Vendas de imóveis crescem, aumentam os lançamentos, obras são iniciadas e sobe o índice de confiança dos empresários da área. Esses dados, especialmente animadores neste momento, contrastam com as incertezas sobre a economia em 2021. Se continuar avançando, o setor terá importante papel na sustentação da retomada. Para se abastecer, a construção movimenta muitas outras indústrias. A atividade requer produtos de aço, alumínio, cobre, plásticos, vidros, madeira e cerâmica, além de tratores, guindastes e outros tipos de máquinas e equipamentos. Também é uma importante fonte de empregos.
Juros baixos e novas linhas de crédito vêm favorecendo os negócios imobiliários. Na capital de São Paulo foram vendidas 49.715 unidades nos 12 meses até setembro, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-SP). O avanço foi de 12,7% em relação a igual período de um ano antes. As vendas de setembro (5.147 unidades) foram 18,9% menores que as de agosto, mas 19,2% maiores que as de igual mês de 2019. Os lançamentos em 12 meses chegaram a 56.646 unidades, com crescimento anual de 1,3%, informou o Estado.
Com a melhora dos negócios, o Índice de Confiança da Construção subiu 3,7 pontos em outubro e atingiu 95,2, de acordo com pesquisa mensal da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi o nível mais alto desde março de 2014, quando o indicador atingiu 96,3 pontos. Mesmo com a subida, no entanto, o índice ficou pouco abaixo da fronteira entre os territórios negativo e positivo. A linha divisória é o nível 100.
Apesar da cautela, o ganho de confiança captado na pesquisa é notável. “O ambiente de negócios para as empresas do setor já é mais favorável que o registrado antes do início do isolamento social determinado pela pandemia”, comentou a responsável pela pesquisa, Ana Maria Castelo. “Enquanto o mercado imobiliário está sendo impulsionado por taxas de juros historicamente baixas, a infraestrutura se beneficia de investimentos das prefeituras e das recentes mudanças regulatórias”, acrescentou.
Com a reativação, o uso da capacidade instalada aumentou. Em abril havia chegado a 57,6%. A partir de maio avançou e atingiu em outubro 74,5%, nível superior ao de qualquer mês do ano passado. Mas a recuperação do setor pouco afetou o emprego nos primeiros meses de reação. É, no entanto, razoável esperar mais contratações, se o setor continuar operando com dinamismo.
Executivos da construção apontam problemas de abastecimento. Insumos têm escasseado e custos tendem a subir, segundo fontes citadas na pesquisa da FGV e na reportagem do Estado. Se empresários derem espaço à elevação de custos e preços, poderão, no entanto, frear a recuperação do setor, com perdas para as atividades imobiliárias e para outros segmentos da economia. A tolerância ao encarecimento de insumos e dos produtos finais poderá ser um grave erro estratégico.
Durante algum tempo, os negócios com imóveis poderão sustentar-se com uma boa demanda final, especialmente se os juros e demais condições de financiamento continuarem favoráveis. Mas haverá limites para esse jogo.
Com o tempo, adverte a pesquisadora Ana Maria Castelo, da FGV, as condições financeiras serão insuficientes para garantir o avanço do setor imobiliário. Os negócios com imóveis estarão associados, no médio e no longo prazos, a uma recuperação econômica mais ampla. As vendas dependerão, depois da fase inicial, de mais pessoas ocupadas e capazes de pagar as parcelas. O recado vale para o Ministério da Economia. O setor imobiliário pode fortalecer o arranque, mas o percurso duradouro dependerá de um ambiente mais próspero.
Não há sinal, ainda, de um roteiro para atingir essa prosperidade. Pior: o Executivo nem sequer explicou, até agora, como combinará a sustentação da retomada econômica e a arrumação das contas desarranjadas na pandemia. Esse desarranjo permitiu evitar uma crise maior, mas o rombo nas finanças públicas aumentou, assim como a dívida. Será preciso dizer como será o conserto – e se haverá apoio do presidente em campanha pela reeleição.
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