terça-feira, 1 de julho de 2025

Novas regras de EAD podem levar a fechamento de metade dos cursos da Univesp, diz governo Tarcísio, FSP

 

São Paulo

O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) avalia fechar metade dos cursos oferecidos na Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) por não conseguir atender as novas regras definidas pelo Ministério da Educação para o ensino a distância.

A Univesp tem nove cursos de graduação a distância, sendo que cinco não poderão ser ofertados mais nessa modalidade. Eles precisam ser adaptados para o modelo semipresencial —no qual ao menos 30% da carga horária deverá ser ministrada de forma presencial.

Secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Vahan Agopyan diz que a instituição não consegue ampliar o número de polos necessários para ofertar esse percentual de atividades presenciais. Por isso, diz que podem ser fechados ou reduzidos os cursos de pedagogia, matemática, letras e as engenharias de produção e computação.

A imagem mostra uma pessoa digitando em um laptop que exibe a interface do ChatGPT. O fundo apresenta outras pessoas e laptops, com um ambiente de aprendizado ou trabalho. A tela do laptop é escura e contém seções sobre 'Experiências', 'Capacidades' e 'Limitações'.
Estudante usa computador durante aula em colégio de SP; decreto do governo federal endurece regras para graduações a distância - Jardiel Carvalho - 15.ago.23 /Folhapress

Juntos, eles têm mais de 51,4 mil alunos —o que representa 62% de todos os graduandos da Univesp. A instituição tem hoje 440 polos em 382 cidades de São Paulo. Em sua maioria, estão instalados em escolas públicas e são usados apenas para provas.

"Temos polos espalhados por todo estado, mas não conseguimos oferecer atividades presenciais em todos eles. Nem os alunos vão ter disponibilidade de tempo e recurso para assistir às aulas presencialmente. Somos uma universidade pública, não podemos fingir que estamos cumprindo a lei", diz Agopyan.

Segundo ele, as outras três universidades estaduais paulistas (USPUnicamp e Unesp) ofereceram suas instalações para que a Univesp pudesse ofertar as atividades presenciais. "Juntas, elas estão presentes em 30 municípios de São Paulo. A ajuda é muito bem-vinda, mas ainda assim não resolve a situação. Não conseguimos ampliar além disso."

PUBLICIDADE

O orçamento da Univesp é de R$ 160 milhões. Questionado pela Folha, Agopyan admitiu que não foi feito um estudo do valor necessário para se adequar às novas regras e continuar atendendo o mesmo número de alunos nesses cursos.

"Estamos estudando, mas não há a menor condição de atender ao que o MEC requer. Além disso, não é só uma questão de custo, mas também de logística. No afã de melhorar a qualidade do ensino, o que é muito meritório, o ministério pode ter adotado uma medida que vai tornar o acesso ao ensino superior mais elitista", diz Agopyan, que é também ex-reitor da USP.

Ele diz ainda ter esperança de uma negociação com o MEC para que os cursos possam continuar sendo ofertados a distância, quando tiverem boa avaliação no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes).

"Todos os nossos cursos têm, no mínimo, nota 4 no Enade [a escala vai de 1 a 5]. Aula a distância não é sinônimo de má qualidade, tanto que há cursos presenciais com notas muito ruins", afirma.

Em nota, o MEC disse que, pelo decreto e pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases Educacionais), por ser uma instituição estadual, a Univesp é regulada pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Ou seja, não precisa cumprir as novas regras criadas para a EAD.

O ministério destaca, no entanto, que todas as universidades do país, sejam elas estaduais, federais ou particulares, precisam respeitar as Diretrizes Curriculares Nacionais de cada curso, que são editadas pelo CNE (Conselho Nacional de Educação).

No caso das licenciaturas, o conselho já estabeleceu que ao menos 50% da carga horária precisa ser presencial. Ou seja, todas as instituições de ensino do país precisam respeitar essa regra.

Para os cursos de engenharia, como ainda não há mudanças nas diretrizes curriculares, haveria autonomia para o conselho estadual paulista autorizar a continuidade das regras atuais para os cursos da Univesp. Nesse caso, no entanto, o diploma não seria reconhecido nacionalmente.

O MEC decidiu endurecer as normas para os cursos a distância por uma preocupação com a qualidade do ensino ofertado nessa modalidade, que hoje é responsável por quase metade das matrículas no ensino superior.

Dos 9,9 milhões de alunos que cursam alguma graduação no Brasil, 49% estão em cursos de EAD, segundo dados de 2023 (os mais recentes divulgados).

Pedagogia, por exemplo, é a carreira com mais alunos no país, somando 852 mil matrículas. Desses, 77% estão no EAD.

Haverá dois anos de prazo para que as instituições de ensino superior se adequem às novas regras, e os estudantes já matriculados poderão terminar os cursos da maneira que começaram. A maioria absoluta da oferta de EAD está em instituições privadas.


Principais mudanças dos cursos de EAD

Formatos de graduação:

  • Presencial: Deve ter no máximo 30% da carga horária de atividades online. Antes, o limite era 40%
  • Semipresencial: 30% da carga horária de atividades presenciais e 20% em atividades presenciais ou síncronas (aulas transmitidas ao vivo) mediadas.
  • EAD: Regra exige que 10% da carga horária total seja com atividades presenciais e 10% em atividades presenciais ou síncronas mediadas.

Cursos que devem ser obrigatoriamente presenciais:

  • Medicina
  • Direito
  • Odontologia
  • Psicologia
  • Enfermagem

Cursos que devem ser obrigatoriamente presenciais ou semipresenciais:

  • Licenciaturas
  • Demais cursos da área de saúde

Como devem ser a estrutura mínima dos polos EAD:

  • Recepção
  • Sala de coordenação.
  • Salas ou ambientes para estudos individuais e coletivos, compatíveis com as atividades dos cursos ofertados e com o número de estudantes que deverão utilizá-las.
  • Laboratórios e outros espaços formativos compatíveis com as atividades dos cursos ofertados.
  • Equipamentos e dispositivos de acesso à internet e conexão de internet estável e de alta velocidade, compatível com o número de usuários. O polo deverá possuir espaços e infraestrutura física e tecnológica adequados às especificidades dos cursos ofertado.

Estudo encontra novas respostas de como cérebro desvenda problemas complexos, FSP

 

Paris

Se você quiser tomar um café e tem diferentes opções de cafeterias, qual delas escolheria? Por quê? E como você decide a ordem para cozinhar uma receita? Esses só são dois exemplos de problemas complexos, com diferentes variáveis e decisões que precisam ser tomadas, que inquietam cientistas. A dúvida é como o cérebro humano funciona para resolver esse tipo de problema.

Essa foi a questão que motivou cientistas que assinam um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Human Behaviour. Responder a essa pergunta tem implicações não somente para entender melhor como os humanos pensam, mas também pode colaborar no desenvolvimento de processos mais eficazes de aprendizado de máquina.

Mehrdad Jazayeri, professor do Departamento de Cérebro e Ciências Cognitivas do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em livre tradução) e um dos autores do novo artigo, explica que outros estudos já trouxeram informações importantes sobre a capacidade de humanos de resolver problemas complexos. O problema é entender, seguindo metodologias científicas rigorosas, por que alguém utiliza uma ou outra estratégia na resolução de tais questões.

A imagem ilustra uma cena de trabalho onde uma mulher está sentada em frente a um laptop, concentrada em sua tarefa. Ao lado dela, um robô humanoide está em pé, observando. O fundo apresenta elementos como uma lâmpada, um livro aberto, uma chave, uma engrenagem, uma planta em vaso, e ícones que representam ciência e tecnologia, como um foguete e planetas.
Cientistas tentam explicar como cérebro toma decisões - mast3r/Adobe Stock

O estudo de Jazayeri e de seus colegas buscou solucionar esse gargalo no conhecimento científico. Os participantes da pesquisa precisaram solucionar o problema de qual seria a trajetória de uma bola em um labirinto sabendo somente parte do percurso do objeto.

"Essa tarefa é interessante porque basicamente nenhum humano que testamos consegue resolvê-lo de forma otimizada. Eles simplesmente não conseguem solucionar. É um problema difícil", afirma Jazayeri.

Para decifrar problemas como esse, duas formas de raciocínio são comuns. O primeiro, chamado hierárquico, envolve organizar a questão em grandes estruturas e decidir a partir delas. Nesse caso, não é necessário analisar todos os enigmas de um problema, mas sim solucioná-lo a partir desse sistema generalizado.

A segunda forma de raciocínio é a contrafactual. Ela envolve reanalisar decisões tomadas e pensar se a escolha tivesse sido outra, o que teria ocorrido de diferente.

O estudo encontrou três pontos que explicam por que os participantes optaram por esses tipos de raciocínio em diferentes momentos. A primeira conclusão foi que o raciocínio hierárquico é utilizado quando não é possível analisar todas as variáveis ao mesmo tempo para solucionar um problema. Esse era o caso do teste desenvolvido pelo estudo.

A segunda conclusão é que o raciocínio contrafactual é adotado especialmente quando alguém percebe que uma decisão tomada não é adequada. Por exemplo, quando um participante identificava que tinha feito uma escolha incorreta, ele poderia, por meio desse tipo de operação lógica, regredir no teste e tomar outra decisão. Nesse caso, o raciocínio contrafactual compensa as falhas que podem ser tomadas pelo hierárquico.

Por último, a terceira conclusão é que uma memória acurada é importante para o raciocínio contractual. Como essa operação lógica envolve analisar decisões já tomadas para possivelmente mudá-las, ter uma lembrança de quais outras escolhas podem ser melhores é importante. "Indivíduos com memória ruim não usam métodos contrafactuais. Eles os evitam", afirma Jazayeri.

Além do estudo com participantes, os pesquisadores fizeram análises parecidas com modelos artificiais. A ideia era observar com máquinas resolveriam o problema na bola do labirinto em diferentes situações. Quando elas contavam com as mesmas limitações humanas, como a incapacidade de analisar todas as possibilidades em paralelo, os modelos artificiais seguiram os mesmos princípios do cérebro humano.

Agora, o objetivo de Jazayeri e de seus colegas é analisar como o sistema nervoso humano age em meio a tantas operações para solucionar tais problemas complexos. Essa análise ajudaria a desvendar ainda mais como humanos solucionam situações com tantas variáveis.