sexta-feira, 3 de maio de 2013

Outrora ágil, Petrobras personifica a lentidão da economia brasileira


SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES"
The New York TimesMeia década se passou desde que os brasileiros comemoraram a descoberta de uma enorme quantidade de petróleo em campos marinhos profundos pela companhia de petróleo nacional, a Petrobras, situando o país em condições de chegar à primeira fila dos produtores globais.
Hoje, outro tipo de choque energético está sendo observado: a empresa, conhecida por seu poderio, está perdendo a corrida para acompanhar as crescentes demandas do país.
Constrangida por uma exigência nacionalista de comprar navios, plataformas e outros equipamentos de companhias brasileiras letárgicas, a gigante do petróleo enfrenta uma dívida disparada, grandes projetos emperrados e campos mais antigos que, outrora pródigos, produzem menos petróleo.
O tesouro submarino ao seu alcance também permanece terrivelmente complexo de explorar.
Hoje, em vez de simbolizar a ascensão do Brasil como potência global, a Petrobras personifica a lentidão da própria economia nacional, que, depois de avançar 7,5% em 2010, desacelerou para menos de 1% no ano passado.
Até recentemente, a Petrobras só perdia em valor de mercado para a ExxonMobil entre as companhias energéticas negociadas em Bolsa. Hoje, ela vale menos que a companhia de petróleo da Colômbia.
Essa queda acentuou um debate cada vez mais amargo no país sobre as tentativas da presidente Dilma Rousseff de usar a Petrobras para proteger a população brasileira da desaceleração econômica do país.
"A Petrobras já foi considerada indestrutível, mas esse não é mais o caso", disse Adriano Pires, consultor de energia no Brasil. "Hoje, a Petrobras é um instrumento de política econômica de curto prazo e é usada para proteger a indústria doméstica da concorrência e combater a inflação."
Rousseff, como seu antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, contou com as companhias estatais para criar empregos e impulsionar a economia.
Em consequência, afirmam a presidente e seus principais assessores, o desemprego permanece em níveis historicamente baixos, uma abordagem de gestão econômica que contrasta acentuadamente com a usada na Europa e nos Estados Unidos.
A Petrobras está construindo novas refinarias, buscando petróleo em alto-mar e comprando a maior parte de seu equipamento de companhias brasileiras, as quais criaram dezenas de milhares de empregos para manter o baixo desemprego no Brasil, em cerca de 5,4%.
Mas os críticos apontam os problemas óbvios da empresa, incluindo seus projetos atrasados e uma incapacidade de satisfazer a sede de petróleo do país.
Depois que o Brasil descobriu petróleo em alto-mar, em 2007, o governo pressionou para colocar a Petrobras firmemente no controle das novas áreas, uma medida que, segundo os críticos, poderá pressionar a companhia ainda mais.
Foi um afastamento marcante da postura dos anos 1990, quando as autoridades puseram fim ao monopólio da Petrobras como parte de uma reestruturação radical da economia. A empresa permaneceu sob o controle do Estado, mas foi exposta às forças de mercado, emergindo como um híbrido e competindo agilmente com companhias estrangeiras.
Hoje a Petrobras parece muito menos dinâmica. Em 2012, sua produção caiu 2%, o primeiro declínio em vários anos. Ao mesmo tempo, a indústria energética internacional também está mudando para a extração de petróleo e gás natural de formações de xisto, em terra firme.
A demanda do Brasil por gasolina subiu cerca de 20% em 2012, refletindo o êxito da indústria automobilística.
A Petrobras ainda não tem refinarias suficientes para processar o petróleo cru, o que a obriga a comprar gasolina no exterior. Ela perde dinheiro nessas aquisições porque o governo mantém os preços internos do combustível relativamente baixos, para conter a inflação.
Há também os atrasos nas refinarias em construção. Um complexo no Estado de Pernambuco foi concebido em 2005 como uma maneira de o Brasil forjar laços mais estreitos com a Venezuela, rica em petróleo. Oito anos depois, a Venezuela ainda não investiu no projeto, que enfrentou vários atrasos.
Mas a Petrobras continua rentável. Graça Foster, presidente-executiva da companhia, disse que a produção de petróleo deverá permanecer estável neste ano ou talvez até voltar a cair ligeiramente. Mas, segundo ela, a produção dos novos campos marinhos alcançou 300 mil barris por dia.
Até 2020, a empresa espera duplicar a produção total, para 4,2 milhões de barris por dia.

Não há "coitadinhos", há criminosos, por Clóvis Rossi na Folha



Entre 2004 e 2009, o número de brasileiros que ganham 1 salário mínimo ou mais passou de 51,3 milhões para 77,9 milhões. Ou, em porcentagem: os que superaram a barreira da pobreza, se fixada em 1 mínimo, passaram no período de 29% para 42%.
São dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no mais abrangente estudo que conheço a respeito do tema.
Se fosse verdadeira a teoria (na qual eu próprio acreditei durante muitíssimo tempo) de que a pobreza é a grande responsável pela criminalidade obscena que existe no Brasil, a violência teria forçosamente diminuído no período.
Não foi o que aconteceu. Ao contrário. Diz estudo da "Insight Crime", organização que se dedica ao estudo da violência nas Américas: "A taxa nacional de homicídios permaneceu relativamente estável, passando de 22 por 100 mil habitantes em 2004 para 21/100 mil em 2010. Essa estabilidade, no entanto, mascara uma queda da violência nas principais cidades do Sul e um aumento da violência em áreas rurais".
Homicídios são apenas um fator - embora o mais relevante - na sensação de insegurança do brasileiro, o que significa que, se incluídas no retrato outras modalidades de violência em constante aumento, pode-se dar por enterrada a teoria dos pobres coitadinhos sem outra alternativa de ganhar dinheiro que não seja o crime.
Afinal, o estudo do Ipea fala em "mobilidade social ascendente", o que é uma realidade visível a olho nu. Mobilidade que se projeta para o futuro, conforme estudo da Ernst & Young, que acaba de sair e diz que famílias com renda superior a US$ 50 mil (R$ 100 mil) anuais chegarão a 9,4 milhões em 2020, um aumento de 50%.
É óbvio que o Brasil continua tendo problemas sociais lacerantes, mas aceitá-los como única explicação para a espiral de violência é fugir da realidade e impedir a busca de remédios, por erro no diagnóstico.
Não pretendo nem tenho competência para elaborar um compêndio de propostas nessa área. Mas parece evidente que, sem uma discussão abrangente sobre o problema das drogas e sua relação com a violência, não se irá a parte alguma.
Volto ao relatório da "Insight Crime":
"O Brasil enfrenta uma séria ameaça de suas duas maiores gangues criminosas, o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, que estão se tornando crescentemente envolvidas no comércio internacional de drogas, assim como operam redes de extorsão e sequestros em casa. (...) O país está se tornando crescentemente importante como um mercado e um ponto de trânsito para a cocaína".
Acho desnecessário acrescentar que a pequena criminalidade é alimentada pela droga, além de estimulada pelo crime organizado que opera em grande escala.
Tudo somado, parece inescapável concluir que não há "coitadinhos" nessa história, que não há uma guerra dos proletários ou do lumpen contra a burguesia. Há criminosos. Ponto.
Combatê-los é uma necessidade civilizatória, do que dá prova o êxito relativo das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro. A presença policial devolveu um mínimo de vida civilizada aos morros antes controlados pela criminalidade.
Mas a simples presença policial, por indispensável que seja, não resolverá o problema enquanto não se conseguir equacionar a questão das drogas. Até porque fracassou a estratégia de repressão pura e simples. Pena que o Brasil continua se recusando a discutir alternativas e, melhor ainda, a tentar implementá-las.
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.

Não há elogio maior que o desejo, do BLOG DO FELIPE MACHADO


Não há elogio maior do que desejar alguém. Há adjetivos que podem simular o desejo, há qualidades que podem ser destacadas em uma frase simpática ou sensual inserida no meio do diálogo rotineiro. Mas o desejo, mesmo, aquele que move montanhas e inspira loucuras, esse só se diz com o com os olhos. Ou com o corpo.
(Não é à toa que em inglês ‘desire’ (desejo) rima com fire (fogo), assim como não é à toa que em português rima com ‘beijo’…)
A Wikipedia define desejo como “uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação”. Mas é sério que alguém acha que é possível expressar o desejo em palavras? Eu seria mais pragmático. Desejo é querer muito, muito, muito…  alguém.
Há muitas maneiras de encarar o desejo. Há o desejo material, aquele que busca satisfazer nossas necessidades consumistas. Há o desejo espiritual, a vontade de encontrar um equilíbrio utópico entre as forças que regem a existência. Há o desejo por justiça – ou vingança -, que suscita no ser humano os sentimentos mais primitivos. Mas o desejo por alguém é o mais poderoso de todos, porque tem como finalidade o sentimento mais poderoso de todos… o amor.
Se o amor é o que move um homem e uma mulher a ficarem juntos, então só posso supor que o desejo é o instrumento que a natureza inventou para atingir seu objetivo. Sábia natureza, que colocou o prazer como anzol no oceano de peixes que é a sociedade.
Como falei no início, não há elogio maior que desejar alguém. Querer que essa pessoa faça parte da sua vida, dia e noite (principalmente à noite, se é que você me entende), por um tempo indeterminado, é uma das forças que movem o mundo.
Em ‘Um Bonde Chamado Desejo’, filme baseado na peça de Tennessee Williams, a personagem de Vivien Leigh, Blanche DuBois, sussurra entre uma desilusão e outra: “Eu não quero realismo… eu quero mágica…” Embora a história tenha mesmo um bonde chamado ‘Desejo’, acho que essa frase guarda em sua simplicidade tudo o que o dramaturgo quis nos dizer sobre o desejo e o que ele representa.
A vida é feita de realidade, mas não é isso que inspira os nossos sonhos. É a mágica de sentir por outra pessoa o mesmo desejo que queremos que ela sinta por nós. Descobrir o que está por trás disso é  um mistério, mas enquanto existir ar em nossos pulmões, sangue em nossas veias e fogo em nossos corações, é um desafio que faz qualquer um acordar pela manhã e dizer para si mesmo: ‘É hoje!’