04 de março de 2022 | 19h30
Uma vez conhecido o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021, de 4,6%, convém examinar com mais atenção o que pode acontecer neste ano, que já começa atacado em várias frentes.
As projeções de uma variação insignificante, de 0,3% em 2022, são apostas que se repetem. É o quanto prevê o mercado auscultado pelo Banco Central (BC) na Pesquisa Focus. Mas até mesmo essa projeção, feita com breque de mão puxado, enfrenta novas adversidades, especialmente depois da eclosão da guerra da Ucrânia. Dependendo de sua intensidade, de sua duração e do seu desfecho, pode mudar muita coisa na economia mundial e na do Brasil, como mais adiante ficará dito.
A economia brasileira já vinha enfrentando retrancas. O aperto monetário (alta dos juros) para combater a inflação e, portanto, seu impacto recessivo, era apenas uma delas. O desemprego alto, que atinge 11,1% da produção ativa, mais a perda generalizada de poder aquisitivo são outras.
O aumento do rombo das contas públicas e a incerteza política que cerca as eleições deste ano também seguram os investimentos e, principalmente, baixam o nível de confiança dos produtores. A atual disposição dos consumidores parece ser a de adiar compras de maior importância, porque temem comprometer o orçamento doméstico com mais despesas.
A seca no Centro-Sul também vai castigando as plantações, cujo desempenho mais baixo deve ser apenas em parte compensado por um aumento de preços das commodities.
Apesar da derrubada do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a atividade da indústria de transformação também não apontava para o campo positivo. Ao contrário, as projeções vinham sendo de queda constante de produção.
A guerra complica ainda mais esse quadro e acrescenta a ele mais incertezas. A inflação deverá produzir novos estragos ao redor do mundo, a começar pelos provocados pela disparada dos preços da energia e das commodities.
Ainda não se sabe até que ponto os fluxos de produção e distribuição ao redor do mundo, que ainda não se restabeleceram completamente da desorganização provocada pela pandemia, serão agravados pela retenção de navios, pela ação das sanções econômicas à Rússia e pela crise energética.
Aumentou a falta de insumos, de chips e de peças na indústria de transformação. A agricultura brasileira terá de ver onde obterá os fertilizantes potássicos. E sabe-se lá se a pandemia não poderá enfrentar novas ondas que demandarão mais iniciativas de reclusão social.
Os tempos são de forte neblina. Produtores e consumidores têm de operar na incerteza.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
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