domingo, 25 de maio de 2014

Por uma nova política econômica


Por Amir Khair/Publicado no Estadão em 18/05/2014
O governo Dilma fracassou nas suas várias iniciativas para a condução da economia do País. Há consenso nas várias análises de que ocorreu piora geral nos fundamentos macroeconômicos, e o que chama a atenção é a falta de reconhecimento deste governo pelo fracasso. Além de amargar um crescimento de 2% ao ano, freando o crescimento que vinha ocorrendo na gestão anterior, as políticas adotadas aprofundaram os rombos fiscais e externos, além de afundar as duas principais estatais brasileiras. A marca, se é que isso seja marca, é a política de varejo ao sabor dos acontecimentos sempre com atraso e procurando apagar o fogo após se alastrar. Teve a oportunidade de reduzir as taxas de juros e fracassou diante das primeiras reações do sistema financeiro viciado nas taxas de juros de agiotagem.
Mas o que me parece ser a falha mais gritante deste governo é o dano irreparável causado à Petrobrás e à Eletrobrás. O populismo tarifário e de preços dos combustíveis causou graves prejuízos a essas importantes empresas e as expôs a toda sorte de críticas. As perdas causadas à Petrobrás pela aventura de Pasadena e da refinaria Abreu Lima são pequenas diante do dano causado pelo uso delas como biombo da inflação.
Carece de sentido o ataque da presidente à oposição, afirmando que querem destruir a Petrobrás. Quem a está destruindo é a incompetência e falta de visão estratégica de quem impõe a política suicida de subsidiar à custa da Petrobrás a gasolina e o diesel. Se o governo quer subsidiar, que o faça pelo Tesouro Nacional. A Petrobrás não pode ser usada para isso. Além disso, ao artificializar o preço da gasolina, ajuda a entupir mais ainda as cidades de automóveis, piorando a já sacrificada mobilidade urbana.
É interessante observar que, depois de todos os escândalos e críticas a que foi submetida, as ações da Petrobrás dispararam a crescer e a razão é a queda nas pesquisas de intenção de voto em Dilma Rousseff, com perspectiva crescente de ocorrência do segundo turno.
No setor público, quando um administrador causa dano ao erário, é responsabilizado pelo dano causado e deve ressarcir o montante equivalente ao dano. Nesse caso da Petrobrás não há dúvida nem dificuldade técnica em caracterizar o montante de prejuízo causado pelo governo. Em vez de fortalecer suas empresas esse governo as enfraquece e frustra o papel estratégico que devem exercer.
Esse prejuízo causado à Petrobrás tem de ser reparado. Não pode ser obscurecido por Pasadena, nem por Abreu e Lima nem pelo uso político que culminou na prisão de um de seus diretores pela ação competente da Polícia Federal. Com a palavra, o Tribunal de Contas da União.
O fracasso da política econômica colide com os interesses do governo em conquistar novo mandato como o fizeram FHC e Lula. Há urgente necessidade de alterar radicalmente a condução da economia, e isso passa pela troca da equipe econômica e/ou do primeiro mandatário do País.
Nova política
A nova política pressupõe a existência de um plano estratégico de longo prazo (10 a 20 anos) no qual se procure balizar os pontos fortes e fracos do País dentro do cenário internacional.
Entre esses pontos ressalto o potencial de consumo que pode ser mais bem aproveitado com políticas firmes de renda e redução das taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro. Uma nação para se desenvolver deve ter um mercado interno forte como base necessária para se lançar na dura disputa comercial internacional.
Felizmente, o País tem os atributos necessários, com parque industrial diversificado, com bens naturais e clima favorecido para o relançamento de sua economia, com verdadeira inclusão social, caso vá muito além dos recursos que usa para essa finalidade. Para isso, é fundamental crescer não apenas 3% ao ano, que é a média mundial, mas sim no mínimo 5%, que é o nível médio dos países emergentes.
Ao crescer, as finanças públicas tornam-se saudáveis, pois aumentam naturalmente os tributos, reduz-se a inadimplência e, abrem-se novas perspectivas de ações na área social e no fim dos gargalos da infraestrutura.
A meta é o crescimento e secundariamente a inflação. Exatamente o inverso do que ocorreu sob FHC e sob Dilma. Lula escapou, pois contou com cenário externo favorável, especialmente por parte da fome chinesa por commodities.
Um segundo ponto diz respeito ao câmbio, que está totalmente fora de lugar para atender ao objetivo de manter artificialmente baixos os preços dos bens importados. O câmbio deve passar a flutuar, longe da ação nefasta do Banco Central, que propala que ele flutua, mas que na realidade é usado como âncora cambial.
Ao manter o câmbio apreciado joga-se fora o crescimento, pois vaza para o exterior a demanda em expansão pelo consumo das famílias. As empresas do exterior agradecem o presente dado pelo governo. É o desenvolvimento às avessas!
Ao permitir a livre flutuação cambial, a tendência é o dólar caminhar para as proximidades de R$ 3 e, com isso, contribuir para o equilíbrio das contas externas.
Como ingrediente necessário dentro dessa nova política, a redução da taxa Selic ao nível da inflação como ocorre nos países emergentes. Isso estimula o investimento produtivo e reduz as despesas com juros do governo federal, abrindo mais espaço fiscal.
Quanto à inflação, creio que o melhor antídoto a ela é a própria inflação, pois reduz o poder aquisitivo, reequilibrando preços que subiram e que produziram redução do consumo. Em auxílio importante ao combate inflacionário, a melhor estratégia é política forte de abastecimento por estoques reguladores e por estímulo à aproximação entre produtores e consumidores, reduzindo a intermediação onerosa de atravessadores. Diversas experiências exitosas em âmbito municipal poderiam ser estimuladas a se propagarem. Afinal os alimentos têm sido o vilão da inflação nos últimos anos.
Resta ver se o governo se livra da armadilha econômica em que se meteu. Vale ter esperança.

O econômico e o social nas eleições


25 de maio de 2014 | 2h 06

SUELY, CALDAS - O Estado de S.Paulo
Os candidatos intensificaram a presença na TV, a fria campanha eleitoral amornou e as pesquisas de voto seguem clareando o cenário da disputa. Entraram em cena os marqueteiros e, com eles, o vale-tudo para exaltar seu candidato e destruir adversários. Como fez o programa de propaganda do PT com os motes "o Brasil não quer voltar atrás" e "os fantasmas do passado" - fantasmas que acabaram com a inflação, fizeram o Plano Real e deram início à prosperidade econômica e social do País dos últimos 20 anos. O que têm na cartola Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos para exibirem aos eleitores na TV?
O mau desempenho da economia na gestão Dilma é o maior trunfo dos dois candidatos de oposição. Dilma errou ao adiar as privatizações e quando acordou errou nas regras de licitação; o investimento em infraestrutura - tardio e atrapalhado - levou a taxas medíocres de crescimento; a inflação voltou; o setor externo da economia deteriorou; a falta de confiança fez investidores baterem em retirada; a equipe econômica destruiu a seriedade nas contas públicas; Petrobrás e Eletrobrás viraram apêndices de políticas do governo, seu valor de mercado despenca e voltaram a dar prejuízo. Enfim, a lista de fracassos é grande e certamente será explorada por Aécio e Eduardo.
Os avanços na área social são o maior trunfo de Dilma. Ela deu continuidade às políticas sociais de Lula voltadas para atender às necessidades essenciais dos mais pobres e conseguiu êxito em algumas, como o Bolsa Família (o Bolsa Escola do fantasma FHC), ampliado por Lula, reforçado por ela, hoje com um orçamento de R$ 24,6 bilhões e 13 milhões de famílias atendidas. A taxa de desemprego em 4,9% numa conjuntura de baixíssimo crescimento é outro destaque, embora venha perdendo força na indústria, onde foram eliminados 69 mil postos de trabalho só entre março e abril passados.
Mas o próximo presidente precisa corrigir distorções em muitos programas sociais, e o Seguro-Desemprego é um deles. Como não há fiscalização nem transparência na aplicação do dinheiro, os gastos para pagar supostos desempregados explodiram, contrariando a conjuntura de emprego em alta e desemprego em baixa, o que levou Dilma a injetar mais R$ 4,9 bilhões no programa em 2013. Ainda na área do trabalho, há enorme desleixo em relação à qualificação do trabalhador. Dinheiro não falta, o que falta é fiscalização, gestão eficiente e cobrança de resultados. Além de bilhões de reais (o governo gosta de divulgar a cifra) repassados ao Sistema S (Sesc, Senac, Sesi, etc.), outra bolada de dinheiro é despejada nos sindicatos para qualificação profissional. E o Brasil fracassa, perde feio em produtividade no trabalho: em 2013 perdeu oito posições e ocupou o 56.º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial. Ou seja, oito países passaram à frente e o Brasil foi empurrado para trás. Afinal, o que esperar de um país onde, na média, o trabalhador levou 20 anos para avançar do estágio de 5,7 para apenas 8,8 anos de estudo?
Na TV o marqueteiro até pode pegar cenas dos melhores momentos, mas a candidata do PT tem pouco a dizer em saúde e educação, justo duas áreas-chave para uma política social bem-sucedida. Com exceção de alguns programas de inclusão social em universidades, a qualidade do ensino não melhorou e o analfabetismo funcional ampliou, sobretudo no ensino fundamental. A demora por uma consulta ou cirurgia, o desaparelhamento de hospitais, a escassez de médicos e postos de atendimento desenham um cotidiano sofrido para a população que precisa de saúde pública e que o programa Mais Médicos não conseguiu aliviar.
Mas o grande trunfo que Dilma vai explorar é a ascensão de 35 milhões de pobres que migraram para a classe média. Embora seja questionável o critério para classificar a classe média (o governo inclui quem tem renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00/mês), a ascensão é um fato real. Esses emergentes vivem com a corda no pescoço, endividam-se, mas passaram a ter acesso a computador, a telefone, a eletrodomésticos, dão impulso e movimentam a economia.
JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO
E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR

A copa das Mazelas, por Celso Ming

Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Quando disputou e arrancou o privilégio de sediar a Copa do Mundo, o governo Lula pretendeu aproveitar o evento para uma super exibição do Brasil para o mundo, em capacidade administrativa e potência econômica.
Enormes focos de luz estão dirigidos agora para cá e para tudo o que há de errado. A curiosidade do exterior não se limita à degustação de coisas daqui, como caipirinha, suco de maracujá e pão de queijo. Extravasa para a nossa incompetência. O Brasil está frustrando as expectativas criadas quando se tornou o B do Brics. Algumas matérias, as do jornal inglês Financial Times, de 4/5, e da revista alemã Der Spiegel, de 11/5, foram demolidoras.
Além de advertir os visitantes para os riscos que correm por aqui com segurança pessoal e alimentação nem sempre confiável, os grandes jornais e revistas, a TV e a internet não param de desnudar as mazelas e a desorganização do País. Os preparativos para a Copa foram sucessão de encrencas: falhas de planejamento, estouro injustificável de custos, desperdícios, atrasos enormes e baixa qualidade de algumas obras. "Isso me envergonha" -- disse sexta-feira o campeão Ronaldo Fenômeno.
Ontem, o correspondente do Estadão em Genebra, Jamil Chade, relatou que a Copa baterá todos os recordes de lucro da história do futebol (veja abaixo). Será sucesso de bilheteria, de arrecadação de direitos para a Fifa e de lucros para as patrocinadoras. Mas, na percepção do brasileiro comum, pouco sobrará para ele além de eventuais alegrias com as vitórias de sua seleção.
As manifestações que pipocam em todas as grandes cidades, inclusive entre movimentos protegidos pelo governo, como o MST, levantam dúvidas sobre o acerto da decisão que deu prioridade às obras dos estádios, em detrimento dos investimentos em ensino, em saúde e em transporte público. Esperava-se que este fosse um dos bons resultados indiretos. Mas nessa área as coisas estão piorando. O próprio Lula considera "babaquice" a construção de linhas de metrô que atendam a estádios de futebol, sem levar em conta as necessidades das populações vizinhas. Ele deve discordar da presidente Dilma que, na sexta-feira, afirmou que a construção e a ampliação dos aeroportos não vieram para benefício dos torcedores estrangeiros, mas para atender a 112 milhões de passageiros no Brasil. Não faz sentido argumentar que as imposições da Fifa são descabidas. Estão, são condições já previstas por quem se apresentou como candidato à sede da Copa.
É provável que, a partir do momento em que a seleção canarinho entrar em campo, as manifestações de indignação refluam e sejam deixadas para depois. Mas não dá para esconder que as novas classes médias se sentem fortemente frustradas com a baixa qualidade dos serviços públicos e com o derretimento da capacidade de consumo provocado pela inflação de mais de 6% ao ano. Isso exige conserto da economia que não aparece em nenhuma das prioridades do governo Dilma.