Quem assistiu ao debate entre pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo realizado pela Band, na quinta-feira (8), pode ter tido a impressão de que tomou um Zolpidem e esqueceu de se deitar. Pablo Marçal (PRTB) simulou que cheirava cocaína, defendeu a construção de um prédio de um quilômetro de altura e prometeu aulas de inteligência emocional enquanto gritava histericamente com seus oponentes.
Nem mesmo o aerotrem de Levy Fidelix foi páreo para a utopia do pré-candidato: Marçal disse querer instituir uma rede de teleféricos como meio de transporte na maior cidade da América Latina. Tudo isso enquanto usava um boné com a inicial de seu nome e proferia palavras de baixo calão em rede nacional.
Há sempre uma expectativa pelo espetáculo em debates dessa natureza, é verdade. De Enéas Carneiro a Cabo Daciolo, passando recentemente pelo "candidato padre", o brasileiro sabe da vocação de sua política para gestar figuras herméticas e caricatas.
Marçal, contudo, traz consigo sinais que devem ser acompanhados com atenção. A ausência de limites de quem está acostumado a falar para os seus nas redes sociais, a comunicação agressiva e o seu desprezo por um plano de governo o revelam como um estágio evoluído do embrião que originou o bolsonarismo.
Seu discurso supostamente antissistema agrada a uma parcela sádica de eleitores que sonha em um dia aniquilar políticos. Marçal ainda contempla aqueles que cometem desvios éticos de toda sorte, mas encontram indulto na defesa dos ditos bons costumes.
O saldo do programa suscita questionamentos em torno da decisão da Band, que não foi obrigada a convidá-lo, mas o fez por entender que havia relevância jornalística em sua participação. Inspira, sobretudo, discussões sobre modelos de debates na TV aberta em tempos em que tipos como ele chegam à arena com plateia cativa e fazem de tudo para incendiá-la.
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