O governo de São Paulo está na fase final da elaboração de um plano para a construção de grandes usinas de incineração de lixo para colocar fim à falta de locais para aterros nas regiões metropolitanas e no litoral norte do Estado. Os estudos são feitos pela Emae -empresa estadual para a geração de energia - e começaram em 2004. A Emae negocia as usinas com as prefeituras. A ideia é implantar a primeira usina em dois anos.
O plano da Emae é utilizar o lixo queimado para a geração de vapor e energia elétrica, subprodutos que podem bancar quase todo custo da operação, diz o diretor de geração da Emae, Antonio Bolognesi. Polêmica, a incineração de resíduos urbanos foi combatida por décadas por ambientalistas devido à emissão de poluentes altamente nocivos à saúde.
O secretário do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge, é um dos críticos da incineração. "Essas usinas de incineração produzem dioxinas e furanos, substâncias que provocam câncer nas pessoas. Eles (os fabricantes das usinas) ainda precisam provar que o filtro que colocam é seguro", afirma. Os resíduos resultantes da queima também são considerados um problema ambiental, mas, segundo a Emae, o processo a ser adotado em São Paulo transforma esses restos em material inerte e próprio para a fabricação de blocos para serem usados na construção civil.
O assunto é tão recente no Estado que a Secretaria do Meio Ambiente ainda está elaborando uma resolução com parâmetros de emissão de gases, que são necessários para o licenciamento das usinas. "Pensamos o projeto não só como usina de geração de energia, mas o objetivo é colaborar para resolver o problema do lixo no Estado", diz Bolognesi.
Há hoje um processo se esgotamento dos aterros sanitários licenciados no Estado. No litoral norte, as prefeituras chegam a transportar o lixo por até 120 km para aterros em Santa Isabel (Grande SP) e Tremembé (Vale do Paraíba). Em São Paulo, o aterro Bandeirantes está esgotado e o São João recebe só 10% do lixo-a maior parte dos resíduos vai para aterros em Caieiras e Guarulhos, apesar de lei municipal determinar que o depósito seja feito na própria cidade.
A Folha conversou com técnicos da Cetesb que defendem a implantação do método de incineração. O investimento, porém, é alto. Para queimar mil toneladas por dia - produção média de 1 milhão de pessoas no Brasil- uma usina custaria cerca de R$ 250 milhões. São Paulo produz cerca de 15 mil toneladas por dia, incluindo entulho de construção civil, lixo industrial e comercial e varrição de ruas. A Emae já orçou uma usina com capacidade para 600 toneladas/dia por R$ 200 milhões.
Concorrência - As usinas de lixo já têm hoje, de acordo com a Emae, capacidade para concorrer em custos com a energia eólica, considerada a forma mais limpa. André Vilhena, engenheiro químico e diretor-executivo do Cempre (Compromisso Empresarial para a Reciclagem), disse que a incineração tem baixo impacto poluente. "A tecnologia de incineração já é comprovadamente adequada. É muito usada na Europa e no Japão, por exemplo. Eles não iriam adotar a tecnologia se causasse câncer", afirmou.
O governo pretende, primeiro, buscar agregar essas usinas aos polos petroquímicos -como os de Mauá, Cubatão e Paulínia-, que têm forte demanda por energia elétrica e vapor. Isso porque essas regiões, além da concentração industrial, têm capacidade para produzir mais de 150 toneladas diárias, volume considerado mínimo para um projeto desse porte ser considerado economicamente viável.
Bolognesi diz que as conversão estão avançadas com a Prefeitura de São Paulo.
Outra empresa do Estado, a Sabesp, que neste ano começou a atuar em serviços de lixo para prefeituras, se interessa pelo projeto, segundo seu diretor de Sistemas Regionais, Humberto Semeghini.
A principal referência do governo do Estado no projeto de incineração de lixo é a região da Baviera, na Alemanha. Lá, segundo um técnico da Cetesb, 60% do lixo é reciclado e 40%, enviado para incineração, justamente os materiais com maior poder de combustão. (Fonte: Folha de S. Paulo)