terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Oito projetos brasileiros de hidrogênio verde receberão subsídio alemão, EPBR

 

Na rota do hidrogênio de baixo carbono, o Brasil tem uma série de projetos de inovação para produzir o novo combustível da transição energética aproveitando características locais.
 
Realizado pela Aliança Brasil-Alemanha pelo hidrogênio verde, o programa iH2 Brasil selecionou oito projetos pilotos desenvolvidos nas universidades brasileiras para serem executados em 2023 com subsídios de até 1,2 milhão de euros.
 
A Alemanha está colocando recursos em economias emergentes que prometem ser grandes fornecedores de energia limpa para o resto do mundo. E assim se posiciona como consumidora prioritária, enquanto vai definindo os contornos desse mercado.
 
Por aqui, os selecionados para receber os subsídios tentam dar respostas a diferentes gargalos da produção e do consumo.
 
O grupo da Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, está desenvolvendo um sistema híbrido utilizando células de dessalinização, eletrólise microbiana e reforma a vapor do glicerol.
 
Traduzindo: o objetivo é desenvolver uma rota que aproveite glicerol (subproduto do biodiesel) e águas residuais para reduzir a disputa por recursos hídricos.
 
“O hidrogênio verde precisa ser uma solução de segurança energética, mas também de segurança hídrica, já que a eletrólise comum requer uma grande quantidade de água limpa. Como estamos no Ceará, precisamos pensar na escassez que eventualmente o estado vive”, explica a professora Fernanda Leite, do laboratório de hidrogênio da UFC.
 
O estado reúne uma série de acordos e estudos de viabilidade de investimentos de grandes empresas no hub de hidrogênio do Pecém.

Já na Universidade da Bahia (UFBA), os cientistas estão pesquisando novos materiais – e de baixo custo – para melhorar a eficiência do uso de biogás na produção de H2.
 
Os pesquisadores vêem como estratégica a possibilidade de combinar dois gases de efeito estufa (metano e CO2) para geração de hidrogênio verde.
 
Obtido a partir da biodigestão de resíduos, ele tem sido uma das alternativas recorrentes entre as propostas de inovação. Um dos motivos é que a reforma do gás natural é hoje a principal rota de produção do hidrogênio conhecido como cinza. 
 
Superadas algumas questões técnicas, a reforma do biogás pode produzir hidrogênio de baixo carbono, e ser considerado verde. 
 
“O biogás hoje é utilizado para geração de eletricidade, calor e pode ser feito o upgrade para obter biometano e aproveitar como combustível e injetar na rede de gás. Entretanto, o uso energético mais favorável seria fazer a reforma do biogás”, conta a professora Karen Pontes da UFBA.
 
É uma oportunidade para inserir o agro nesse novo mercado energético e descentralizar a oferta de H2, levando a produção em escala para locais com grande oferta de biomassa.
 
Outra proposta selecionada pelo iH2 vem da Universidade Federal do Paraná, e quer gerar eletricidade descentralizada com célula a combustível. O hidrogênio verde será produzido a partir do biogás rural.

A volta da política, Jorge J. Okubaro, OESP

 


A política, para alguns o símbolo de todo o mal que acomete o País, felizmente está recuperando seu papel. Ela implica a discussão sensata em busca de consensos sem os quais nenhuma ação pública, especialmente as mais importantes e em geral mais complexas e geradoras de dissensão, pode prosperar no ritmo e nas condições necessárias para amenizar os problemas da população.

Se imagens podem ser mais veementes do que palavras, veja-se a foto do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governador paulista, Tarcísio de Freitas, e o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, para decidir providências imediatas de socorro às vítimas das chuvas no litoral norte e de recuperação dos serviços afetados pelos deslizamentos. Cada uma dessas autoridades representa uma instância do poder público e pertence a um partido diferente e adversário dos demais – PT, Republicanos e PSDB, respectivamente. Mas uma necessidade muito maior do que seus interesses pessoais ou partidários as unia. Buscar soluções que interessem à população, e acima de divergências pessoais ou partidárias, como estavam fazendo esses dirigentes públicos, é fazer política. E é fazer política responsável, com a valorização do pacto federativo.

É um cenário diferente do que se observou entre 2019 e 2022. Por iniciativa do ex-presidente Jair Bolsonaro, os demais Poderes foram atacados; outras instâncias de poder foram ignoradas. Apenas interesses dos bolsonaristas mereciam atenção do governo. Embora pretendessem destruir a política, esses bolsonaristas estimularam seu fortalecimento. À violência das ações de seus grupos golpistas que, em 8 de janeiro, atacaram e invadiram edifícios que simbolizam a República, dirigentes dos Três Poderes, acompanhados de mais de 20 governadores de Estado, responderam com uma caminhada do Congresso até a sede do Supremo Tribunal Federal, num gesto que simbolizou a união em defesa do Estado Democrático de Direito. Dele já surgem frutos.

A reunião de Lula, Tarcísio e o prefeito de São Sebastião é um deles. Há dias, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que desde 1989 se apresentava como adversário inconciliável do principal líder do PT e feroz crítico de tudo o que esse partido defende, destacou a importância do diálogo com o governo Lula. Caiado disse ser importante estabelecer uma “convivência pacífica e respeitosa” entre Estados e governo federal e que governar com a participação de todos os entes federados, sejam aliados ou opositores, é “a maneira republicana de governar”.

Há evidente dependência financeira de Estados em relação à União, assim como há das prefeituras aos governos estadual e federal, o que força a aproximação de governadores com o presidente da República. Não se viu isso, porém, no governo Bolsonaro. Na pandemia, qualquer forma de cooperação com os governos estaduais foi descartada.

A desobstrução dos caminhos da política propicia a oportunidade para que os grandes problemas do País sejam discutidos e, assim, se possa encontrar meios para enfrentá-los com eficiência, ainda que muitos deles pareçam bem maiores do que a disposição geral para superá-los.

Na reunião que teve com os 27 governadores no Palácio do Planalto no dia 27 de janeiro, o presidente Lula disse que não haverá vetos aos pedidos dos Estados, cujas demandas, garantiu, serão examinadas pelo governo federal. Ao final, os governadores divulgaram documento, também assinado por Lula, no qual reafirmam seu compromisso com o Estado Democrático de Direito e garantem que “todos os nossos esforços serão orientados pela agenda do desenvolvimento para superarmos o desemprego, a inflação, a fome e a pobreza numa agenda integrada e negociada permanentemente”. Eis aí um resumo dos anseios do País.

Foi um ato nitidamente político. Esse ato dá força ao compromisso que Lula assumiu no discurso de posse que pronunciou no Congresso: “Reafirmo, para o Brasil e para o mundo, a convicção de que a política, em seu mais elevado sentido – e apesar de todas as suas limitações – é o melhor caminho para o diálogo entre interesses divergentes, para a construção pacífica de consensos. Negar a política, desvalorizá-la e criminalizá-la é o caminho das tiranias”.

A valorização da política, a busca da reconciliação num país ainda nitidamente dividido, a promessa de que governará para todos os brasileiros o ajudam. A coragem de rever programas sociais de grande alcance, como o Bolsa Família, para restabelecer sua eficiência e seus verdadeiros objetivos, ainda que isso implique afastar mais de 1,5 milhão de pessoas dos benefícios hoje pagos irregularmente, lhe dá credibilidade. Mas ele ainda faz discursos voltados exclusivamente para a base petista e que parecem estimular-lhe uma espécie de volta às origens operárias, mas podem enfraquecê-lo em diferentes segmentos da sociedade e ameaçar o êxito de seu governo. O País ainda aguarda seus planos e suas propostas para a retomada do desenvolvimento.

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JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME)

Paul Krugman: Como teorias da conspiração crescem e saem dos trilhos, OESP

 Em 3 de fevereiro, um trem que transportava materiais perigosos descarrilou em East Palestine, Ohio. Alguns dos conteúdos pegaram fogo imediatamente. Três dias depois, as autoridades queimaram material adicional de cinco vagões-tanque. Esses incêndios causaram níveis elevados de produtos químicos nocivos no ar, embora a Agência de Proteção Ambiental diga que a poluição não foi grave o suficiente para causar danos à saúde a longo prazo.

Os descarrilamentos de trem são bastante comuns, mas isso também virou uma questão política. Afinal, o governo Obama tentou melhorar a segurança ferroviária, exigindo freios modernos superiores em trens de alto risco. Em seguida, o governo Trump reverteu esses regulamentos. Por acaso, tais regulamentos provavelmente não teriam impedido o descarrilamento de Ohio, porque eram muito específicos para valer para esse trem em particular. Ainda assim, os eventos em Ohio poderiam favorecer o argumento progressista de mais regulamentação da indústria, e prejudicar o caso conservador contra a regulamentação.

Em vez disso, no entanto, a direita está no ataque, alegando que a culpa pelo desastre em Ohio repousa sobre o governo Biden, que não se importaria com os brancos - ou, pior ainda, seria ativamente hostil aos brancos.

Descarrilamento de trem assustou população de East Palestine com despejamento de lixo tóxico.
Descarrilamento de trem assustou população de East Palestine com despejamento de lixo tóxico. Foto: Gene J. Puskar/AP

Isso é vil. Também é incrível. Até onde eu sei, os comentaristas da direita acabaram de inventar uma nova classe de teoria da conspiração, que nem tenta explicar como a suposta conspiração deve funcionar.

As teorias da conspiração geralmente vêm de duas formas: aquelas que envolvem uma cabala pequena e poderosa, e aquelas que exigem que milhares de pessoas estejam conspirando para esconder a verdade.

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Historicamente, as teorias sobre cabalas poderosas têm sido frequentemente ligadas ao antissemitismo, com a crença de que os sábios do Sião e/ou os Rothschilds estavam moldando a história - uma visão promovida por algumas pessoas realmente poderosas, incluindo Henry Ford. Hoje em dia, no entanto, o exemplo mais proeminente é o Qanon, com a alegação de que uma união secreta de pedófilos controla o governo dos EUA. E, neste momento, é claro, os adeptos de Qanon têm poder significativo entre os republicanos na Câmara.

O problema das teorias da conspiração é que, embora geralmente sejam absurdas, elas são difíceis de refutar definitivamente. O presidente Biden é realmente um lagarto alienígena que muda de forma? O médico da Casa Branca dirá que não, mas como você sabe que ele não é um lagarto também?

O outro tipo de teoria da conspiração, ao contrário, parece ser fácil de refutar, porque milhares de pessoas teriam que participar da trama, sem que uma única se rebelasse. Um excelente exemplo, ainda altamente influente na direita, é a afirmação de que a mudança climática é uma farsa. Para acreditar nisso, você precisa alegar que milhares de cientistas estão conspirando para falsificar as evidências. Isso não impediu a crença de que a mudança climática é mentira fosse generalizada, talvez até dominante, na direita dos EUA.

A Grande Mentira sobre a eleição “roubada” de 2020 parece cair na mesma categoria, exigindo prevaricação por funcionários eleitorais em todo o país. No entanto, pesquisas mostram que a grande maioria dos republicanos diz não acreditar que Biden realmente venceu a eleição.

E há uma nova teoria da conspiração: a alegação de que a guerra na Ucrânia não está realmente acontecendo, que é algum tipo de farsa. Quem poderia acreditar que todas as reportagens, todas as filmagens são inventadas? Bem, o primeiro conselheiro de segurança nacional de Donald Trump aparentemente agora é um verdadeiro defensor dessa teoria, e não ficarei surpreso se começarmos a ouvir isso de muitas pessoas da direita.

Mas a teoria da conspiração sobre o descarrilamento de Ohio leva isso a um nível totalmente diferente. Quando Tucker Carlson sugere que isso aconteceu porque a East Palestine é uma comunidade rural branca, com outro apresentador da Fox News chegando a dizer que o governo Biden está “derramando produtos químicos tóxicos em brancos pobres”, como isso deveria ter funcionado? Como os funcionários de Biden arquitetaram um descarrilamento de uma empresa ferroviária do setor privado, operando em trilhos de propriedade privada, que fez lobby contra regulamentos de segurança mais rígidos?

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Manifestantes protestam com cartaz com a foto de Tucker Carlson em frente ao prédio da Fox News.
Manifestantes protestam com cartaz com a foto de Tucker Carlson em frente ao prédio da Fox News. Foto: Drew Angerer/ Getty Images North America/ AFP - 13/03/2019

O governo também não economizou na ajuda a desastres. Várias agências federais chegaram rapidamente ao local, e o governador republicano de Ohio disse sobre a resposta federal: “Não tenho reclamações ... estamos recebendo a ajuda de que precisamos”.

Mas não importa. Algo ruim aconteceu com os brancos conservadores, então certamente os progressistas radicais ‘woke’ devem ter sido os responsáveis.

Dado o que aprendemos sobre como a Fox lidou com as alegações de uma eleição roubada - alimentando a teoria da Grande Mentira em público enquanto zombava dela em particular - é uma boa aposta que a rede e outros comentaristas de direita sabem perfeitamente bem que suas acusações sobre o descarrilamento são lixo. Mas eles conhecem seu público e provavelmente acreditam que é um bom negócio propor teorias de conspiração racistas, mesmo que não façam sentido lógico.

Claro, não adianta apelar para direita mais responsável e moderada. Mas deixe-me fazer um apelo à grande mídia: por favor, não reporte isso como se houvesse alguma controvérsia real sobre quem é o responsável pelo desastre em East Palestine.