sexta-feira, 7 de junho de 2024

Café Girondino fecha as portas no centro de SP, FSP

 

SÃO PAULO

Referência para frequentadores da região central de São Paulo, o Café Girondino fechou suas portas na última segunda-feira (3). Atendendo 30% do público habitual na comparação com a frequência pré-pandemia, a direção do restaurante que funciona há 26 anos diante do Mosteiro de São Bento decidiu encerrar a operação.

Com arredores esvaziados devido à adesão em larga escala de empresas do setor financeiro ao home office e à "persistente sensação de insegurança que afugenta turistas" do centro histórico paulistano, a operação se tornou financeiramente insustentável, segundo Felippe Nunes, gerente comercial que trabalha na casa desde o início dos anos 2000.

Imagem mostra imóvel de esquina com portas fechadas e prédios ao fundo
Fachada do Café Girondino fechada no centro histórico de São Paulo; ao fundo, o edifício Altino Arantes, uma das atrações turísticas da região - Douglas Nascimento/São Paulo Antiga

Nunes vem representando o Girondino em diversos encontros de empresários e do poder público para discutir a revitalização do centro, mas a avaliação agora é de que chegou ao limite.

"O centro está melhorando, o policiamento aumentou, as pessoas estão voltando a frequentar, mas esse aumento do público não está ocorrendo na velocidade que precisamos", diz o gerente. "A pandemia machucou demais a gente, o faturamento chegou a cair para 3% do normal", comenta.

Inaugurado em 1998 em um prédio que pertencia à Santa Casa de Misericórdia e foi construído pelo Metrô como contrapartida pela inauguração da estação São Bento, em 1975, o Girondino tem uma relação ainda mais antiga com a cidade de São Paulo, conta Nunes.

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O restaurante foi inspirado no café homônimo que funcionou entre 1875 e a década de 1920 na esquina da rua 15 de Novembro com a praça da Sé. O local era ponto de encontro para transações comerciais entre barões do café.

A recriação, no final da década de 1990, manteve a tradição de receber frequentadores do mundo dos negócios. Operadores e investidores da Bolsa de Valores ajudavam a manter o local lotado durante a semana. Já perto dos anos 2010, pregões presenciais foram totalmente substituídos por negociações eletrônicas.

A ausência dos profissionais da Bolsa era compensada pela presença de servidores públicos de órgãos estaduais que passaram a funcionar no entorno, além dos bancários, na época em que a 15 de Novembro ainda tinha o apelido de "rua dos bancos".

"Enfrentamos muitas transformações, mas nada se compara ao que aconteceu na pandemia", diz Nunes.

A casa de 250 lugares distribuídos em três andares e cerca de 400 metros quadrados ainda é referência para turistas que frequentam a região aos sábados, único dia em que tem lotação parecida à dos bons tempos. Muitos visitantes são atraídos pelo comércio da rua 25 de Março, mas alguns vão especialmente ao local para conhecer o café.

"Sabemos que o Girondino é um local de destino e o seu fechamento vai agravar ainda mais o esvaziamento do centro, mas eu peço às pessoas que venham, que conheçam outros cafés e restaurantes daqui, muitos são maravilhosos", afirma.

As gestões do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) têm colocado em curso uma série de iniciativas para tentar reverter a tendência de esvaziamento da região central, agravada pela pandemia, mas que também foi impactada pelo espraiamento das cenas abertas de consumo de crack, as chamadas cracolândias.

presença de pessoas em situação de rua e de usuários de drogas está entre as principais reclamações da população, segundo o Datafolha.

A região onde funcionava o Café Girondino é alvo de um programa de incentivos municipais para a recuperação de edifícios antigos para serem transformados, principalmente, em moradias.

Há cerca de dois meses, o governo estadual também lançou uma parceria público-privada com a previsão de R$ 2,4 bilhões em investimentos em moradia na área central da capital.

A avaliação dos resultados desses programas, porém, demanda tempo. Alguns dos projetos anunciados podem levar cerca de cinco anos para serem concluídos.

Até mesmo o Plano Diretor da cidade, que desde 2014, na gestão Fernando Haddad (PT), dá incentivos financeiros para a ocupação de áreas coma maior infraestrutura de transporte, que é o caso do centro, ainda não conseguiu aumentar a quantidade de moradores permanentes na região, conforme mostraram dados do Censo 2022 do IBGE.

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