29.jan.2022 às 15h00
O alvoroço causado pela série "Get Back", sobre os Beatles, me levou de volta a "Abbey Road", o LP que resultou das gravações mostradas no filme. É aquele com a famosa capa em que eles atravessam a rua —a Abbey Road, em Londres, esquina com a Alexandra Road, onde ficava o estúdio. Foi essa capa que me intrigou outro dia quando tirei o disco da estante para admirá-la, o que não fazia havia anos.
Em 1969, os Beatles ainda simbolizavam toda a rebeldia do mundo. Era como se tivessem inventado o Poder Jovem. Por causa deles, milhões de rapazes e moças em toda parte se deram conta de que eram diferentes de seus pais, pertenciam a outra geração. Os Beatles se diziam mais populares que Jesus e só isso já era um atrevimento. Não me pergunte por que, mas os próprios oclinhos de John Lennon pareciam uma contestação.
Estudando hoje a foto da capa, 52 anos depois de tirada, fiz pffft. Os Beatles estão atravessando civilizadamente na faixa de pedestres, como bons cidadãos que esperam o sinal abrir. Poderiam estar a caminho do chá das cinco. Três dos rapazes usam terno, como ainda faziam os artistas convencionais —o de John lembra um dandy de 1900, enquanto o de Ringo já ficaria bem num corretor da Bolsa. É verdade que Paul McCartney está descalço, mas o asfalto é o de Londres. Queria vê-lo encarar o de Ipanema no verão.
E o título "Abbey Road"? Era o endereço do estúdio da EMI e nos soava mágico, como se ali só se cozinhassem ousadas alquimias sonoras. Mas não era bem assim. Por Abbey Road passaram todos os artistas que gravaram para a EMI em Londres a partir dos anos 30, e isso incluiu o cantor francês Jean Sablon, o band-leader americano Glenn Miller e até a nossa Dalva de Oliveira. Abbey Road era só isso —um microfone.
Para completar, os Beatles não atravessaram no meio dos carros, como os Stones ou o The Doors talvez fizessem. O trânsito foi até interrompido para a foto.
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