Enquanto na semana passada o governador Cláudio Castro encenava um blockbuster —1.300 policiais, helicópteros e blindados em ação nas comunidades do Jacarezinho e Muzema— para inaugurar o programa Cidade Integrada, o repórter Matheus Rocha revelava como moradores de outras duas favelas, Salgueiro e Vidigal, têm de se virar, sozinhos, para receber uma simples carta.
Como os Correios só fazem entregas a partir de regras internas de segurança, as lideranças comunitárias organizaram um serviço alternativo, empregando os próprios moradores. O favelado se sente cidadão se pode receber e pagar uma conta em dia. Cláudio Castro sabe disso, e pouco se importa. O que ele quer é ganhar a reeleição, e, para conseguir o objetivo, nada melhor que prometer acabar com a violência. Um expediente mais velho que Cabral, não o ex-governador das UPPs, mas o navegador português.
Político inexperiente que recebeu o cargo de bandeja com o impeachment de Wilson Witzel —aquele que se elegeu dizendo que mandaria atirar na cabecinha—, Castro está em plena campanha. Outro dia exibiu seus dotes de cantor de sacristia para uma multidão de evangélicos, a maioria sem máscara, no Parque Olímpico. "É muito bom ser amigo de Deus", escreveu ele no Twitter. Poderia ter completado: "E da ômicron também".
Para compensar o estilo desarticulado, embora cantante, Castro abusa da máquina estatal. Seguindo os passos de Bolsonaro, a quem deve fidelidade canina, deu aumento a bombeiros e policiais militares —o benefício terá impacto anual de quase R$ 300 milhões nos cofres públicos. E só nesta primeira fase do Cidade Integrada estão previstos investimentos de R$ 500 milhões.
Falta combinar com o Tesouro Nacional, que reprovou o reingresso do Rio de Janeiro no Regime de Recuperação Fiscal. Entre outros, o motivo foi a promessa de aumentos, bonificações e benesses ao funcionalismo em ano eleitoral.
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