quarta-feira, 2 de outubro de 2024

China injetou mais de US$ 100 bilhões no exterior em tecnologias de energia limpa, diz pesquisa, FSP

 David Stanway

CIDADE DE SINGAPURA | REUTERS

Os investimentos de empresas chinesas no exterior em projetos que envolvem tecnologias de energia limpa ultrapassaram US$ 100 bilhões (R$ 541,87 bilhões) desde o início de 2023, segundo o grupo de pesquisa australiano CEF (Climate Energy Finance) divulgou nesta quarta-feira (2).

China é o maior produtor e exportador mundial de produtos como painéis solares, baterias de lítio e veículos elétricos, com suas capacidades de investimento, inovação e fabricação liderando o mundo por uma "margem surpreendente", disse a entidade em um estudo.

Imagem aérea de uma área industrial com várias edificações e estradas. A paisagem é predominantemente verde, com campos e algumas áreas pavimentadas. No centro, há um grande círculo viário que conecta diferentes estradas. O céu está nublado, e ao fundo, é possível ver montanhas e uma vasta extensão de terreno.
Área onde será instalada fábrica da montadora chinesa BYD no polo petroquímico de Camaçari, na Bahia. - Divulgação/BYD

A empresa é responsável por 32,5% das exportações globais de veículos elétricos, 24,1% das baterias de lítio e 78,1% dos painéis solares, mas seu domínio gerou preocupações de que esteja usando seus gigantescos excedentes de capacidade produtiva para inundar os mercados internacionais, reduzir preços e prejudicar concorrentes.

Os Estados Unidos e o Canadá já impuseram tarifas de 100% sobre os veículos elétricos fabricados na China, e a União Europeia deve votar a questão nesta semana. As importações norte-americanas de painéis solares e baterias de lítio chinesas também estão sujeitas a tarifas de 50% e 25%, respectivamente.

"Os investimentos das empresas privadas chinesas são em grande parte motivados pela necessidade de contornar as barreiras comerciais", comentou Xuyang Dong, analista da CEF e coautora do levantamento.

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Dong disse que a BYD, a principal fabricante de veículos elétricos da China, está construindo uma fábrica de US$ 1 bilhão (R$ 5,42 bilhões) na Turquia para evitar uma tarifa proposta pela União Europeia de quase 40%, e a fabricante de baterias CATL está planejando fábricas na AlemanhaHungria e outros lugares.

De acordo com um estudo separado publicado pelo Grantham Institute no Reino Unido este ano, dois terços da capacidade de tecnologia limpa da China seriam "excedentes em relação às necessidades domésticas" e estariam buscando mercados de exportação até 2030, com a capacidade total de produção de energia solar chegando a 860 gigawatts.

A China tem se mostrado insatisfeita com os aumentos das sobretaxas de importação de outros países, dizendo que as restrições aos produtos chineses prejudicam esforços de combate às mudanças climáticas.

O enviado sênior chinês para o clima, Liu Zhenmin, alertou em março que a "dissociação" da fabricação chinesa pode aumentar em 20% a conta da transição energética global.


Líder do PCC fez curso no RJ para implantar milícia em Guarujá, aponta investigação, FSP

 Francisco Lima Neto

SÃO PAULO

Um integrante do alto escalão da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) esteve no Rio de Janeiro em 2022 para fazer uma espécie de curso de como implantar uma milícia em bairros de Guarujá, na Baixada Santista, de acordo com investigações da Polícia Civil e do Ministério Público.

A polícia identificou que esse líder comandava o tráfico de drogas e de armas em uma comunidade na região do bairro Vicente de Carvalho.

De acordo com a investigação, a quadrilha ordenava o assassinato de policiais da ativa e da reserva na cidade do litoral paulista e tentava instalar uma milícia para oferecer serviços de segurança aos comerciantes da região, mediante pagamentos mensais.

A imagem mostra um estacionamento à noite, onde vários veículos policiais estão alinhados. Há um grupo de pessoas, possivelmente policiais, reunidos em uma área central. Os carros estão estacionados em fileiras, e a iluminação do local é fornecida por postes
Agentes de forças de segurança reunidos para operação em Guarujá, no litoral paulista - Divulgação/SSP

Com ameaças e ataques a lojas e outros tipos de comércio, os criminosos forçavam os empresários a desistirem de contratar seguranças particulares —policiais aposentados, na maioria das vezes– para aceitar o serviço dos criminosos.

Com isso, a quadrilha passou a atuar com vigilantes contratados para conseguir o monopólio da segurança no comércio de Guarujá, ainda segundo a investigação.

O PCC organizou roubos e ataques contra estabelecimentos para ameaçar os comerciantes. Além disso, deflagrou uma onda de homicídios contra policiais e agentes de segurança que já trabalhavam nesses locais como vigias particulares.

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Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), as informações fazem parte de uma investigação que identificou o envolvimento da facção em pelo menos quatro mortes de policiais em Guarujá em 2023. Em todos os casos há indícios da atuação da milícia nos crimes.

Há suspeitas de que um acordo entre políticos e esse líder do PCC tenha sido firmado para conter a violência na região à época. "O fato corroborou o envolvimento do bando em licitações fraudulentas na Câmara de Vereadores e na prefeitura do município", afirma a SSP.

O avanço das investigações mostrou que esse criminoso, proprietário de uma empresa de limpeza, venceu uma licitação da Prefeitura de Guarujá —em que há indícios de fraude— para prestação de serviços em órgãos públicos. O contrato rendeu R$ 26,9 milhões ao PCC em dois anos, diz a SSP.

O líder da facção acabou morto num ataque a tiros no município em março deste ano.

OPERAÇÃO HEREDITAS

Na terça (1º), o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público, cumpriu 26 mandados de busca e apreensão em investigação contra supostas fraudes em licitações na Câmara Municipal e na Prefeitura de Guarujá.

A operação, batizada de Hereditas, detectou indícios de fraudes em licitações e possível favorecimento de agentes públicos com pagamento de propina para viabilizar o esquema.

Três vereadores, que não tiveram os nomes divulgados, e um empresário estão entre os alvos dos mandados. A prefeitura afirma que não recebeu qualquer notificação a respeito da operação e reitera que nenhuma incursão foi realizada nas dependências do Poder Executivo. A Câmara também foi procurada, mas não respondeu.

O empresário Claudio Fernando de Aguiar, candidato pelo Novo à Prefeitura de Guarujá pelo Novo, é um dos alvos da operação. Ele, que tem um grupo de comunicação com 34 canais de TV e cinco rádios, diz não ter "nada a esconder".

"A gente ficou muito contente com a presença do Gaeco no município para investigar todos os contratos da Câmara. A minha é uma das empresas que tem um contrato lá. É um contrato que nós ganhamos a licitação pelo menor preço, não temos nada a esconder", afirmou Aguiar.

Ele criticou, contudo, a realização da operação às vésperas da eleição. "Uma irresponsabilidade fazer isso no período eleitoral, eu sendo candidato."