Celso Ming, O Estado de S.Paulo
23 de outubro de 2020 | 18h46
O ano de 2020 foi perdido ou quase isso. É o ano da pandemia, do encolhimento social, de rompimento do ano escolar e da queda abrupta da atividade econômica, que deve ficar em torno de 5%.
O impulso de qualquer um depois de recolher os cacos é o de começar de novo. E este fim de outubro é boa hora para examinar o que dá para esperar de 2021. O que seria uma recuperação em “V”, algo que já se tornou expectativa geral? Qual a probabilidade de que aconteça?
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O Banco Central produz uma pesquisa semanal entre mais de cem consultores, analistas e departamentos de avaliação de conjuntura de grandes empresas, com o objetivo de sentir por onde vão as expectativas gerais no Brasil. Trata-se do Boletim Focus, publicado a cada segunda-feira no site do Banco Central. Pelo que está lá, “o mercado” conta com um crescimento econômico (avanço do PIB) de 3,1% em 2021. Ainda ficaria longe de recuperar o tombo de 2020, mas, nas circunstâncias, seria boa redução do atraso.
Todos estamos calejados com tantas expectativas boas que logo se frustram. Nos últimos quatro anos foi assim. O que parecia promissor acabou decepcionante.
Neste 2020, a frustração veio em forma de furacão, com o ataque repentino da covid-19. Esta é a oportunidade para perguntar quais seriam os fatores que ainda poderiam produzir frustração na expectativa de que a renda do brasileiro cresça esses 3,1% ao longo de 2021.
Primeiramente, o fator positivo: a vacina. Apesar do tratamento politiqueiro que passou a ser dado pelo presidente Bolsonaro, ela poderá ficar disponível ainda neste fim de ano, não importando sua procedência. Mesmo que demore a ser distribuída, as pessoas não terão mais de ficar engaioladas tanto quanto ficaram em 2020 e a economia seguirá seu curso.
Mas sobre isso ainda paira uma nuvem. Uma segunda onda de covid-19 começa a se espraiar pela Europa e pelos Estados Unidos. Ainda assim, a aplicação em massa da vacina poderá fazer a diferença.
Agora, os fatores de incerteza. O primeiro deles é o impacto do fim do auxílio emergencial. Ao longo de 2020 foram nada menos que R$ 300 bilhões que chegaram a cerca de 70 milhões de brasileiros de baixa renda. E foi o que evitou o pior. Mas essa mesada vai parar por aí. Ainda que o Congresso aprove a criação da tal Renda Cidadã, por limitações orçamentárias, esse não será um programa de tanta abrangência. Parte do consumo perderá sustentação, mesmo com a recuperação da atividade.
Outro fator de incerteza é a forte deterioração das contas públicas. A dívida bruta se aproxima perigosamente de 100% do PIB, as pressões por mais despesas são enormes e, mesmo com uma recuperação das receitas tributárias, é improvável que o País consiga reequilibrar seu orçamento.
Essa é a maior razão pela qual as reformas, principalmente a administrativa e a tributária, ficaram tão necessárias. E, no entanto, até agora não se viu nem no governo nem no Congresso real disposição política para atacar os dois gargalos. Se ao longo de 2021 não houver avanço significativo nessas pautas, o nível de incerteza e a frustração econômica subirão. Nesse caso, o impacto negativo sobre o emprego poderá ser desastroso.
CONFIRA
» O salto das criptomoedas
Os gráficos mostram a enorme valorização em dólares produzida pelas duas maiores criptomoedas, o bitcoin e o ethereum. Diante do oceano dos outros ativos financeiros (títulos de dívida, ações, etc.), elas não passam de pequenas poças de água. Mas, dada a confiabilidade adquirida, passaram a ter grande procura por investidores e também por gente da corrupção e da lavagem de dinheiro. Daí a enorme valorização. Apenas neste ano, até sexta-feira, o bitcoin valorizou-se 79% e o ethereum, 215%.
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