Um desafio para qualquer sociedade que pretenda perdurar é encontrar o balanço entre mudança e estabilidade, entre a saudável contestação e o necessário consenso. A liberdade de expressão é a chave para isso. É ela que permite que as pessoas vão experimentando com ideias, isto é, que as coloquem sob escrutínio público para ver se de seu entrechoque afloram novos pontos de equilíbrio.
Sempre preciso, o colega Sérgio Rodrigues captura bem a origem do mal-estar provocado pelo texto de Antonio Risério: "Não é de hoje que me incomoda a postura sensacionalista de fabricar polêmicas contra consensos progressistas". Se seu objetivo, leitor, é vencer uma batalha cultural e tornar a recém-conquistada posição inexpugnável, deve mesmo gritar contra Risério.
Se seu compromisso —e nisso divirjo de Rodrigues— é com a transformação social de forma mais geral, então deve desejar que consensos em torno de ideias e valores sejam questionados com frequência.
Se a contestação for fraca, a tendência é que o consenso passe incólume ou até que seja reforçado; se for pertinente, é que ele saia enfraquecido ou seja substituído. Deve-se ressaltar aqui a palavra "tendência".
Não há garantia lógica de que o progresso se imponha. Ideias e práticas ruins podem vigorar por séculos. A aposta liberal, porém, é a de que, no longo prazo, se estiverem sob exame constante, as melhores triunfarão.
Vale lembrar que a ideia de que negros são inferiores e a de que homossexuais deveriam mortos já fizeram parte dos consensos sociais. Felizmente, houve quem os desafiasse. A menos que você considere que o mundo já é um lugar perfeito, deveria apoiar contestações. A liberdade de expressão vem, já há um par de séculos, nos prestando excelentes serviços. Não acho que devamos desistir dela só porque emplacamos dois ou três consensos progressistas e porque a extrema direita aprendeu a explorar as redes sociais.
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