domingo, 10 de maio de 2020

Finais, Luis Fernando Verissimo, O Estado de S.Paulo

Não sei se serve de consolo, mas a humanidade já esteve mais de uma vez à beira de um apocalipse que acabou não vindo, variando apenas o fim do mundo imaginado por cada geração. Lembro que, quando a ameaça era uma guerra atômica de extermínio mútuo entre União Soviética e Estados Unidos, com o resto da humanidade sofrendo as sequelas radioativas daquela demência alheia, fiz um poema, ou coisa parecida, com a mesma intenção que repito agora, a de amainar o que parecia ser o terror final. Vamos lá.
*
“Quando a Terra acabar
Numa grande explosão nuclear
E tudo virar pedaço
Seja pedra, pau ou aço
E continentes e mares
Forem pelos ares
E a Grande Muralha da China
For reduzida a uma esquina
E os Alpes, a uma autoestrada
Levando do nada ao nada
Sei que então, só então
Voando em formação
Com moedas e dedais
E restos de catedrais 
Aparecerá, rubicundo
Meu chaveiro do 
Internacional 
campeão do mundo.” 
*
Qual é o seu verso favorito do Aldir Blanc? Escolha difícil, ele nunca foi menos do que ótimo e muitas vezes genial. Minha escolha: o final de Dois pra Lá, Dois pra Cá. Alguma vez um homem já esteve tão perdido de amor por uma mulher, incluindo o seu perfume Gardênia, do que o homem que a tem nos braços, dançando, na letra do Aldir?
“A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quantas noites rondaram
As minhas noites vazias...
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar.” 

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