Maurice Hilleman (1919-2005) deveria ter uma estátua em cada cidade do planeta. Este cientista incomumente produtivo desenvolveu mais de 40 vacinas. Milhões de humanos que hoje habitam a Terra só estão vivos por causa de seus esforços. Num caso raro de transcendência em ato, Hilleman continua a salvar vidas mesmo depois de morto, já que suas vacinas seguem sendo usadas.
Mas Hilleman não só não coleciona muitas estátuas como é um nome pouco conhecido fora dos círculos especializados. Pior, no fim da vida, enfrentou uma campanha de ódio devido ao falso rumor de que uma de suas vacinas causa autismo. Adultos já passamos da idade de acreditar na falácia do mundo justo, mas é preocupante constatar que coberturas vacinais estão em queda em várias partes do globo. Não se trata só de ingratidão, mas de comportamento autodestrutivo. Combater essa tendência é uma prioridade global.
O negacionismo vacinal, de origem religiosa ou ideológica, é parte do problema. Em alguns lugares do mundo, uma parte importante. Mas é preciso cuidado para não partir de diagnósticos errados. No Brasil, os dados sugerem que o problema, ao menos no que diz respeito à vacinação infantil regular, é mais uma combinação de preguiça parental com falta de urgência do que de resistência ideológica. Um bom indício disso vem da BCG, vacina de dose única aplicada aos recém-nascidos ainda no hospital. No caso desse imunizante, a cobertura costuma ficar próxima à meta.
Sem prejuízo de imprecar contra negacionistas, o caminho para vacinar mais é tentar simplificar os esquemas e facilitar a vida dos pais, levando os imunizantes até as crianças. Assustar um pouco a população, lembrando-a dos riscos das doenças, também pode funcionar. A vacinação tem algo da maldição de Cassandra. Seu sucesso em reduzir o fardo das moléstias faz com que estas não sejam percebidas como ameaça, o que diminui o apelo dos imunizantes.
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