Monônimo. Descobri-o outro dia e embatuquei. O Aurélio não o registra. O Houaiss, sim. É a palavra que abrange um só conceito. Quando se trata de nomear pessoas, dispensa epítetos e apodos. Exemplos: Aristóteles, Platão, Pitágoras, para citar somente alguns gregos de nossa intimidade. Ou Carlitos, Oscarito, Cantinflas. Ou Xuxa, Beyonce, Anitta. A literatura tem muitos: D’Artagnan, Pinóquio, Capitu, Tarzan, Tintin, Zorro. Reais ou imaginários, todos, celebridades monônimas.
Monônimos eram Cleópatra, Esopo, Confúcio, Spartacus, Lampião. Os escritores franceses eram chegados: Molière, Voltaire, Stendhal, Colette. Mas não é assim tão simples. Não basta que o sobrenome se imponha ao nome. Shakespeare não é um monônimo, assim como Churchill, Picasso e Gandhi —para suas mães, eles eram Billy, Winston, Pablo e Mahatma. Nem Drácula, Hitler e Bolsonaro —algum incauto um dia já os chamou de Vlad, Adolf e Jair. E atenção: Michelangelo era um monônimo, mas Da Vinci, não —sua turma em Florença o tratava, sem a menor cerimônia, de Leo. Marlene, a grande cantora, era um monônimo; Emilinha, não —porque era também Borba. Jaguar, sim; Millôr (Fernandes), não.
Não se sabe por que, mas, em sociedades que adoram empilhar sobrenomes, alguns se eternizam por um simples nome, que pode ser um apelido, pseudônimo ou prenome, mas só um. E já começou cedo, com Adão e Eva. A Bíblia, aliás, é um dilúvio de monônimos: Deus, Abraão, Sansão, Herodes, Salomé, uns mil mais. A música popular também: Pixinguinha, Cartola, Jamelão, Maysa, Djavan, Cazuza, Prince, Björk, Madonna.
Os jogadores de futebol já foram mais mononinômonos: Zizinho, Pelé, Garrincha, Tostão, Zico, Romário. Hoje todos têm nome e sobrenome e só faltam entrar em campo com cartões de visita. Benzema e Mbappé são quase exceções.
Sou a favor dos monônimos. Nomes devem dizer coisas, não ocupar espaço.
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