quinta-feira, 10 de março de 2022

Prefeitura contrata 1.459 vagas em hotéis para abrigar moradores de rua de São Paulo, FSP

 Mariana Zylberkan

SÃO PAULO

A Prefeitura de São Paulo contratou 1.459 vagas em 15 hotéis da região central da cidade para abrigar moradores de rua. Quase metade das vagas será destinada a famílias que passaram a viver nas calçadas.

De acordo com o plano de trabalho ao qual a Folha teve acesso com exclusividade, as contratações, concluídas na semana passada, irão custar R$ 22,3 milhões por seis meses.

Por enquanto, não há informações de quando as vagas começarão a ser utilizadas.

O número de vagas atende a 4,6% das 31,9 mil pessoas que vivem nas ruas paulistanas, segundo censo divulgado no início deste ano.

Regiane Cristina Albuquerque de Nascimento, 35, em situação de rua há 1 ano e mora numa barraca, na região da avenida Paulista
Prefeitura de São Paulo irá oferecer vagas em hotéis a moradores de rua - Mathilde Missioneiro - 2.dez.21/Folhapress

Do total de vagas, 660 serão ocupadas por famílias, perfil que mais cresceu entre os moradores de rua na pandemia —o total de pessoas que afirmaram viver com ao menos um familiar subiu de 4.868, em 2019, para 8.927, em 2021.

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O segundo público mais contemplado no projeto são os homens, com 360 vagas em hotéis, seguido pelas mulheres (com ou sem filhos e trans), com 210. Os idosos terão acesso a 179.

Parte desses hotéis foi usado pela prefeitura para abrigar idosos sem-teto durante a crise sanitária. A prefeitura afirmou que gasta R$ 5 milhões por mês para manter 905 vagas em hotéis locados e 838 contratadas de forma avulsa.

Desde o ano passado, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem ordenado ações de despejo em hotéis no entorno da cracolândia, na região central, que servem de moradia a sem-teto.

A maior parte dessas pessoas migrou para a praça Princesa Isabel, que tem sido cada vez mais ocupada por barracas.

A administração atribui as ações ao mau estado de preservação dos imóveis, que oferecem risco aos ocupantes. Os locais também são alvos de mandados de busca e apreensão da Polícia Civil. Os despejos são feitos sem o acompanhamento de assistentes sociais, segundo os moradores.

Em nota, a prefeitura afirmou que não há relação entre os hotéis sociais e a interdição de estabelecimentos na região da Luz. "Essas medidas [os despejos] são adotadas para preservar a segurança dos próprios usuários desses estabelecimentos", informou a administração.

Originalmente, esses hotéis no entorno da cracolândia integraram o programa De Braços Abertos, iniciado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Uma vez eleito prefeito, João Doria (PSDB) criticou duramente os hotéis sociais e fechou parte dos locais que abrigavam os dependentes químicos do programa, em 2018.

No mesmo ano, Doria deixou a prefeitura para concorrer ao governo estadual e deixou em seu lugar o vice, Bruno Covas (PSDB), morto em abril do ano passado vítima de complicações de um câncer. Nunes assumiu o cargo com a promessa de dar continuidade ao programa de governo do tucano.

A gestão Covas usou hotéis sociais da gestão Haddad para integrar seu programa voltado a dependentes químicos, o Siat (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica), anunciado em maio de 2019.

Dos 15 hotéis credenciados pela prefeitura, seis estão localizados no centro histórico, dois na Liberdade e na Bela Vista, três no Brás, um na Vila Buarque e outro em Campos Elíseos. Veja os endereços abaixo.

Na ocasião da divulgação do censo da população de rua, que apontou aumento de 31% de pessoas que não têm onde morar na capital paulista, a prefeitura lançou o programa Reencontro que prevê a construção de moradias pré-fabricadas para abrigar os sem-teto, entre outras ações.

A previsão é entregar ao menos 330 unidades de 18 m² na região central da cidade, em terrenos que são do município, mas nem a localização foi divulgada ainda pela administração.

O programa prevê também uma série de ações extintas em mandatos anteriores, como a contratação de mil sem-teto para serviços de zeladoria urbana, conforme ocorreu no extinto De Braços Abertos, iniciado na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

O novo programa também prevê a capacitação emocional para o trabalho, mesma proposta do Trabalho Novo, encerrado na gestão do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB). As iniciativas foram criticadas por especialistas.

VAGAS EM HOTÉIS PARA SEM-TETO

Bela Vista

Central Plaza Flat - rua Santo Amaro, 383
360 vagas para homens

4 Living Bela Vista by Atlântica - rua Barata Ribeiro, 61
20 vagas para idosos

Brás

Macedo's Hotel 2 - rua do Gasômetro
50 vagas para mulheres com filhos

Hotel Maracanã - rua Piratininga, 796
50 vagas para mulheres trans

Hotel FM - avenida Rangel Pestana, 1.546
300 vagas para famílias preferencialmente de imigrantes

Campos Elíseos

Reinales Plaza Hotel - alameda Barão de Limeira, 145
50 vagas para mulheres sem filhos

Centro

Nobilis - rua Santa Ifigênia, 72
125 vagas para idosos

Hotel América do Sul - praça Júlio Mesquita, 90
8 vagas para idosos

Hotel Columbia - rua dos Timbiras, 492
16 vagas para idosos

Hotel Plaza Apolo - rua dos Timbiras, 483
10 vagas para idosos

Hotel Paulicéia - rua dos Timbiras, 216
60 vagas para mulheres sem filhos

Hospedaria Meni - rua Vitória, 136
50 vagas para público não especificado

Liberdade

Hotel Muniz - rua Galvão Bueno, 779
160 vagas para famílias

Hotel Di Cavalcanti - rua Barão de Iguape, 779
100 vagas para famílias

Vila Buarque

Hotel Grants - rua Major Sertório, 412
100 vagas para famílias


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