A CNN publicou interessante reportagem mostrando como a liberal Dinamarca, em que pese estar recebendo ucranianos de braços abertos, se esforça para despachar refugiados sírios de volta para Damasco, onde a guerra civil refluiu, mas não acabou. E a Dinamarca está longe de ser um caso isolado nesse duplo padrão. Racismo? É um jeito de ver as coisas. E eu não diria que é um jeito errado.
Os que quiserem pintar um retrato mais favorável da natureza humana, porém, podem descrever a situação como um caso de etnocentrismo, fenômeno contíguo ao racismo, mas não idêntico a ele. A humanidade até que fez progressos na expansão de seu círculo de solidariedade moral. Nos primórdios, o homem ligava apenas para si e sua família, às vezes para os vizinhos. Com o decorrer do tempo passou a preocupar-se também com compatriotas, correligionários e, por fim, com todo o gênero humano. Até bichos já vão entrando agora nesse círculo.
Seria esperar demais, entretanto, que todos ocupassem a mesma posição. Só um kantiano ou um consequencialista extremos diriam que temos o dever moral de dispensar aos filhos de desconhecidos o mesmo nível de preocupação e cuidados que temos com os nossos. Eu não vejo, portanto, uma violação ética no fato de os europeus estarem dando tratamento preferencial a refugiados que eles consideram culturalmente mais próximos, mas pode haver uma em repatriar estrangeiros que corram perigo em seu país de origem e mesmo em fechar as fronteiras para quem se encontra sob risco de vida em sua terra natal.
Não defendo um igualitarismo tão forte que impeça as pessoas de exercer suas preferências, nem tão fraco que lhes permita ignorar aqueles que precisam de ajuda urgente.
Essa é uma discussão que transcende a guerras, porque, no médio e longo prazos, a imigração, inclusive a oriunda de terras longínquas, é a solução para os problemas demográficos dos países ricos.
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