1º.mar.2022 às 14h00
Segundo as más línguas, a bancada da Bíblia trocou o fim da resistência à legalização do jogo pela isenção do IPTU em imóveis alugados por igrejas. Segundo as boas línguas, isso é maledicência. Os religiosos continuariam firmes na condenação à jogatina e já teriam até combinado com Jair Bolsonaro um veto presidencial, caso o projeto seja mesmo aprovado. Não sei qual é a versão mais próxima aos fatos, mas devo dizer que há algo na postura dos religiosos que me incomoda.
Entendo perfeitamente que eles sejam contra o jogo. Eu mesmo, por razões estatísticas, não morais, tampouco recomendo às pessoas que apostem a dinheiro, pelo menos não com regularidade. Todas as modalidades de jogo são calculadas para fazer com que seja a banca, não os jogadores, que ganhe quando as interações são repetidas um número sufi cientemente grande de vezes. O que não entendo na posição dos religiosos é que eles não fiquem satisfeitos em convencer seus fiéis de que jogar é errado, mas queiram estender a proibição a toda a população e não hesitem em tentar arregimentar o monopólio estatal da violência para fazê-lo.
Não é uma atitude isolada. Os católicos, por exemplo, já se mobilizaram para impedir a legalização do divórcio no Brasil. Tudo bem que considerem o casamento uma união indissolúvel, tudo mal que tenham querido impor essa preferência ética a fiéis de outros credos e a não religiosos.
Não tenho habilitação em teologia, mas não me parece difícil conceber uma religião que incentive o jogo em vez de condená-lo. Abrir um canal para o acaso, afinal, pode ser descrito como uma forma de deixar que os deuses falem.
Vivemos hoje em sociedades densamente povoadas por indivíduos com os mais diferentes backgrounds religiosos e culturais. Nessas condições, a melhor forma de promover a paz social é restringir as leis ao mínimo indispensável e deixar que cada qual escolha a vida que quer viver.
helio@uol.com.br
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