quinta-feira, 14 de julho de 2011

Lixo plástico transformado em petróleo




Parceria planeja investir R$ 540 milhões em cinco anos para dar fim ao resíduo.

Se tudo der certo, o lixo plástico, que leva dezenas de anos para se decompor quando jogado em aterros, está perto de ter um fim, ou melhor, um recomeço.
A Wastech, empresa baiana especializada em tratamento de resíduos, está criando uma nova companhia, chamada Novaenergia, que atuará na transformação de lixo plástico em petróleo. A RJCP Equity, empresa de investimento em capital de risco, será sócia minoritária no projeto.
A Novaenergia está em fase de captação de recursos e pretende ter a primeira unidade funcionando até o fim de 2012. O investimento inicial será de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões. No total, o plano da companhia é ter 20 fábricas no país no prazo de cinco anos, o que exigirá investimento total de R$ 540 milhões.
Desse montante, R$ 54 milhões serão na forma de capital, R$ 105 milhões em dívida (incluindo linhas de Finame do BNDES e crédito do fornecedor) e R$ 381 milhões em geração de caixa.
Ao fim dos cinco anos, a previsão é de que as 20 unidades tenham uma capacidade anual de produção 224 mil m3 de petróleo leve (com mais de 44 graus API), equivalente a 1,4 milhão de barris. O petróleo produzido será refinado e vendido em forma de nafta, óleo combustível e diesel.
A primeira fábrica ficará em Salvador e será capaz de processar 450 toneladas de lixo por dia, o que equivale a um sexto do total de resíduos gerados hoje diariamente na cidade.
Desse montante de lixo, a empresa vai usar somente 36 toneladas de plástico considerados difíceis de reciclar, como sacolas e filmes. Materiais como PET, PVC e sucata metálica serão vendidos e o lixo orgânico aterrado.
Para cada 36 toneladas diárias de lixo plástico que entrarem de um lado da máquina, sairão 30 mil litros de óleo leve do outro.
A tecnologia de transformação de plástico em petróleo foi desenvolvida por uma empresa americana chamada Agilyx, que já faz o processo comercialmente há um ano. Recentemente, a empresa dos EUA recebeu aporte de US$ 22 milhões do fundo Kleiner Perkins Caufield & Byers, que investiu em empresas como Amazon e Google; da Waste Management, uma das maiores empresas americanas de tratamento de resíduos; e também da divisão de capital de risco da petroleira francesa Total.
De acordo com Luciano Coimbra, presidente e controlador da Wastech e da Novaenergia, os projetos ambientais, via de regra, dão retorno financeiro muito baixo. "Não é o nosso caso. O projeto tem alto impacto ambiental e terá altíssima rentabilidade."
A Wastech, que trabalha há 27 anos com tratamento de resíduos industriais perigosos, começou há cerca de quatro anos a desenvolver o projeto da Novaenergia. Depois de pesquisar diversas tecnologias, Coimbra conheceu a Agilyx, com quem firmou, no início de 2010, um contrato de exclusividade para exploração da tecnologia no Brasil.
Engenheiro químico, Coimbra diz que ó processo de transformação do plástico em petróleo é algo que está nos livros, mas que para tornar isso comercial é preciso saber alguns macetes.
Em vez de pagar royalties sobre a produção, a Novaenergia vai remunerar a companhia americana a cada fábrica construída.
Coimbra diz que já tem acordo com a concessionária responsável pelo aterro de Salvador. Nesse tipo de modelo, previsto para cidades grandes, a concessionária poderá ser sócia da fábrica de transformação de plástico em petróleo – com intervalo de 30% a 70% do capital – e terá que investir no projeto. Para a prefeitura, será destinado de 2% a 3% do óleo produzido.
Outra possibilidade, pensada para cidades médias, é atuar também como concessionária e processar todos os resíduos.
Um terceiro modelo estaria ligado ao plástico recolhido pelas fabricantes de produtos industrializados que precisarem montar estruturas de logística reversa, conforme previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ONU destaca moradia popular ''verde'' em Cubatão


Nações Unidas reconhecem construção da CDHU no Estado como exemplo de prática sustentável que pode ser replicada em outros países

13 de julho de 2011 | 0h 00
Andrea Vialli e Rejane Lima - O Estado de S.Paulo
ENVIADA ESPECIAL / CUBATÃO
A construção verde, com tecnologias que poupam água, energia elétrica e usam materiais que afetam menos o ambiente, não é mais privilégio de edifícios corporativos ou condomínios de alta renda. Em São Paulo, conjuntos habitacionais populares já ostentam várias dessas tecnologias.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano e Social (CDHU) começou a experimentar a construção verde em casas populares em 2007. Uma delas, o conjunto habitacional Rubens Lara, em Cubatão, chamou a atenção das Nações Unidas. O programa Sushi (Iniciativa de Habitação Social Sustentável, na sigla em inglês), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, reconheceu o projeto como alternativa que pode ser replicada.
Silvio Torres, secretário estadual de Habitação, diz que a incorporação de tecnologias verdes na construção de moradias populares faz parte de um programa mais abrangente, a remoção da população de áreas consideradas de risco (mais informações nesta página). "Hoje existem no Estado 350 mil unidades habitacionais do CDHU e há potencial para que 200 mil adotem tecnologias verdes", diz.
Outro conjunto da CDHU, em Santo André, é construído com critérios verdes. A meta é buscar uma certificação de mercado de construção verde.
"O grande desafio é conciliar baratos com tecnologias mais caras - mas que podem proporcionar economia no longo prazo", diz o secretário. É o caso do aquecedor solar, que, embora mais caro que o chuveiro elétrico, proporciona uma economia de cerca de 30% na conta de energia.
Luz natural. Em geral, construir de forma verde custa 10% mais que uma obra comum. "Mas isso não é custo, é investimento", diz Marcelo Prado, arquiteto responsável pelo conjunto de Cubatão. De longe, já se percebe que as janelas dos prédios do Rubens Lara são maiores que as das construções populares mais antigas que o rodeiam.
As janelas amplas, que permitem maior iluminação e ventilação dos imóveis, e os cilindros metálicos, que integram o sistema de captação de energia solar para aquecer a água, são duas das várias medidas de construção verde utilizadas pela CDHU no conjunto construído para abrigar famílias retiradas das encostas da Serra do Mar.
Segundo o assessor de sustentabilidade da Secretaria de Habitação, Gil Scatena, as medidas que facilitam a acessibilidade também chamaram a atenção da ONU. "As portas são mais largas, as janelas e interruptores estão em altura adequada e há apartamentos térreos para portadores de deficiência", explica.

País tem de alfabetizar 3,5 milhões de adultos para cumprir meta da ONU

Início do conteúdo


Na última década houve avanço de alfabetização na infância, mas ainda há 617 mil jovens de 10 a 14 anos que não sabem ler nem escrever, segundo o Censo 2010 do IBGE; entre adultos, o progresso foi mais lento, e o desafio é maior no Norte e no Nordeste

10 de julho de 2011 | 0h 00
Luciana Nunes Leal - O Estado de S.Paulo
Com 13,9 milhões de jovens, adultos e idosos que não sabem ler nem escrever - ou 9,6% da população de 15 anos ou mais, segundo o Censo 2010 -, o Brasil terá de dobrar o ritmo de queda do analfabetismo para cumprir a meta assumida perante a ONU de chegar à taxa de 6,7% em 2015.
Levada em conta a projeção do IBGE de que a população nessa faixa etária será de 154,9 milhões, o País deveria chegar a 2015 com 10,4 milhões de analfabetos. Em números absolutos, seria uma redução de 3,5 milhões em apenas cinco anos.
Entre 2000 e 2010, no entanto, o total de analfabetos caiu 2,3 milhões. Se o País repetir esse desempenho, a meta prometida pelo governo há 11 anos, durante conferência da Unesco, só será alcançada em 2020.
Uma das principais dificuldades na redução das taxas é que os piores índices de analfabetismo entre adultos estão concentrados na população idosa, de 60 anos ou mais, que tem grande dificuldade de aprendizado.
Apesar de iniciativas como o Alfabetização Solidária, do governo Fernando Henrique Cardoso, e o Brasil Alfabetizado, iniciado no governo Luiz Inácio Lula da Silva e mantido no governo Dilma Rousseff, a alfabetização de adultos e especialmente de idosos avança em ritmo lento.
Um em cada quatro brasileiros de 60 anos ou mais (26,6%) não sabe ler nem escrever. Em 2000, a taxa era de 35%. Em 1991, chegava a 44,2%.
"O Brasil terá de fazer um esforço grande para chegar à meta fixada com a Unesco. São os rincões do Norte e do Nordeste que mais contribuem para a taxa entre os adultos", explica Mozart Neves Ramos, ex-secretário de Educação de Pernambuco e hoje integrante do movimento Todos pela Educação.
Ele ressalta que outro fator que contribui para os altos índices de analfabetismo é um desânimo muito grande da população adulta que mora no campo em voltar à escola para aprender a ler e a escrever. "Para reduzir as taxas, é preciso o empenho direto dos prefeitos, a mobilização nas igrejas, campanhas permanentes nas rádios", diz.
Moradora de Maceió, Quitéria Batista voltou a estudar depois de adulta. "A gente morava na roça, não tinha escola por perto. Quem queria estudar tinha de pegar carona nos caminhões de cana, porque não existia transporte escolar", relata. "Por isso, só vim estudar depois de velha", brinca Quitéria, de 33 anos.
Analfabetismo zero. Os dados do Censo 2010 indicam melhores resultados na redução do analfabetismo entre as crianças de 10 a 14 anos. A taxa caiu de 7,3% em 2000 para 3,9% em 2010 (redução de 3,4 pontos porcentuais ou 46,5%). No entanto, ainda há 671 mil pessoas nessa faixa etária que não sabem ler nem escrever, quando o ideal é que, no máximo, aos 8 anos as crianças estejam alfabetizadas.
As informações do Censo mostram que, embora ainda pequeno, o número de municípios com 100% de alfabetizados com idades de 10 a 14 anos mais que dobrou em dez anos. E, das 77 cidades com índice zero de analfabetismo nessa faixa de idade, 29 estão no Rio Grande do Sul.
Os resultados positivos do Estado podem ser explicados por circunstâncias históricas, como a colonização europeia acompanhada de escolas religiosas, forte cultura comunitária, oferta adequada de transporte escolar e valorização do ensino por parte das famílias.
Barão, no Vale do Rio Caí, é um exemplo de município gaúcho que não tem analfabetos na faixa dos 10 aos 14 anos. "Os pais percebem que ninguém consegue emprego sem uma instrução razoável", afirma Sérgio Pedro Herbert, secretário municipal de Educação e Cultura.
O município tem 88% de suas famílias nas classes A, B e C e destina 28% de seu orçamento anual de R$ 10,4 milhões para a educação. A rede municipal tem 57 professores, que recebem R$ 830 por 22 horas semanais de aula. O número total de alunos é próximo de 900 e corresponde a menos do que atendem sozinhas algumas escolas de capitais.
O casal Rudinei e Clarice Griebeler estudou até a 5.ª série e quer ver os filhos irem além. "Incentivamos as crianças a estudar para que tenham um futuro melhor que o nosso", diz Clarice. "Não conheço ninguém que não vá à escola", relata Júnior Samuel Griebeler, de 10 anos.
Diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senhor do Bom Fim, Solange Kaefer Thomazel, confirma alguns fatores comuns a todas as escolas de Barão que acabam fazendo a diferença. A comunidade é muito ativa - seja para organizar festas, para ajudar a escola ou mandar os filhos às aulas.
Mas os dados do IBGE indicam como é difícil, até mesmo para esses municípios, manter o índice de analfabetismo zerado. De 33, apenas 8 cidades que tinham todas as crianças alfabetizadas em 2000 se mantiveram na lista dez anos depois.
Presidente do Instituto do Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro (Iets), o professor e pesquisador Simon Schwartzman diz que "o analfabetismo extremo está ficando para trás. O tema agora é a qualidade da alfabetização, é o aluno entender o que lê". / COLABORARAM ELDER OGLIARI e RICARDO RODRIGUES