços de VoD similares em esportes (Premiere), shows (Multishow) e até séries nacionais, conteúdos que a Globo domina como poucas redes no mundo. Curiosamente, a entrevista saiu às vésperas da estreia de 3%, primeira série produzida pela Netflix no Brasil. Semanas atrás, o fundador da empresa americana, Reed Hastings, deu entrevista à própria Folha de SP citando suas negociações para exibir conteúdo da Globo. “Eles não licenciam conteúdo para a Netflix, nos vêem como concorrentes, o que é justo”, disse ele. “É como dois times competindo”.
Esse campeonato está apenas começando.
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