Sabe-se que Jair Bolsonaro dorme mal. No ano passado ele revelou que penava 89 episódios de apneia por hora: “Detenho o recorde brasileiro”. Sabe-se também que instalou uma escrivaninha no espaçoso guarda-roupas do Alvorada e passa o tempo ligado nas redes sociais de sua estima.
Às 5h45 da madrugada de quarta-feira (21) o presidente continuava diante de seu computador quando respondeu a uma mensagem com um grito de guerra: “O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. (...) Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a vacina”.
Estava aberta uma ridícula Guerra da Vacina. Bolsonaro sabia que o Ministério da Saúde havia oficializado a sua intenção de comprar 46 milhões de doses da Coronavac, que, nas suas palavras, transformou-se na “vacina chinesa do João Doria”. Desde que o vírus chegou ao Brasil, matando mais de 150 mil pessoas, Bolsonaro militou no exercício ilegal da medicina com sua cloroquina, fritou dois ministros da Saúde e, com seu surto matutino, começou a refogar o terceiro. Nos seus gritos de guerra anunciou que a “vacina não será comprada” porque “não abro mão de minha autoridade”. Parolagem. Horas depois, a Agência de Vigilância Sanitária (detentora da autoridade) informou que, como acontece com qualquer medicamento, autorizará a compra do fármaco que cumpra os requisitos científicos.
No rescaldo do surto, 11 palavras do general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz explicam a barulheira: “Falta de capacidade e organização interna” e “um nível de mediocridade extrema”.
Santos Cruz foi um dos três ases militares levados para o governo pelo capitão Bolsonaro. Os outros dois foram Hamilton Mourão e Augusto Heleno. Ele era o único a não ter se envolvido em episódios de indisciplina. Durou seis meses, dois dos quais em processo de fritura. Desde que saiu do governo Santos Cruz tem sido um crítico raro porém pontual. Se quisesse, teria sido candidato à Prefeitura do Rio, mas afastou-se do cálice.
Quem entende o mundo dos generais garante que Santos Cruz é ouvido.
AMY E KASSIO
O ministro Gilmar Mendes não gosta que se façam paralelos entre a Suprema Corte dos Estados Unidos e o Supremo Tribunal Federal.
O que aconteceria com a escolha da juíza Amy Coney Barrett, indicada para o tribunal, dissesse aos senadores americanos que seu marido trabalha lá, mas não sabe exatamente o que ele faz? E se o senador em cujo gabinete o cidadão está lotado também não souber?
O juiz federal Kassio Nunes Marques não soube dizer aos senadores o que sua mulher faz no gabinete do senador Elmano Férrer (PP-PI). Nem ele.
Kassio explicou aos doutores que o custo de vida em Brasília é muito caro. Treze milhões de desempregados encaram o custo de vida sem salário algum, mas faça-se justiça: ela é economista e não advoga nas cortes de Brasília. Jesse Barrett, o marido de Amy, é advogado criminalista e trabalha numa banca em Indiana.
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