Outro dia, em fins de setembro, botei para tocar um LP de Frank Sinatra: “September of my Years”. Sinatra o gravou em 1965, para os 50 anos que estava completando. Era um disco diferente. Nada de swing com metais por Billy May, nem para dançar ou estalar os dedos, mas um disco da maturidade, lindamente reflexivo, com sóbrios violinos por Gordon Jenkins e canções que diziam coisas. Diziam o que se passava na cabeça de um homem que vivera muitas vidas e se via agora a um ou dois passos da eternidade --- no setembro de seus anos.
Esse era o conceito do repertório: a reflexão. Entre as 13 faixas, a clássica “Last Night When We Were Young”, de Harold Arlen e Yip Harburg, já muito gravada, mas à espera de que Sinatra lhe desse a versão definitiva; a novíssima “It Was a Very Good Year”, de Erwin Drake, que só Frank poderia cantar (e ninguém mais se atreveu); duas jóias que ele aprendera com Mabel Mercer, “Hello Young Lovers”, de Rodgers e Hammerstein, e a então recente “Once Upon a Time”, de Charles Strouse e Lee Adams; e a canção-título, “September of my Years”, de sua dupla para toda obra, Jimmy Van Heusen e Sammy Cahn.
Em 1965, mesmo para Sinatra, 50 anos pareciam o começo do terço final —a expectativa de vida nos EUA era 70 anos. Em todas as memórias e biografias que li de gente dessa faixa naquela época havia certa resignação. Era como se soubessem que já não havia muito mais tempo para a fuzarca.
Mas com Sinatra não foi assim. Ele viveu outros 32 anos, durante os quais ainda namorou muito e gravou 21 novos álbuns, dois deles com Tom Jobim. Sobreviveu ao casamento com Mia Farrow, fez shows em toda parte, inclusive no Maracanã, e nadou todos os dias no Pacífico até pouco antes de morrer. O que só aconteceu em 1998, nos seus 82 anos.
Há muito que, na folhinha, também já deixei setembro para trás. Mas quem hoje marca o tempo pela folhinha?
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