quinta-feira, 23 de abril de 2015

"UMA FLORESTA ATLÂNTICA NA CHÁCARA DO JOCKEY"

Resultado de acordo em torno de dívidas de IPTU, a Prefeitura Municipal de São Paulo entrou em posse da conhecida Chácara do Jockey, área de grande extensão, 150 mil metros quadrados, incrustada em área urbana consolidada, bairro de Vila Sônia, zona oeste de São Paulo, estendendo-se da av. Francisco Morato à av. Eliseu Resende.
Várias são as idéias já lançadas para o aproveitamento público dessa grande gleba, todas certamente meritórias, mas, considerando a premente necessidade da capital paulista implantar dispositivos que permitam à cidade reter grande parte de suas águas de chuva e melhorar sua tão deteriorada qualidade ambiental urbana, a oportunidade de implantar nessa área um grande bosque florestado se impõe como objetivo destacadamente prioritário.
É sabido que a principal causa de nossas enchentes está na impermeabilização geral do espaço urbano, com o que praticamente todas as águas de chuva são lançadas rápida e diretamente sobre um sistema de drenagens que não lhes consegue dar a devida vazão.
Uma área florestada é capaz de reter perto de 100% das águas de chuva que recebe, enquanto uma área urbanizada, ao contrário, lança mais de 85% desse volume sobre o sistema de drenagem urbana.
Considerando a área em questão plenamente florestada e uma pesada chuva de 40 milímetros, estaríamos propiciando a retenção de algo em torno de 6 mil metros cúbicos, ou seja, deixando de sobrecarregar o sistema de drenagem com algo próximo a esse volume. Além de ter propiciado a infiltração de boa parte dessas águas.
Claro, um ou outro bosque florestado não irá resolver o problema das enchentes, mas a disseminação desse e de outros dispositivos urbanos de retenção de águas de chuva, como calçadas, valetas e pisos drenantes, reservatórios domésticos e empresariais, poços de infiltração, etc., o que envolve a adoção de uma outra cultura hidrológica pela cidade, começaria a fazer a diferença.
Além desse aspecto mais hidráulico, os bosques florestados atendem as funções urbanas de regulação climática, redução da poluição atmosférica, recarga de aquíferos, proteção de solos contra a erosão, proteção de margens e mananciais, abrigo e alimentação da fauna urbana, lazer, embelezamento da paisagem urbana, educação e aproximação física e espiritual dos cidadãos com a Natureza.
Esperamos que o prefeito Fernando Haddad se sensibilize por essa proposta e, ao decidir-se pela floresta atlântica da Chácara do Jockey, presenteie a população paulista com uma espetacular nova área florestada e sinalize para todo o país a adoção de uma nova cultura ambiental e hidrológica para os espaços urbanos.
ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS é geólogo formado pela USP; ex-diretor de planejamento e gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT. É autor dos livros "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática" e "A Grande Barreira da Serra do Mar"
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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ganhador de um Pulitzer deixou o jornalismo para poder pagar aluguel


Rob Kuznia ganhou prêmio por investigação de corrupção em escola.
Há 6 meses, ele não trabalha mais no jornal por causa do salário.

Da France Presse
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Editor do Daily Breeze joga champanhe em Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)Editor do Daily Breeze, Michael Anastasi, joga champanhe no repórter Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)
Um dos jornalistas do Daily Breeze, um pequeno jornal que surpreendeu ao ser contemplado com o prestigioso prêmio Pulitzer, já não trabalha mais na profissão porque seu salário não dava para pagar o aluguel.
O Daily Breeze, um jornal de Torrance, Califórnia, tem cerca de 63 mil assinantes e 7 repórteres e foi premiado na segunda-feira (20) por uma investigação sobre a corrupção em uma escola do distrito, a Centinela Valley Union High School.
Mas há 6 meses Rob Kuznia, um dos três jornalistas premiados por esta investigação, deixou de trabalhar como repórter pelo fato de seu salário não ser suficiente para pagar o aluguel.
Segundo o site LA Observed, que divulgou este fato na segunda-feira, Kuznia deixou a publicação e passou a trabalhar como assessor de imprensa na fundação USC Shoah.
"Falamos com ele nesta tarde e ele reconheceu, com pesar, que lamentava não ser mais jornalista, mas explicou que era muito difícil chegar no final do mês com seu salário no jornal e alugando um apartamento na região de Los Angeles", escreveu o LA Observed.
O ex-repórter de 39 anos também explicou ao jornal The New York Times - que também foi premiado na segunda-feira com três Pulitzer - que antes de deixar seu posto, havia recebido um aumento. "Não que eles não ligassem. Mas simplesmente não era suficiente".
Consultado pelo jornal, assegurou que não voltaria a exercer a profissão de jornalista. O site LA Observed afirmou que o Daily Breeze havia ganhado na semana passada outro prêmio na categoria de jornalismo investigativo, o National Headliner Award for Investigative Journalism.
Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)

domingo, 19 de abril de 2015

Os pobres abandonaram o PT? - SUELY CALDAS


O ESTADO DE S.PAULO - 19/04

A popularidade de Dilma Rousseff despenca e 55% dos nordestinos, que a ela deram o grande troféu da vitória em outubro, hoje consideram seu governo ruim ou péssimo e só 16% o aprovam. Os eleitores de baixa renda que a ela confiaram seu voto e esperanças hoje desconfiam e mais de 50% reprovam seu governo. Afinal, Dilma e o PT foram abandonados pelos pobres?

Quase não foi notada a presença deles nas multidões que foram às ruas protestar contra Dilma. Onde estavam? "O povão povão, quando se manifesta, em geral é sob formas menos pacíficas: invasões, saques, quebradeiras", explicou o historiador José Murilo de Carvalho, em entrevista ao Estado. A história tem mostrado isso. Os protestos de rua contra o ex-presidente Collor também foram liderados pela classe média, principalmente os estudantes caras-pintadas. Nem por isso os pobres deixaram de apoiar o impeachment, o fora Collor. O que surpreende, agora, é a repentina e meteórica perda de apoio aos governos do PT da parcela da população em que eles mais investiram politicamente e tentaram favorecer nos últimos 12 anos.

A perda de apoio foi tão repentina quanto a esperança em relação ao futuro foi se esvaindo. É verdade que nos últimos 12 anos a miséria diminuiu, a pobreza reduziu, os pobres passaram a consumir, a comprar geladeira e TV novas e até aquele carrinho usado para os passeios de domingo. Mas manter e melhorar essa nova vida, sem recuos e sem retroceder ao passado, exigiram de Lula, de Dilma e do PT o que eles não fizeram pois não souberam fazer: pensar, organizar, planejar e pavimentar o crescimento seguro e contínuo da economia. Construir progresso, sem ter de depender da sorte (Lula no primeiro mandato) ou de ações de fôlego curto (as desonerações tributárias).

Nos primeiros anos de Lula, com Antonio Palocci na Fazenda, mal ou bem havia uma agenda dirigida ao crescimento, mas ela se desfez - antes mesmo da queda do ministro, que ocorreria meses depois - no momento em que ele perdeu a disputa pelo comando da economia para a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A partir daí o governo do PT abandonou as reformas, os planos para perseguir o crescimento e passou a viver um dia a dia medíocre, ajustando aqui e ali para ganhar popularidade fácil, agindo no ritmo do aqui e agora, vencer eleições, manter-se no poder - e nada de projeto para o futuro. A estratégia passou a ser gastar dinheiro. O gasto público explodiu, as pedaladas fiscais (tipificadas como crime pelo TCU) proliferaram, os truques e alquimias derrubaram a confiança ao chão, os investimentos pararam, a indústria definhou e as contas públicas foram pelos ares.

Diante deste quadro, não demoraram a surgir sinais de perda das conquistas sociais. Em 2014 o Ipea pesquisou e descobriu que a miséria voltara a crescer desde 2013. Mas havia uma eleição presidencial à frente, era fundamental esconder os números, só divulgá-los após o pleito. Na campanha, eleitores pobres foram iludidos com cenas na TV de um país próspero, saudável. E mais promessas que implicavam mais gastos, com um caixa já zerado e um déficit gigante a ser enfrentado.

A vitória de Dilma foi apertada porque a classe média já via um segundo mandato insustentável e votou contra o PT. Fechadas as urnas, a população pobre saiu das cenas de fantasia da campanha e caiu na real: voltou o desemprego; a tarifa de energia elétrica e a inflação em alta puniram a renda de quem não tem; o desemprego reapareceu; a corrupção na Petrobrás e fora dela levou à paralisação de várias obras públicas e desempregou milhares de trabalhadores; a recessão voltou a assombrar e o governo confessa esperar uma retração econômica de 0,9% este ano. É óbvio, as consequências mais cruéis dessa explosiva combinação - recessão e inflação alta - recaem sobre os mais pobres, a parcela da população mais vulnerável e indefesa. Até agora eles estão ausentes das ruas, mas já começaram a viver o inferno que lhes foi ocultado nas eleições. Não foram eles que abandonaram Lula, Dilma e o PT. Foram eles os abandonados.