quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Estudo indica relação entre nível alto de colesterol bom e risco de demência -FSP

 Um estudo publicado recentemente pela revista científica The Lancet Regional Health - Western Pacific indica que níveis excessivamente altos do colesterol bom, o HDL, podem estar associados a maior risco de demência entre idosos.

Os pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, acompanharam por mais de seis anos um grupo de 18.688 participantes com 65 anos ou mais.

Todos foram considerados saudáveis no início do estudo, sem diagnóstico de doenças físicas ou mentais. Transcorrido o período, 850 participantes foram diagnosticados com demência (4,6%).

Nova pesquisa mostra relação entre níveis muito altos de HDL (colesterol bom) e risco aumentado de demência entre idosos. - Alexander Raths/Adobe Stock

Os cientistas observaram risco 27% maior para desenvolvimento de demência cognitiva entre aqueles que no início do acompanhamento tinham o nível de HDL muito elevado. Considerando apenas os participantes mais velhos (75 anos ou mais), o risco subiu para 42% em comparação com os que tinham o colesterol em nível ideal.

O estudo considerou como excessivamente elevados níveis de HDL acima de 80 mg/dL. Já as taxas consideradas normais e utilizadas como referência pelos pesquisadores variaram de 40 a 60 mg/dL.

De acordo com a pesquisa, o aumento do risco de demência associado a níveis elevados do colesterol bom "pareceu ser independente dos fatores de risco tradicionais de demência, incluindo nível de atividade física, ingestão de álcool, educação, diabetes ou tabagismo".

Para os pesquisadores, ainda faltam pesquisas que expliquem a relação entre entre o HDL alto e o risco aumentado para demência. Consideram, porém, que as evidências obtidas podem orientar estratégias para a identificação precoce dos indivíduos de alto risco para demência.

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Estudos anteriores sugeriam que níveis moderadamente elevados do HDL estavam associados a uma melhor função cognitiva, enquanto níveis baixos estariam relacionados a um aumento da gravidade da doença de Alzheimer.

Demência é um termo guarda-chuva usado para agrupar um conjunto de doenças que se manifestam através da perda cognitiva, ou seja, o paciente perde habilidades que dominava, comprometendo a sua autonomia e levando à dependência de terceiros. Apesar de ser muito mais comum em idosos, pode afetar indivíduos de todas as idades.

André Roncaglia -A irresponsabilidade fiscal é filha da injustiça tributária, FSP

 André Roncaglia

reforma da tributação sobre o consumo foi uma conquista de 2023. A simplificação trará ganhos de eficiência, mas mexerá pouco na regressividade da estrutura tributária brasileira: a carga tributária sobre o consumo dos 10% mais pobres deve ficar em 48%, enquanto a dos mais ricos, em 16%.

Maior progressividade requer colocar os ricos no imposto de renda. Contudo, as eleições municipais neste ano e a fadiga das reformas de 2023 adiarão o confronto para 2025. Afinal, este tema anima os mais primitivos instintos nas nossas oligarquias.

As razões aparecem no Relatório da Distribuição Pessoal da Renda e da Riqueza da População Brasileira com base nos dados do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) de 2022, organizado pela SPE-MF (Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda).

Rodrigo Pacheco mostra texto da reforma tributária; ao seu lado estão Luiz Inácio Lula da Silva e Arthur Lira
Congresso promulga reforma tributária com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Gabriela Biló /Folhapress

Metade da renda total declarada em 2022 ficou com os 10% mais ricos, enquanto a metade mais pobre dos declarantes respondeu por meros 15% da renda total. O 1% mais rico amealhou 24% da renda total. O estrato mais rico (0,1%) ficou com metade da renda do topo (e 12% da renda total declarada).

A concentração de riqueza é ainda pior. Em um país igualitário, o 1% mais rico da sociedade deteria 1% da riqueza total; no Brasil de 2022, este grupo acumulou 32,2%. A maior parte dos declarantes (90%) não tem riqueza para amortecer variações na renda. Poupar é um luxo para poucos no Brasil!

No recorte de gênero, as mulheres respondem por 40% da renda total declarada até 15 salários mínimos mensais, mas cai para 13,1% na faixa de 320 salários mínimos. A fragilidade patrimonial fica escancarada: as mulheres detêm apenas 29% da riqueza total declarada, com valor patrimonial médio 46% menor do que o dos homens.

Ao contrário dos países desenvolvidos, nosso sistema tributário aumenta as desigualdades. A maioria dos declarantes paga imposto sobre R$ 7 em cada R$ 10 de renda. Lá no topo, a situação se inverte: R$ 7 em cada R$ 10 da renda dos super-ricos (0,1% da população) são, pela lei, isentos de tributação. Isenções e deduções da base de cálculo do imposto devido reduzem a alíquota efetiva paga pelos mais ricos.

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A categoria "rendimentos isentos" revela a anatomia da injustiça tributária: 36% são lucros e dividendos —que somaram R$ 556 bilhões em 2021, segundo reportagem da Folha— enquanto doações e heranças representam 8,1% do total isento.

Quanto às deduções do base tributável, quase R$ 4 em cada R$ 10 se devem a despesas médicas no setor privado: o 1% mais rico concentrou 23% de todo o montante deduzido para esta finalidade.

Vale também destacar o crescimento da dedução por livro caixa. Trabalhadores autônomos, leiloeiros e titulares de cartórios podem descontar da base tributável os gastos com funcionários e com aluguel de sala comercial ou contas de água e luz. Aqui também os 10% mais ricos concentram 84,7% destas deduções, sugerindo o aumento do trabalho autônomo no topo e acúmulo de benefícios tributários.

Após isenções e descontos, a alíquota efetiva do IRPF em 2022 paga pelo 1% mais rico foi de 4,2%. Os ultra-ricos (0,01%) pagaram reles 1,76% sobre sua renda mensal milionária, a mesma alíquota paga pelos pobres na mediana da população declarante.

Limitar estas deduções e isenções, numa futura reforma, dará maior progressividade ao IRPF, mitigará as desigualdades de gênero e trará equilíbrio fiscal. A título de ilustração, uma alíquota uniforme de 6% sobre o R$ 1,7 trilhão de rendimentos isentos (em 2022) praticamente zeraria o déficit esperado em 2024 (R$ 100 bilhões).

Os ricos podem pagar pelo ajuste fiscal que tanto cobram do governo federal.

Como se vê, a irresponsabilidade fiscal é filha da injustiça tributária.