quarta-feira, 30 de junho de 2010

Lodo de esgoto substitui adubo mineral na cana-de-açúcar

4/6/2010 12:09:30


Por Redação, com Agência USP - de São Paulo


Os solos brasileiros são pobres em matéria orgânica
A utilização de lodo de esgoto na adubação de cana-de-açúcar pode substituir em 100% o uso do adubo mineral nitrogenado necessário para a cultura da planta. Além dos benefícios ambientais e ecológicos, a técnica pode aumentar a produtividade e diminuir custos. Essas são as conclusões da pesquisa coordenada pelo professor Cassio Hamilton Abreu Junior, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracicaba.
Pela vantagem de eliminar ou minimizar o uso de adubos minerais, a utilização do lodo de esgoto no solo brasileiro para fins agrícolas é estudada há quase 30 anos.
– Apesar desse tempo todo de estudo, o assunto é relativamente recente no Brasil quando comparado com EUA, Europa e Ásia, onde a prática é mais antiga , informa Abreu Junior.
Porém, a preocupação do pesquisador do Cena em estudar o assunto ultrapassou o processo de produção agrícola: abordou a contaminação do solo, dos lençóis freáticos e dos próprios alimentos.
Segundo o professor, a atividade humana nas cidades gera dois importantes resíduos: lixo urbano e lodo de esgoto (oriundo do tratamento dos esgotos domésticos).
– Lembrando que os solos brasileiros são pobres em matéria orgânica, a utilização de composto do lixo para fins agrícolas vem sendo difundida por estudos acadêmicos porque, além de rica fonte de matéria orgânica, elimina ou minimiza o uso de adubos minerais –, destaca.
No caso do uso agrícola do lodo de esgoto doméstico, sua aplicação é controlada por autorização da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
– Apesar de o lodo possuir matéria orgânica e nutrientes importantes para o crescimento das plantas como nitrogênio e fósforo, também pode conter patógenos, metais pesados e compostos orgânicos –, explica.
Outra importante vantagem ambiental é o prolongamento da vida útil dos aterros sanitários, destino dos resíduos domésticos.
– Se o lixo e o lodo possuem matéria orgânica e nutrientes benéficos para o solo, além de atenderem as normas para uso agrícola, por que jogar no aterro algo que é nobre? –, questiona Abreu Junior ao se referir sobre os altos custos de implantação de aterros controlados.
– Isso sem contar o impacto ambiental causado por estes locais, que são males necessários. Ninguém quer um aterro perto de casa –, completa.
Os estudos do Cena são conduzidos em plantações de eucalipto em parceria com a empresa Suzano Papel e Celulose. Na cultura de cana-de-açúcar, os testes são em áreas cultivadas do Grupo Cosan. Dados já confirmados nessas culturas dão como certa a capacidade de o lodo substituir o adubo mineral que contém nitrogênio e fósforo.
Os experimentos com cana estão mais adiantados em comparação ao ciclo do eucalipto, que dura sete anos.
– Na cana, há o aumento de 12% da produtividade nos locais que receberam o lodo aplicado como substituto do nitrogênio e complementado com adubo contendo potássio (o lodo é pobre nesse nutriente), conforme a norma do Conselho Nacional do Meio Ambiente[Conama], órgão do Ministério do Meio Ambiente –, esclarece o professor.
– Com relação à cana, podemos afirmar que 100% do adubo mineral nitrogenado que deveria ser aplicado pode ser substituído pelo lodo de esgoto –, afirma o pesquisador, ressaltando que as doses de fósforo são supridas em até 30%.
As pesquisas também indicam outros números promissores quando verificados os efeitos da adubação com a utilização de lodo de esgoto no plantio das árvores. Em eucalipto, esse tipo de adubação substitui totalmente o uso de nitrogênio e supre 66% do fósforo necessário. O pesquisador alerta que os resultados devem ser interpretados com cautela.
– Apesar do volume crescente de estações de tratamento de esgoto, que significa farta abundância deste produto, o lodo deve ser aplicado seguindo os critérios exigidos pela norma do Conama.
Outro subproduto gerado pelas estações de tratamento de esgoto e que pode ser muito utilizado na agricultura é a água residuária, rica fonte de fertirrigação por conter nutrientes.
– O lodo e a água provenientes de estações de tratamento, quando gerados de forma correta, têm uso agrícola interessante. Basta tratá-los de forma adequada. O mais importante é que o esgoto seja urbano e não industrial –, alerta Abreu Junior.
Mais uma vantagem ambiental destas pesquisas são as alternativas para a substituição do fósforo na adubação, material que está se tornando escasso.
– Como as reservas naturais de fósforo tendem a acabar, o estudo visa buscar alternativas ambientais e ecológicas para retornar o nutriente em solos pobres –, conclui.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Governo paulista tenta ressuscitar Emae

Autor(es): Josette Goulart, de São Paulo
Valor Econômico - 29/06/2010
Depois de anos de tentativas frustradas de fazer a Sabesp incorporar os ativos da Emae, o governo de São Paulo tenta agora ressuscitar a empresa de geração por meio de parcerias com sócios público ou privados em novos investimentos. Na semana passada, foi sancionada a lei estadual número 14.150 que permite que a Emae se associe ou crie subsidiárias em sociedade para explorar fontes alternativas ou renováveis de energia. Com isso, a empresa tenta se reerguer depois de anos de prejuízos e receita decrescente.
"A lei marca um novo começo para a Emae", diz o presidente da empresa, Antonio Bolognesi. Algumas parcerias já estão sendo estudadas para dois projetos que juntos vão requerer R$ 1 bilhão de investimentos. O primeiro é a despoluição do rio Pinheiros, que vai permitir que a usina hidrelétrica Henry Borden, que pertence à Emae, possa gerar na média por ano 300 MW a mais do que consegue atualmente. O segundo projeto é para a geração de energia a partir do lixo produzido pelos grandes centros paulistas e que será a alternativa para aterros sanitários, hoje com capacidade esgotada.
A secretária de Energia do Estado de São Paulo, Dilma Pena, diz que deve entregar nas próximas semanas um estudo ao governo federal para que a produção de energia a partir do lixo seja desonerada de PIS, Cofins e IPI. Isso porque esse tipo de energia é ainda muito cara e não encontra compradores. A secretária Dilma foi quem trabalhou para aprovar a lei que permite as parcerias a serem feitas pela Emae. Ela diz que isso não impede que a Sabesp ainda compre a empresa, mas segundo apurou o Valor é pouco provável que as negociações avancem.
Mesmo sem parceria ainda firmada, a Emae quer colocar seu primeiro investimento na rua ainda em 2010, depois de anos de paralisia. A empresa está fechando financiamento com o BNDES para investir R$ 100 milhões na pequena central hidrelétrica de Pirapora com capacidade de 25 MW. A PCH está inscrita no leilão de energias alternativas do governo federal que acontece ainda este ano. "Mas se o preço não estiver bom podemos vender essa energia no mercado livre", diz Bolognesi. Além de Pirapora, a Emae também vai investir R$ 20 milhões na motorização da usina de Edgar de Souza.
O último investimento feito pela empresa foi em 2005, e mesmo assim não muito significativo, segundo conta Bolognesi. Antes disso, investimentos de vulto só foram feitos na década de 60. AEmae surgiu em 1998, a partir da cisão da Eletropaulo nos processos de privatização. A empresa possui quatro usinas hidrelétricas com capacidade de gerar mais de 1.000 MW e uma termelétrica, de Piratininga, com capacidade de gerar cerca de 430 MW e que foi arrendada em 2008 para a Petrobras.
A térmica foi uma das soluções encontradas para resolver parte dos problemas financeiros daEmae. O grande desafio agora é recuperar a capacidade de geração de caixa por meio da usina Henry Borden. A usina consegue gerar apenas 120 MW médios de energia, apesar de ter capacidade de cerca de 800 MW. Isso acontece, segundo explica o presidente da empresa, porque o reservatório Billings está impedido de bombear água suficiente para a usina em função de uma proibição prevista na Constituição estadual. Ela impôs a condição de que a empresa despolua o rio para ter acesso a água que fica no reservatórios. A empresa avalia fazer a flotação do rio, o que vai requerer R$ 600 milhões, mas ainda está em fase de elaboração do estudo de impacto ambiental. A meta é de concluir toda a obra em 2013.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A vida nunca foi tão boa

A vida nunca foi tão boa

Apesar da poluição e da fome persistente, não há como negar que chegamos longe

05 de maio de 2010 | 0h 00
    Michael Shermer - O Estado de S.Paulo
LOS ANGELES TIMES
Virou moda entre ambientalistas de hoje pintar um quadro sombrio de nosso futuro. Embora existam muitas questões ambientais por resolver, muitas espécies ameaçadas, mais poluição do que a maioria de nós gostaria e gente demais passando fome todos os dias, não vamos esquecer de como chegamos longe, tendo começado 10 mil anos atrás.
Naquele tempo, todas as pessoas viviam como caçadoras-coletoras em relativa pobreza comparada com hoje. O quanto elas eram pobres? Se alguém entrar hoje numa aldeia ianomâmi no Brasil - uma boa analogia de como viviam nossos ancestrais - e contar as ferramentas de pedra, cestos, pontas de flecha, arcos, redes de dormir, vasos de cerâmica, outras ferramentas diversas, vários produtos medicinais, bichos de estimação, produtos alimentícios, artigos de vestuário, etc., não contaria mais de 300 artigos. Há 10 mil anos, essa era a riqueza material aproximada de cada aldeia do planeta.
Em contraste, se entrar na aldeia de Manhattan hoje e contar todos os produtos diferentes disponíveis em lojas de varejo e restaurantes, lojas de fábrica e superlojas, terminaria com um número estimado de cerca de 10 bilhões (com base na conta pelo sistema de código de barra UPC). Antropólogos econômicos estimam que a renda anual média de caçadores-coletores tenha sido de cerca de US$ 100 por pessoa e a renda anual média por pessoa em grandes cidades esteja em torno de US$ 40 mil.
Se já houve um grande salto à frente, essa é uma evidência. Eric Beinhocker em seu livro, The Origin of Wealth (A origem da riqueza) estimou que a renda anual de US$ 100 por pessoa só cresceu a cerca de US$ 150 por pessoa até 1000 a. C. e não excedeu a US$ 200 por pessoa até depois de 1750 e o começo da Revolução Industrial . Hoje, a média é US$ 6.600 por pessoa por ano para o mundo inteiro. Claro, a magnitude da riqueza é muito maior para as pessoas mais ricas nos países mais ricos.
Como mostra Gregg Easterbrook em The Progress Paradox (O paradoxo do progresso), nos últimos 50 anos, os padrões de vida aumentaram dramaticamente. O Produto Interno Bruto per capita em 1950, computado em dólares de 1996, era de apenas US$ 11.087, ante US$ 34.365 em 2000.
E mais pessoas estão subindo na hierarquia econômica. Em 2000, um quarto dos americanos ganhava pelo menos US$ 75 mil por ano, o que os situava na classe média alta, em comparação com 1890, quando somente 1% ganhava o equivalente a esse valor. Desde 1980, a porcentagem de pessoas que ganham US$ 100 mil ou mais por ano, em dólares de hoje, dobrou. O que podemos comprar com esse dinheiro também aumentou significativamente. Um cheeseburger do McDonald"s custava 30 minutos de trabalho nos anos 50, três minutos de trabalho hoje.
Também temos mais bens materiais - de veículos a roupas de grife e engenhocas de todo tipo. Isso não é tudo. O crime diminuiu. A maioria das taxas de criminalidade em toda parte despencou ao longo dos anos 90. Os americanos de hoje também têm uma semana de trabalho mais curta, com uma queda acentuada do total de horas trabalhadas nas últimas 15 décadas. Por causa disso, seria perfeitamente são rejeitar uma viagem na máquina do tempo a qualquer ponto do passado. Sem menosprezar problemas que ainda precisam ser resolvidos, é tempo de reconhecer que esta é uma vida melhor para mais pessoas em mais lugares. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK
É PUBLISHER DA REVISTA "SKEPTIC" E COLUNISTA DA "SCIENTIFIC AMERICAN"V