Volodymyr Zelenski, o presidente da Ucrânia, é algo novo: está usando as redes como chefe de Estado de país em guerra. De seu exemplo, inevitavelmente, sairão algumas lições sobre como democracia e o mundo online se encontram. Com toda a cautela necessária para a comparação histórica, é um Churchill. Winston Churchill era o premiê britânico quando a Europa havia sido engolida pelo nazifascismo. Zelenski é o presidente de um país invadido pelo vizinho imperialista. Estando clara a diferença, o mundo nunca havia visto alguém inspirar pelo rádio como Churchill. E nunca viu alguém fazer o mesmo pelas redes como Zelenski. Ambos foram os primeiros a dominar os novos meios para este fim.
Numa guerra, um chefe de Estado tem duas missões. Inspirar para o sacrifício de vida e conseguir apoio de outras nações. Com sua voz anasalada e pausada, Churchill manteve os britânicos de pé sob bombardeio contra civis.
Volodymyr Zelenski é um ator – não se limita ao humor. Seu personagem na TV era um professor conservador, daqueles indignados com os “corruptos”. Com o sucesso, fez o personagem se candidatar a presidente e ganhar. E, aí, ele próprio se candidatou. Venceu. Nos EUA, Donald Trump o tratou como um politicozinho. Na Rússia, Vladimir Putin achou que não teria problema. Erraram. Ronald Reagan já devia ter sido lição sobre as qualidades que um ator traz para o exercício da presidência.
É um erro achar que é só o exercício fútil de uma técnica. Esse cara se comprometeu a ficar em Kiev até o fim. Ele e sua mulher têm 44 anos, juntos têm uma filha de 17 e um menino de 9. Impor este nível de sacrifício causa estranheza? Chefe de Estado em guerra não tem essa escolha. Está pedindo a mães e pais que façam o mesmo para manter de pé a praça em frente a suas casas, para manter vivos os professores em suas escolas, para manter livres seus amigos. Este é o peso real em tempo de guerra.
Para mostrar que está em Kiev, diariamente distribui pelas redes selfies com seus ministros. Para arrancar dos vizinhos mais ricos armas e concessões, está num Zoom constante. Lança ainda mensagens aos russos comuns, buscando empatia. É claro que o veículo da mensagem é a emoção. Este é um debate a respeito de valores e Zelenski deixa isto claro. Está fazendo chefes de Estado chorar, criando mobilização que pressiona outros líderes.
Ele está pedindo coisas muito difíceis para públicos muito diferentes. E está conseguindo. Quem o resume a “um humorista” não entendeu nada. Não entendeu, sequer, o que fazem humoristas.
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