domingo, 25 de outubro de 2020

Elio Gaspari Com quase 2 quilos, livro mostra história dos EUA com elegante domínio dos fatos, FSP

 Uma grande História dos EUA

Está nas livrarias “Estas Verdades - História da Formação dos Estados Unidos”, da professora Jill Lepore, de Harvard. Com 866 páginas e quase dois quilos, vai de Cristóvão Colombo a Donald Trump.

A historiadora e autora Jill Lepore na universidade de Harvard - Kayana Szymczak/The New York Times

Lepore gosta da vida, de História e dos Estados Unidos. Isso faz com que sua produção tenha um discreto bom humor, levando-a a tratar de tudo, inclusive cinema ou esporte. Os personagens de “Estas Verdades” têm carne e osso. Ela olha para os magnatas, os poderosos, os negros, os índios e as mulheres. Em 1760 o fazendeiro George Washington consertou sua boca usando dentes de escravizados. (Pelo menos 43 deles fugiram e um combateu ao lado dos ingleses. Da fazenda de Thomas Jefferson fugiram 13. O futuro presidente acasalava-se com a escrava Sally Hemmings, meia-irmã de sua falecida mulher. Na conta do erudito amante e senhor, ela só tinha um oitavo de sangue negro.)

No século 18, as colônias americanas tiveram duas revoluções, uma contra o domínio inglês, outra contra a escravatura. Esta levou quase um século para prevalecer. O que levou os colonos a se rebelar não foram apenas os impostos e a repressão, mas sobretudo a oferta da liberdade para os escravos. Em 1776 um grupo de “subversivos”, segundo o filósofo inglês Jeremy Bentham, criou um estado “absurdo e visionário”. Em 1801 a Suprema Corte se reunia na pensão em que viviam seus juízes.

Lepore diz coisas assim: “A Inglaterra manteve-se no Caribe e desistiu da América”. Ou ainda, tratando da Guerra Civil: “O Sul perdeu a guerra, mas ganhou a paz”.

A grande nação americana foi construída também pelos movimentos dos trabalhadores, dos imigrantes e dos negros. “Estas Verdades” vai mostrando essa história aos poucos, com um elegante domínio dos fatos: em 1776, quando foi proclamada a independência dos Estados Unidos, a temperatura na cidade de Filadélfia era de 11 graus, às vésperas da chegada de Donald Trump era de 15. Para Bill Gates, “Estas Verdades“ é o “relato mais honesto e mais bem escrito que já li sobre a história dos Estados Unidos”. Jill Lepore conta uma grande aventura e termina com certa ansiedade: “Uma nação não pode escolher seu passado, só pode escolher seu futuro”.

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RECORDAR É VIVER

Deu no New York Times: pelo menos 545 crianças cujas famílias tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos estão em abrigos, sem que seus pais tenham sido localizados. No debate de quinta-feira (22) Donald Trump fugiu da pergunta durante vários minutos.

Essas coisas acabam passando despercebidas enquanto a vida segue, naquilo que parece ser uma rotina maior que pequenos dramas.

No dia 12 de dezembro de 1938 chegou a Londres um navio que transportava 200 crianças judias alemãs, entregues pelos pais para que fossem criadas por famílias inglesas. (Até o fim da guerra foram mais de 10 mil. O filho de uma delas, Michael Moritz, tornou-se um milionário e doou US$ 15 milhões para programas de ajuda aos pobres da Universidade de Oxford.) Nas semanas em que as crianças judias desceram em Londres, Josef Stálin assinou 30 listas com os nomes de 5.000 pessoas que deviam ser executadas e foi ao cinema do Kremlin ver uma comédia.

No Rio, Vargas posou para o escultor Leão Veloso e foi ao cinema ver “Corpo e Alma de uma Raça”. Passou o tempo e a história de Nicholas Winton, o inglês que organizou o resgate está na rede, em vários vídeos. Quem quiser poderá cultivar suas emoções por alguns minutos. O título de um deles é “Nicholas Winton, o Herói Anônimo da Segunda Guerra”.

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