quarta-feira, 13 de julho de 2011

Varejo no atacado


Operação pretendida pelo Pão de Açúcar não nacionaliza o grupo, apenas aumenta o poder de arbítrio do dr. Abilio, avalia articulista

10 de julho de 2011 | 0h 07
Carlos Lessa - O Estado de S.Paulo
Nas últimas semanas, a fusão do grupo Pão de Açúcar com o grupo Carrefour para a criação do Novo Pão de Açúcar abriu um debate que percorreu a dimensão ética, jurídica, de interesse privado e dos interesses nacionais. Praticamente todos os articulistas da mídia impressa, televisiva e radiofônica colocaram em pauta a questão (corretamente, pois o BNDES, banco histórico do desenvolvimento industrial brasileiro, estava se propondo a aplicar mais de US$ 2 bilhões em uma operação global de quase US$ 3 bilhões!).
Pelo lado ético, foram feitos reparos a diversos protagonistas públicos e privados envolvidos na operação. Pelo ângulo jurídico, a redução do peso do grupo francês Casino em um Novo Pão de Açúcar tem as características de um divórcio parcial do empresário brasileiro e sua nova parceria com outro grupo francês, o Carrefour. Tem ou não um valor impeditivo para a operação pretendida (a existência de um acordo de acionistas entre o Pão de Açúcar e o Casino)? Neste momento, tudo leva a crer que a operação é juridicamente contestável e, levada aos tribunais, seria extremamente nociva para os parceiros atuais e os novos (Carrefour e BNDES). Isso, aparentemente, não foi levado em conta pelo BNDES, que não apenas avançou num comprometimento prévio com Abilio Diniz como lhe pôs nas mãos o poderoso argumento de R$ 3,7 bilhões.
Hoje, 7 de junho, li em jornal de grande circulação que o dr. Abilio declarou: "Fiz um trabalho extenuante". Costurar esse trabalho que foi feito não é fácil e entendo por quê; afinal, não é todos os dias que um empresário pode dizer a outros: tenho a chave para um suprimento financeiro superior a US$ 2 bilhões.
Luciano Coutinho, atual presidente do BNDES, declarou antes da controvérsia que o BNDES somente faria a operação se houvesse acordo do grupo Casino. O negócio não foi desmanchado, por isso o dr. Abilio, com a chave do BNDES, desafia o grupo Casino a demonstrar que a fusão não é uma boa ideia. Obviamente, a fusão é magnífica para o interesse privado do dr. Abilio, que, em entrevista, declara que quer "continuar levando a companhia que tem o DNA dele". Porém, isso não o impediu de, há alguns anos, assinar com o grupo Casino o direito de, em 2012, trocar, por R$ 1, a possibilidade de o grupo Casino consolidar os resultados do grupo Pão de Açúcar, diluindo o seu DNA. Quando assinou o acordo, era pré-datada a diluição do DNA brasileiro. É transparente a vantagem da operação pretendida para dr. Abilio. É inteiramente obscuro o interesse da sociedade brasileira nessa fusão que daria origem a um trio (dois franceses e um brasileiro).
É importante advertir a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que o BNDESPar é o braço do BNDES em operações no mercado de capitais e que é uma subsidiária 100% de propriedade do banco oficial. Este, como a ministra deve saber, é 100% do Tesouro. Assim sendo, são recursos públicos que, pela missão do BNDES, devem ser aplicados em projetos que gerem emprego e renda para os brasileiros.
Fusões podem ser meritórias, porém essa operação do Pão de Açúcar não nacionaliza o grupo de varejo, apenas aumenta o poder de arbítrio do dr. Abilio, restaurando seu DNA. Não é uma operação geradora de crescimento da economia. E, ao contrário do que declarou o ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio, Fernando Pimentel, não gerará saldo comercial positivo. O ministro declarou que o grupo Carrefour iria, associado ao Pão de Açúcar, "ampliar exportações brasileiras" (?!). O atual Pão de Açúcar é uma rede varejista que importa muito mais do que exporta, gerando um saldo comercial negativo. O grupo Carrefour já participa da rede brasileira de varejo e não é exportador líquido para o varejo mundial; a entrada do Carrefour não ampliará a rede de varejo. O que amplia o varejo é a multiplicação de emprego e renda no interior da economia brasileira.
Alguém afirmou que a aplicação do BNDESPar em papéis do Pão de Açúcar é um ótimo negócio para o BNDES. A elevação de valor patrimonial passa por um aumento futuro de lucratividade do cogitado NPA - Novo Pão de Açúcar. Isso pode ser obtido por redução dos custos operacionais (inclusive massa de salários) ou pelo aumento da margem comercial na compra e venda das mercadorias que distribui como rede varejista. Cabe ao Cade julgar se essa concentração do varejo vai baratear o custo de vida ou a lucratividade maior será um jogo perverso em relação às famílias brasileiras. De qualquer forma, o BNDES não é vocacionado a maximizar seu lucro (não é um banco de investimento); é um banco de desenvolvimento cuja primeira função é ampliar o emprego e a renda dos brasileiros. Tenho a preocupação de que se produza um desgaste na imagem do BNDES, o que seria um subproduto perverso da cogitada operação.
O dr. Abilio diz que foram encomendados "estudos" a três consultorias para avaliar a operação. É óbvia a vantagem patrimonial privada de dispor de mais de US$ 2 bilhões de recursos públicos. As três consultorias devem estar construindo "argumentos" para seduzir o grupo Casino; outras deveriam mostrar "vantagens" para a sociedade brasileira.
CARLOS LESSA É ECONOMISTA. FOI PRESIDENTE DO BNDES E É PROFESSOR EMÉRITO DA UFRJ 

Rumo a um mundo de 7 bilhões de pessoas, por babatunde Osotimehin



O empoderamento de meninas e de mulheres é um passo importante para erradicar a pobreza e para estabilizar o crescimento populacional 


Em 31 de outubro de 2011, a população mundial atingirá 7 bilhões de pessoas. Esse marco apresenta um desafio, uma oportunidade e um convite à ação. Vivermos juntos, num planeta saudável, dependerá de nossas escolhas.

Por isso, amanhã, Dia Mundial da População, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) lança a campanha mundial "7 Bilhões de Ações para um Mundo Mais Justo e Sustentável".

Atualmente, quase 78 milhões de pessoas são adicionados à população mundial a cada ano, aumentando a demanda por recursos naturais e pressionando o planeta.

Enquanto a pobreza, a desigualdade e a pressão por recursos representam grandes desafios, o mundo está mais interligado do que nunca; temos agora uma capacidade, sem precedentes, de compartilhar ideias e de envolver comunidades em todo o mundo para resolver nossos problemas.

Reduzir as desigualdades e melhorar o padrão de vida para as pessoas hoje -bem como para gerações seguintes- exige novas formas de pensamento e cooperação global. O momento de agir é agora.

Os 1,8 bilhão de jovens que vivem hoje podem contribuir com novas ideias e abordagens para a resolução de nossos problemas mais alarmantes. Principalmente os 600 milhões de meninas e de adolescentes, cujas decisões podem mudar o nosso mundo.

Se todas as garotas estivessem na escola, tivessem o número de filhos que desejam e vivessem livres da violência e discriminação, veríamos crianças e famílias mais saudáveis e as mulheres ocupando o seu lugar na sociedade.

A comunidade internacional concorda com a importância dos direitos de meninas e de mulheres. Em 1994, 179 governos se reuniram no Cairo para a histórica Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento.

Eles concordaram que o empoderamento das meninas e mulheres é um passo importante para erradicar a pobreza e estabilizar o crescimento populacional. Saúde reprodutiva e direitos - inclusive o de determinar livre e responsavelmente o número, espaçamento e momento de ter filhos, sem coerção, discriminação e violência- são pilares do empoderamento das mulheres e do desenvolvimento sustentável.

Infelizmente, enquanto o direito à saúde sexual e reprodutiva tem sido proclamado, está longe de ser universalmente respeitado. Estima-se que 215 milhões de mulheres nos países menos desenvolvidos querem evitar ou adiar a gravidez, mas não têm acesso a anticoncepcionais modernos.

A cada dia, mil mulheres morrem de complicações na gravidez e no parto. Mortes que podem ser evitadas. Quando mulheres e casais têm acesso a informações e serviços de saúde reprodutiva adequados, incluindo planejamento familiar, garantimos que cada criança seja desejada e que cada parto seja seguro. Assim, podemos reduzir a pobreza.

De acordo com a projeção mediana da Divisão de População das Nações Unidas, a população mundial chegará a 8 bilhões em 2025, a 9 bilhões em 2043 e a 10 bilhões em 2083. Mas essas projeções dependem do acesso ao planejamento familiar e dos direitos de que mulheres, homens e jovens façam suas próprias escolhas.

Os jovens já estão transformando a sociedade, a política e a cultura

Com o ativo engajamento das mulheres e jovens, podemos construir um futuro melhor. Aproximamo-nos de uma população mundial de 7 bilhões, e cada um de nós é parte desse grande marco. Nossas pequenas ações individuais, multiplicadas em todo o mundo, podem levar a mudanças exponenciais.

Juntem-se a nós na criação de um mundo mais justo e sustentável. Visite www.7billionactions.org e faça parte desse movimento global. Juntos, somos 7 bilhões de pessoas, contando uns com os outros.

BABATUNDE OSOTIMEHIN é diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).


Fonte: Blog do Prof. Evaldo e Amigos - Rumo a um mundo de 7 bilhões de pessoas - BABATUNDE OSOTIMEHIN 

Solução adiada

2 de maio de 2011 | 0h 00
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A comemoração do governo pela queda dos preços do álcool, em 3,5% nestas primeiras semanas de maio, são prematuras. Não há nenhum problema definitivamente resolvido.
A produção de álcool nesta safra de cana-de-açúcar, que começou em maio e deverá prolongar-se até dezembro, deverá atingir os 27 bilhões de litros, apenas 0,4% acima da produção da safra anterior. E, no entanto, o consumo cresce a mais de 5% ao ano. Ou seja, mais escassez e mais distorções estão sendo plantadas agora e serão colhidas em 2012.
Para entender o que está em jogo, é preciso avaliar melhor o comportamento do mercado do etanol. Em 2011, cerca de 70% desses 25 bilhões de litros corresponderão ao álcool hidratado, aquele que vai para os tanques de combustível sem adição à gasolina. Os outros 30% são de álcool anidro, o que vai misturado à gasolina à proporção que hoje é de 25%.
Em princípio, o volume de consumo de álcool hidratado depende dos preços. Como rende energia correspondente a apenas 70% do rendimento da gasolina, sempre que os preços do álcool ultrapassarem os 70% do preço dela o consumidor tenderá a abastecer seu carro flex não com álcool. Isso significa que os preços do álcool hidratado são regidos pelos preços da gasolina.
O problema está nos 25% de álcool anidro. Se houver escassez e os preços do álcool anidro subirem como subiram neste início do ano, será inevitável que a própria gasolina também encareça nos postos de combustíveis, pois a mistura ficou mais cara em consequência da alta do álcool. Conforme relata Marcos Jank, presidente da Unica, entidade que reúne o maior grupo de usineiros, a proposta hoje em exame é a de que as distribuidoras apenas possam comprar gasolina se já tiverem asseguradas suas disponibilidades de álcool anidro para mistura. No entanto, mesmo se essa proposta vier a ser acatada, é preciso garantir produção.
Alguém poderia dizer que bastaria que o governo mantivesse achatados os preços da gasolina no varejo para que os do álcool hidratado permanecessem relativamente baixos e garantissem, assim, o controle da inflação. No entanto, a principal causa da relativamente baixa de produção de álcool não é o eventual desvio de matéria-prima (caldo de cana) para a fábrica de açúcar, mas o estancamento da produção de cana-de-açúcar. As margens do produtor estão caindo e ele não vem sentindo interesse em ampliar sua massa verde, especialmente se a soja e o milho vêm rendendo mais.
Isso significa que uma das condições para aumento dos investimentos no plantio de cana-de-açúcar e na produção de álcool é o aumento dos preços da gasolina, para que o consumidor não troque o álcool por ela.
Ainda assim, a especialista Amarillys Romano, da Tendências Consultoria, avisa que não há providências para que esse problema seja resolvido pelo menos a longo prazo. Até 2020, argumenta, a capacidade de processamento de cana-de-açúcar deve saltar de 640 milhões de toneladas para 960 milhões de toneladas. E, no entanto, abaixo de 1,4 bilhão de toneladas, a demanda brasileira não será satisfeita sem investimentos progressivos.