segunda-feira, 10 de março de 2025

Se dependesse de Francisco, próximo papa escolheria o nome de João 24, Elio Gaspari, FSP

 Com o papa Francisco internado aos 88 anos, começaram as inevitáveis especulações em torno do seu sucessor.

Neste século, os cardeais escolheram dois papas, Bento 16 e Francisco. O primeiro, Joseph Ratzinger, estava nas listas dos favoritos. O segundo, Jorge Bergoglio, surpreendeu por ser argentino.

Oito anos antes, no primeiro escrutínio, Ratzinger teve 47 votos, seguido por Bergoglio, com 10. No dia seguinte, a disputa continuou entre os dois. Na segunda votação, o cardeal alemão conseguiu 65 a 35. Na terceira, 70 a 40. Na quarta, Ratzinger teve 84 votos, batendo a marca exigida dos 75, e tornou-se Bento 16.

A imagem mostra um líder religioso sentado em uma cadeira, vestindo uma túnica verde e um chapéu papal. Ele está em frente a uma mesa com um altar, onde há uma cruz com a figura de Jesus crucificado. Ao fundo, há outros clérigos e elementos decorativos como velas. A cena parece ser parte de uma cerimônia religiosa ao ar livre.
O papa Francisco na Praça São Pedro, no Vaticano - Alberto Pizzoli/9.fev.2025/AFP

Entre a terceira e a quarta votação, o cardeal-arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, procurou Ratzinger e ofereceu-lhe seus votos (pelo menos nove) em troca de uma promessa: eleito papa, ele reorganizaria a máquina do Vaticano. Se não conseguisse, renunciaria. Bento 16 renunciou em 2013.

Martini temia que, num impasse entre Ratzinger e Bergoglio, a Cúria produzisse uma tertius italiano.

Essas revelações vieram de um diário mantido por um cardeal e da entrevista de um padre amigo e confessor de Martini, dada depois de sua morte, ocorrida em 2015.

Não se sabe quando nem quem será eleito no próximo conclave, mas, se dependesse de Francisco, ele escolheria o nome de João 24, indicando que continuaria o pontificado renovador de João 23 (1958-1963).

Bergoglio chegou a pensar nesse nome para seu pontificado, mas o cardeal brasileiro Cláudio Hummes o teria convencido a ser Francisco.

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Elio Gaspari - Bolsonaro não pagará cadeia, FSP

  

Esperança

Alguns militares presos por conta do golpismo de 2022/23 acreditavam que seriam libertados depois da denúncia da Procuradoria-Geral. Ela veio, e nada.

Bolsonaro não pagará cadeia

Se for condenado, Jair Bolsonaro não pagará um só dia de cadeia. Irá para uma embaixada e pedirá asilo diplomático.

Em fevereiro de 2024, ele já dormiu uma noite na embaixada da Hungria, mas não pediu asilo. Se pedisse, corria o risco de ficar lá por algum tempo, até que o governo brasileiro lhe concedesse um generoso salvo-conduto, pois a Hungria (como os Estados Unidos) não é signatária da Convenção de Havana de 1928, que regula o asilo diplomático.

A imagem mostra um homem com cabelo grisalho e uma expressão pensativa, iluminado por uma luz suave que destaca seu rosto. Ele está usando uma camisa de cor verde e parece estar em um ambiente com pouca luz ao fundo.
O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa ao desembarcar no aeroporto de Brasília, após passar o carnaval em Angra dos Reis (RJ) - Pedro Ladeira - 5.mar.25/Folhapress

Se resolver ir para a embaixada da Argentina, a concessão do asilo é certa e o salvo-conduto não deverá demorar.

O asilo diplomático é uma especiaria latino-americana e pode ser concedido ao cidadão que entra numa embaixada de país signatário da convenção e se declara perseguido político.

Pressão sobre Tarcísio

Pelo andar da carruagem, o PP do senador Ciro Nogueira se afastará de Lula e terá candidato a presidente em 2026.

Nogueira não esconde sua preferência pelo governador de São PauloTarcísio de Freitas.

Tarcísio insiste em dizer que pretende disputar a reeleição. Aliados como Nogueira acreditam, mas estão certos de que ele não resistiria num cenário em que teria uma forte base de apoio, bafejada por pesquisas a seu favor e adversas para o governo.

Elio Gaspari - Delfim Netto faz falta a Lula, FSP

 

O professor Antonio Delfim Netto faz falta. Ele era um eventual conselheiro de Lula e morreu em agosto.

Diante da carestia dos alimentos, Delfim poderia mostrar a Lula como é possível fabricar quedas artificiais ou momentâneas de preços. Poderia, sobretudo, mostrar que algumas medidas servem para nada.

Confrontados com a carestia, presidentes e hierarcas passam por duas fases. Na primeira, culpam o povo que compra gêneros caros (Lula já queimou essa etapa). Na segunda, acreditam em medidas pontuais (Lula entrou nesse estágio).

Lula, então em seu primeiro mandato como presidente, recebe apoio do ex-deputado federal Delfim Netto durante plenária em favor de sua candidatura à reeleição, em 2006, no Clube de Regatas Tietê, em São Paulo - Tuca Vieira - 10.out.2006/Folhapress

Delfim alertaria o presidente contra os colaboradores que oferecem soluções mágicas. Nesse ramo, ele superou o grande Houdini, mas não acreditava nos próprios truques. Ele conhecia as limitações do poder de Brasília e por isso tornou-se um valioso conselheiro longe dela.

Na quinta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu hierarcas para anunciar medidas de combate à carestia. Repetiu-se o cenário do anúncio do pacote de contenção de gastos, anunciado por Haddad. Estava todo mundo lá, menos Lula. Como disse um sábio à época, se fosse para dar certo, Lula faria o anúncio.

Lula não dispõe mais dos conselhos de Delfim e está diante de um processo de fritura de Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda. Trata-se de uma fritura especial. Há quem traga o óleo e também a frigideira, mas falta o sujeito que controla o fogão e ele é o presidente da República.

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Lula não fritou Antonio Palocci no seu primeiro mandato, apesar dos sinais emitidos por Dilma Rousseff, chefe de sua Casa Civil (hoje, quem está na cadeira é Rui Costa, com sua malquerença em relação a Haddad).

Como ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, Delfim mandou na economia até 1985. Deixou o governo com a inflação em 224% enquanto cantava-se "o povo está a fim da cabeça do Delfim" (ele tinha na sua sala um Delfim sem cabeça emoldurado).

Depois que ele foi embora, fritaram-se nove ministros da Fazenda, até que Itamar Franco colocou Fernando Henrique Cardoso na cadeira. Ambos sabiam o que fazer, a inflação foi derrubada e o Brasil voltou a ter uma moeda, o real. Fritar ministros era fácil. Difícil era decidir o que fazer.

Graças ao Banco Central, a inflação está contida, mas a carestia está solta e o governo, sem saber o que fazer, mostra que sabe organizar eventos. No de quinta-feira, o som das perguntas falhava.

Gleisi no Planalto

A ida de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais pode ser vista como uma indicação de que Lula infletiu seu governo para a esquerda. Afinal, ela tem sido uma crítica de algumas medidas de Haddad.

Pode, mas pode também indicar que Lula não sabe para onde ir, até porque nessa segunda metade do mandato ele pressente a erosão de sua base parlamentar.

A misteriosa submissão de Zelenski

Na terça-feira, depois da reunião teatral com Donald Trump na Casa Branca, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski disse que "está pronto para trabalhar sob sua forte liderança".

À primeira vista, foi um caso de inédita submissão. Pode ter sido, mas há um padrão nas reações de chefes de Estado às bravatas diplomáticas e tarifárias do presidente americano.

Europeus, canadenses e mexicanos estão reagindo de forma mais ou menos coordenada, e Zelenski aconselhou-se com o primeiro-ministro inglês e o presidente da França.

Pelo andar da carruagem, as vítimas das bravatas acreditam que Trump acabará amarrado nas próprias cordas.

A China anunciou-se pronta para "qualquer tipo de guerra": "Bullying não funciona conosco".

Trump corre o risco de virar valentão do colégio.

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