sexta-feira, 10 de maio de 2024

Guaíba recebeu quase metade do volume de água de Itaipu em uma semana de chuvas, aponta instituto da UFRGS, g1

 As recentes chuvas no Rio Grande do Sul levaram 14,2 trilhões de litros de água entre 1º e 7 de maio para o lago Guaíba, segundo o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi o transbordamento do Guaíba que inundou ruas, causou mortes e deixou Porto Alegre em calamidade.

O volume equivale a quase metade do reservatório da usina de Itaipu, segunda maior hidrelétrica geradora de energia do mundo, que tem 29 trilhões de litros de água e praticamente o triplo do tamanho do Guaíba (1.350 km² ante 496 km²).

Comparativo do volume recebido pelo Guaíba com o reservatório de Itaipu — Foto: Barbara Miranda/Arte g1

Comparativo do volume recebido pelo Guaíba com o reservatório de Itaipu — Foto: Barbara Miranda/Arte g1

" A comparação com Itaipu dá ideia da dimensão do evento. Mesmo excepcional, (essas chuvas de abril/maio) alteram o entendimento do comportamento da bacia do Guaíba em anos de El Niño forte", afirma Fernando Meirelles, pesquisador do IPH, citando o evento climático que agravou as chuvas na Região Sul.

Em tempos normais, os 14,2 trilhões de litros levariam 18 semanas para passar pelo Guaíba. A velocidade com que a água corre pelo lago – a chamada vazão – disparou. O que era 1,3 milhão de litros por segundo chegou perto dos 30 milhões de litros por segundo.

Este dilúvio em curto período fez o Guaíba, que tem em média 2 metros de profundidade, saltar para o nível de 5,2 metros – superando o recorde histórico registrado na cheia que alagou Porto Alegre em 1941 e alagando boa parte da capital gaúcha.

E de onde veio essa água toda?

O lago Guaíba é o destino dos rios Gravataí, dos SinosJacuíTaquariCaí e Vacacaí (esses dois últimos desaguam no Taquari). A chuva que caiu sobre esses rios viaja pelas bacias e desagua no lago porto-alegrense, que depois leva o volume até a Lagoa dos Patos, que encaminha o volume excedente para o oceano.

Quanta água chegou a Porto Alegre — Foto: Barbara Miranda/arte g1

Quanta água chegou a Porto Alegre — Foto: Barbara Miranda/arte g1

O Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) aferiu a queda de 12,7 trilhões de litros d'água oriundos das chuvas sobre os rios citados entre 28 de abril 6 de maio. O cálculo foi feito com base em uma sistema que une monitoramentos de pluviômetros, radares e satélites meteorológicos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Foi esse volume que causou destruição nas cidades mais ao norte do estado.

"A quantidade de água que o lago recebeu nesses dias, para se ter uma ideia, é como se tivesse caído em três dias o que ele recebe em um mês inteiro. A inundação em Porto Alegre e Canoas é consequência de toda esta água", diz Laercio Namikawa, que é pesquisador do setor ligado a desastres naturais do Inpe.

Os 12,7 trilhões de litros representam um volume inferior, mas próximo dos 14,2 trilhões que o IPH/UFRGS calcula ter chegado ao Guaíba entre  e 7 de maio, quando ocorreram os maiores impactos em Porto Alegre.

A diferença entre os números ocorre porque:

  • O Inpe fez o cálculo dos 12,7 trilhões com base em um sistema que une monitoramentos de pluviômetros, radares e satélites meteorológicos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden);
  • Já o modelo hidrológico utilizado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas para estimar os 14,2 trilhões leva em conta, além da água da chuva, a chamada “vazão de base”, o volume constante que flui por um curso hídrico, e variáveis como temperatura do ar, vento, sol e pressão atmosférica para calcular quanto de água chega a uma bacia.
  • Entre outros fatores, o volume aferido pelo IPH é maior porque os dados do Cemaden/Inpe não consideram, por exemplo, o próprio volume de água que já estava nas bacias e no lago.

O que pode acontecer com mais chuva no RS?

Na quarta-feira (8) o Guaíba baixou pela primeira vez dos 5 metros, segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). No entanto, o risco é a frente fria que deve chegar ao sul do país.

Segundo os meteorologistas, até domingo, uma frente fria deve subir para a metade norte do Rio Grande do Sul. O ponto de atenção é que esses são os dias em que a chuva deve ficar mais intensa e ela atinge, justamente, a cabeceira dos rios do estado.

➡️ Caso o lago não seja afetado por novas cheias, a previsão é de que ele leve ao menos 30 dias para voltar ao nível abaixo dos 3 metros.

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