Rio - O Brasil acaba de chegar à marca histórica de 14 gigawatts (GW) de capacidade instalada de energia solar fotovoltaica, a mesma potência da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, informou a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A fonte solar é a mais promissora entre as fontes de energias renováveis no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que prevê a fonte como a principal da Europa em 2025 e um pouco mais tarde, do Brasil, podendo chegar a um terço de toda a energia consumida pelos brasileiros em 2050.
A marca, alcançada no começo de março, leva em conta parques centralizados e a geração própria de energia em telhados, fachadas e pequenos terrenos, a chamada geração distribuída, uma tecnologia que cresceu vertiginosamente no País e ganhou ainda mais força após a aprovação do marco regulatório, sancionado em janeiro deste ano. Para aproveitar as regras antigas, que não preveem o pagamento da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd), entre outros benefícios, os interessados em projetos de geração distribuída estão correndo para instalar os sistemas até 6 de janeiro de 2023.
A busca pela geração distribuída tem sido uma das maneiras do brasileiro tentar driblar as altas contas de energia elétrica no Brasil, avalia a consultora da Clean Energy Latin America (Cela) Camila Ramos, principalmente após o surgimento de linhas de financiamento para o segmento, que não para de crescer. Segundo levantamento da Cela, em 2019, os financiamentos para energia solar totalizaram R$ 5,4 bilhões, praticamente divididos meio a meio entre a energia solar distribuída e a centralizada (projetos vendidos nos leilões do governo). Em 2020, os R$ 7,9 bilhões totais financiados também foram divididos meio a meio. Já em 2021, a geração distribuída deu um salto, para R$ 9,9 bilhões, que somados aos R$ 6,6 bilhões da geração solar centralizada, atingiu o total de R$ 16,2 bilhões.
A consultora lembra que o Brasil tem a segunda maior tarifa de energia elétrica do mundo, segundo recente levantamento da Agência Nacional de Energia (ANE), e ao mesmo tempo uma irradiação solar reconhecidamente excelente. Com a evolução da tecnologia e consequente barateamento dos sistemas - que no momento vivem uma alta puxada pela oferta apertada em relação à demanda – a energia solar cresceu no mundo inteiro e no Brasil, além de abater a conta de luz, deverá ser ainda mais impulsionada nos próximos anos com sua utilização na fabricação de hidrogênio, explica a consultora.
De acordo com a Absolar, a fonte solar já trouxe ao Brasil, desde 2012, mais de R$ 74,6 bilhões em novos investimentos, R$ 20,9 bilhões em arrecadação aos cofres públicos e gerou mais de 420 mil empregos. Evitou também a emissão de 18 milhões de toneladas de CO2 na geração de eletricidade.
O setor espera um crescimento acelerado este ano nos sistemas solares em operação no Brasil, especialmente os sistemas de geração própria solar, em decorrência do aumento nas tarifas de energia elétrica e da entrada em vigor da Lei n° 14.300/2022, que criou o marco legal da geração própria de energia (geração distribuída). A expectativa é de que a capacidade instalada no mínimo dobre, atingindo 28 MW no final deste ano.
“Trata-se, portanto do melhor momento para se investir em energia solar, justamente por conta do novo aumento já previsto na conta de luz dos brasileiros e do período de transição previsto na lei, que garante até 2045 a manutenção das regras atuais aos consumidores que instalarem um sistema solar no telhado até janeiro de 2023”, explica Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar.
O Brasil possui 4,7 GW de potência instalada em usinas solares de grande porte, o equivalente a 2,4% da matriz elétrica do País. Atualmente, as usinas solares de grande porte são a sexta maior fonte de geração do Brasil e estão presentes em todas as regiões, com empreendimentos em operação em dezenove estados brasileiros e um portfólio de 31,6 GW já outorgados para desenvolvimento. A geração própria de energia totaliza 9,3 GW de potência instalada da fonte solar. Isso equivale a mais de R$ 49,5 bilhões em investimentos, R$ 11 bilhões em arrecadação e cerca de 278 mil empregos acumulados desde 2012, espalhados pelas cinco regiões do Brasil.
A tecnologia solar é utilizada atualmente em 99,9% de todas as conexões de geração própria no País, liderando com folga o segmento. Ao somar as capacidades instaladas das grandes usinas e da geração própria de energia solar, a fonte solar ocupa o quinto lugar na matriz elétrica brasileira. A fonte solar já ultrapassou a potência instalada de termelétricas movidas a petróleo e outros combustíveis fósseis na matriz.
Vanessa Calvano, gerente comercial e moradora da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, há um ano não sabe mais o que é uma conta de eletricidade de R$ 1 mil, valor que pagava por ter que manter pelo menos um ar condicionado ligado durante todo o dia na casa onde convive com oito pessoas, para atender as necessidades especiais de uma criança. Ela pagou R$ 44 mil e financiou pelo Santander por 24 meses, e não se arrepende. Hoje a conta não chega a R$ 300,00. “A minha conta teve uma queda significativa, com certeza valeu a pena investir e vou ter o sistema por 25 anos”, diz.
Para o comerciante paulista Silvio Noda, após seis meses de muita burocracia só há motivo para comemorar. Uma conta de luz da sua loja de animais chegava a R$ 350,00 e da casa a R$ 600 antes da contratação do sistema solar fotovoltaico. “Agora pago R$ 40,00 na loja e R$ 110,00 em casa, mas sei que posso ajustar mehor esse esquema para baratear ainda mais a conta”, avalia.
Ele também gastou cerca de R$ 40 mil na instalação dos painéis, dinheiro que tinha guardado para trocar o carro no ano passado. Mas o avanço das contas de luz no País, após a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, o fez mudar de ideia. “Para o comerciante, o maior problema é a despesa fixa, da telefonia, do aluguel, da eletricidade, água, funcionário. Então, a cada itenzinho que você consegue reduzir dá uma diferença, porque é uma coisa constante e dá diferença no orçamento final bem grande”, afirmou.
Já a diretora de comercialização da distribuidora de equipamentos solar fotovoltaicos Win, Camila Nascimento, afirma que se 2021 foi bom, 2022 será muito melhor, mesmo com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que pode fazer crescer a demanda por painéis fotovoltaicos pela Europa e desabastecer o Brasil. “Apesar do Brasil estar muito desenvolvido, a Europa já é um grande cliente da China, e é possível sim que ela tenha prioridade no fornecimento de módulos, por isso estamos reforçando nossos estoques”, informou.
A Win tem material suficiente para atender seus clientes até junho, informa a diretora. Outra leva de módulos solares já está chegando ao País para garantir o restante do ano. O problema, destacou, é o elevado preço do frete, que em 2020 chegou a cair para US$ 700 o contêiner com 590 módulos nos portos da China, subiu para US$ 16 mil no ano passado e hoje gira em torno dos US$ 10 mil.
Ela espera multiplicar por três as vendas este ano, depois de já ter crescido na mesma ordem no ano passado. “2021 foi um ano bem promissor, principalmente comparado a 2020, a gente cresceu três vezes. Para 2022 a expectativa é repetir isso”, disse Nascimento.
Criada em 2019, a Win já investiu cerca de R$ 400 milhões no País e vendeu 3 MW em energia solar no primeiro ano, subindo para 30 MW em 2020 e pulando para 100 MW no ano passado. Para este ano, os planos são de chegar a 300 MW.
“A conta de energia é muito alta no Brasil e as pessoas começam a buscar alternativas e também que contribuam para a melhoria do planeta, é uma tendência mundial”, avalia a executiva.
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