terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Governo concede licença para Belo Sun extrair ouro na região do Xingu, do G1


Projeto mineral deve funcionar por 12 anos na região do Xingu.
Estado espera arrecadar R$ 60 milhões com royalties minerais.

Do G1 PA
Empreendimento Belo Sun pode causar danos irreparáveis a comunidades ribeirinhas e indígenas que vivem na região da volta grande do Xingu, no Pará. (Foto: Reprodução/TV Liberal)Empreendimento Belo Sun teve licença concedida pela Semas (Foto: Reprodução/TV Liberal)
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do governo do Pará conceceu nesta quinta-feira (2) a licença de instalação para a empresa canadense Belo Sun extrair ouro por 12 anos no município de Senador José Porfírio, na região do Xingu.  A empresa já possui Licença Prévia (LP) aprovada pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) e expedida pela Semas em 2014.
O projeto da mineradora Belo Sun é polêmico. Especialistas acreditam que ele pode causar danos irreparáveis ao meio ambiente, e a defensoria pública do estado chegou a pedir asuspensão de sua licença.
Segundo o governo do Pará, foram três anos de análises para a liberação desta licença. A expectativa é que o projeto gere 2.100 empregos diretos na fase de implantação, e 526 na fase de operação.
Ao longo dos 12 anos, a empresa deve pagar mais de R$ 60 milhões em royalties de mineração para o estado - quase R$ 5 milhões por ano. O valor pago em impostos deve ser ainda maior: cerca de R$ 130 milhões para o país, estado e município durante o período de instalação, e depois R$ 55 milhões por ano.
Condições para a licença
Uma das exigências para a emissão da licença foi que a economia paraense fosse beneficiada pelo projeto, por isso a produção de ouro no Xingu deve ser realizada no estado. A empresa se comprometeu a instalar uma refinaria, verticalizando a produção.
Para a liberação da licença, a Secretaria exigiu mudanças no projeto, impedindo a captação de água do rio Xingu e exigindo o monitoramento da qualidade do ar, nível de ruído, vibração e gerenciamento de resíduos, além da recuperação das áreas degradadas.
A Semas também solicitou que a empresa elaborasse estudos para garantir a segurança das comunidades indígenas da região, que vivem entre 12 e 16 km de distância do garimpo. De acordo com a legislação, a distância mínima entre um garimpo e uma aldeia deve ser de 10 km.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Governo Alckmin vai devolver R$ 120 milhões 'carimbados' à Fapesp



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Após a pressão realizada por cientistas e associações acadêmicas, o governo de São Paulo deve devolver ao orçamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) R$ 120 milhões que seriam destinados diretamente para institutos de pesquisa do Estado, com a finalidade de modernizá-los.
O montante representa cerca de 10% do R$ 1,116 bilhão previsto inicialmente para as atividades normais da instituição, que já envolve apoio à pesquisa científica e tecnológica.
A retirada desse recurso contrariava a constituição estadual de 1989, que afirma que o Estado destinará o mínimo de 1% de suas receitas tributárias à fundação.
A solução encontrada pelo governo para remediar a situação foi devolver à tutela da Fapesp os R$ 120 milhões –que haviam sido retirados pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp)– com a condição de que eles fossem integralmente investidos nos institutos de pesquisa do Estado.
Adriano Vizoni/Folhapress
Presidente da Fapesp, José Goldemberg; fundação vai receber R$ 120 mi 'carimbados' do governo
Presidente da Fapesp, José Goldemberg; fundação vai receber R$ 120 mi 'carimbados' do governo
Até então, segundo o presidente da Fapesp, o físico José Goldemberg, anualmente eram investidos cerca de R$ 50 milhões nesses institutos, mas alguns, como o Butantan, acabam sendo mais favorecidos.
"As razões são complexas –a própria estrutura não permite que eles acessem os recursos da Fapesp", diz Goldemberg. "Nós já estávamos fazendo um plano de expansão do apoio aos institutos, mas não é uma coisa que dá para fazer de uma hora para outra. É primeiro preciso melhorar os recursos humanos."
"Não houve um sinal amarelo por parte da Alesp. Não fui convocado para dar explicações. Não houve oportunidade de discutir melhor o assunto. Mesmo assim, acabou sendo um final feliz."
Isso porque a decisão da Alesp acelerou a implementação de planos para que a Fapesp conseguisse apoiar de forma mais eficaz os institutos estaduais –uma área que não vinha sendo coberta adequadamente, na avaliação de Goldemberg.
"Serão programas especiais, que podem envolver até infraestrutura. Além de comprar um aparelho caro, um instituto pode fazer o prédio para abrigá-lo. Isso foi o que ficou acertado com o secretário [estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Márcio França (PSB), que também é vice-governador]", diz o presidente da fundação.
Situação semelhante aconteceu em 1995, relata. "R$ 300 milhões foram destinados à modernização de instituições de pesquisa do Estado."
Apesar do susto, ele considera que a manutenção do 1% de receitas para a Fapesp é algo para se comemorar. "Nós vemos outras fundações estaduais de amparo à pesquisa sendo muito atingida pelas restrições orçamentárias. Sem inovação e pesquisa científica e tecnológica, nós não vamos sair do atoleiro."
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Mário França disse que "Eles [da Fapesp] estavam lá trabalhando nisso já há uns seis meses. O Goldemberg se reuniu com vários institutos; então estava bem encaminhado, só que no ritmo deles lá, da Fapesp, enfim. Imaginaram que isso não ia acontecer, naturalmente."
"Ou seja, a decisão da Alesp só antecipou uma certa tendência que a Fapesp já tinha de poder aumentar o valor e criar chamadas exclusivas para os institutos", disse. 

Por que um presidente eleito, como Trump, não pode fazer tudo o que quer, NEXO

por
  • João Paulo Charleaux
  •  
05 Fev 2017 
(atualizado 05/Fev 00h25)

Em seus primeiros dias na Casa Branca, o presidente dos EUA, Donald Trump, publicou uma série de medidas que acabaram questionadas na Justiçanas ruas e até mesmo dentro de sua própria equipe de governo.
Embora todas as “ordens executivas” e “memorandos presidenciais” publicados na primeira semana constassem numa plataforma eleitoral que havia sido vitoriosa meses antes, sua implementação não foi fácil.
A resistência de vários setores colocou em questão os limites do poder de políticos que, referendados nas urnas, acreditam ter o respaldo para governar sem dar satisfação aos “derrotados”.

Ação e reação

O MURO DO MÉXICO
Entre as promessas de campanha cumpridas agora está a autorização para a construção de um muro, fechando 3.000 quilômetros de fronteira com o México. No dia seguinte a esse anúncio, Trump teve como resposta o cancelamento da visita que o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, faria a Washington.
A POLÍTICA IMIGRATÓRIA
Trump também restringiu drasticamente a entrada de refugiados nos EUA e impediu que cidadãos de sete países pisassem em solo americano. Como resposta, milhares de pessoas protestaram no aeroporto JFK, em Nova York, enquanto advogados, no saguão do aeroporto, produziam habeas corpus para estrangeiros que estavam presos na imigração por conta da nova ordem da Casa Branca.
MEDIDAS CONTRA O ABORTO
A série de medidas polêmicas incluiu ainda a retomada das construções de oleodutos que estavam paradas por ordem do governo anterior e a proibição de financiamento de ONGs que promovem o aborto no exterior. Nos dois casos, a imprensa apontou abusos e os cidadãos protestaram nas ruas.

O debate sobre os limites presidenciais

Alguns eleitores e políticos republicanos acusaram a imprensa de agir como um partido de oposição a Trump, e muitos manifestantes foram tomados por maus perdedores de uma disputa eleitoral que recém terminara.
Para entender os limites do mandato presidencial e as característica da democracia, como um regime de maiorias, o Nexo fez três perguntas a dois especialistas: 
  • Wagner Pralon Mancuso, graduado em filosofia e em ciências sociais, mestre e doutor em ciência política, professor da USP
  • Thomaz Pereira, professor de direito constitucional na FGV Rio, mestre e doutorando pela escola de direito de Yale, nos EUA

Se a democracia é o sistema de governo da maioria, por que Trump deveria ceder à agenda de seus opositores depois de eleito?

WAGNER PRALON MANCUSO O chefe de um governo democrático e constitucional não recebe carta branca ao ser eleito. Ele é obrigado a obedecer à Constituição. Então, Trump não é obrigado a ceder à agenda dos opositores, mas é obrigado a respeitar a Constituição. Tecnicamente falando, Trump nem obteve a maioria dos votos populares, mas isso nos EUA não importa, porque lá é eleito quem obtiver a maioria dos votos do colégio eleitoral, composto pelos representantes dos Estados, e isso sim ele obteve. Mas o fato de ser um presidente legítimo não o autoriza a contrariar a lei maior do país [a Constituição].
THOMAZ PEREIRA Há duas preocupações em regimes de maioria. Uma delas é evitar que se consolide um poder político arbitrário, daquele líder que, eleito por maioria, começa a tomar atitudes que não têm o apoio da maioria que o elegeu. A outra preocupação é com o contrário disso, que é o líder que, eleito por maioria, impõe aos demais uma ditadura da maioria.
Trump foi eleito por uma maioria que não é sequer a maioria do voto popular, por conta de especificidades do modelo americano. Ele não teve a maioria dos votos americanos, mas ganhou em mais Estados, ele ganhou o voto do colégio eleitoral, que tem a ver com a representação dos Estados no sistema. Então ele não fala pela maioria da população. Mas, mesmo que ele falasse, isso é algo que tem de ser o tempo todo testado. Nenhuma maioria dá cheque em branco.

Se um presidente é eleito para executar o plano de governo que propôs nas eleições, por que esperar que Trump promulgue leis que sejam diferentes do plano de governo que ele mesmo apresentou na campanha?

WAGNER PRALON MANCUSO Numa campanha vale praticamente tudo para ser eleito, até seduzir o eleitorado com promessas que não podem ser cumpridas. A essência da democracia é a propaganda e o slogan, dizia Joseph Schumpeter [1883-1950], autor de uma das teorias democráticas mais influentes na ciência política contemporânea. Entretanto, no exercício do governo não vale tudo. Decisões governamentais que contrariam a Constituição não podem ser cumpridas, mesmo que tenham sido prometidas nos discursos de campanha e que figurem no plano de governo. Teoricamente caberia ao eleitor ter senso crítico para perceber que as promessas de seu candidato são inviáveis, mas nem sempre isso ocorre.
THOMAZ PEREIRA É esperado que ele tente cumprir o programa proposto na campanha. Porém, há coisas que Trump está tentando ou tentará fazer, por meio de ordens executivas ou não, equivalentes a decretos presidenciais no Brasil, que precisam ser testadas no Legislativo e que precisam ser constitucionais.
Há eleitores que votaram nele por apoio a uma proposta “A”, mas com grande discordância em relação à proposta “B”. O eleitor moderado de Trump pode votar nele, confiando que as instituições o impedirão de fazer certas coisas. Esse eleitor tem uma expectativa legítima de que as instituições limitarão o poder do presidente eleito. O eleitor não vota só no Trump, vota sabendo que ele é um presidente num sistema que impõe limites. Se o poder dele fosse ilimitado, talvez muita gente nem tivesse votado nele.

Se a imprensa, a Suprema Corte ou o Congresso agirem para impedi-lo, não estão indo contra a vontade da maioria, e, portanto, contra a democracia?

WAGNER PRALON MANCUSO A democracia também envolve liberdade de imprensa, bem como independência e controle mútuo entre os Poderes.
A imprensa não pode impedir Trump, mas pode divulgar suas decisões e promover um debate crítico e de qualidade sobre elas. O problema é quando este debate não é pautado por princípios como veracidade, multiplicidade de pontos de vista etc. Se o debate respeitar esses princípios e mostrar fragilidades das decisões de Trump, informando e mobilizando a opinião pública, a imprensa estará apenas cumprindo seu papel.
Quanto ao Congresso, os parlamentares também foram eleitos. Num sistema de separação de Poderes, são funções do poder Legislativo fiscalizar o Poder Executivo, assim como debater e votar suas propostas. O ex-presidente [Barack] Obama enfrentou grandes dificuldades para aprovar sua agenda junto a um Congresso muitas vezes hostil. Isso faz parte do jogo democrático. O partido de Trump [Republicano] tem maioria na Câmara dos Representantes e do Senado. Se, mesmo assim, suas medidas forem vetadas pelo Congresso, isso significa que o presidente dos EUA foi incapaz de angariar apoio até mesmo dos próprios correligionários. Neste caso, suas medidas não devem prosperar. Não há nada de antidemocrático nisso, pelo contrário.
Finalmente, a Suprema Corte é por natureza uma instituição antimajoritária. Seu papel envolve justamente vetar decisões dos outros Poderes sempre que elas contrariam a Constituição, mesmo quando tais decisões representem a vontade de uma maioria conjuntural, circunstancial, do eleitorado.
THOMAZ PEREIRA Não. Em primeiro lugar porque não existe essa presunção de que tudo o que Trump faz tem o apoio da maioria. Ele sequer foi eleito pela maioria dos americanos. Mas, mesmo que ele tivesse sido eleito pela maioria geral da população americana, isso não significa que tudo o que ele faça depois de eleito automaticamente tenha respaldo na vontade da maioria.
Uma das coisas que a imprensa faz é informar e manifestar sua opinião sobre certas questões. Ao Judiciário cabe fazer valer os limites legais e constitucionais para o exercício do poder. E uma das coisas que o Congresso, que também foi eleito por maioria, faz é verificar a força da maioria obtida pelo presidente, num choque que é salutar para a busca de consensos numa democracia.